quinta-feira, 11 de agosto de 2011

POESIA: ENTRE O CIO DO LUAR E A UTOPIA DO ALVORECER...

                                  LUAR E SERESTA
                                                 Jorge bichuetti

Relampejou na pele; coisas do coração:
olhares que brilham, desejos saltimbancos...
A vida nas entranhas do cio enluarado
não é u'a linha da razão; é seresta, poesia...
magia do infinito que semeia na relva germes do amar...

Loucura... a geometria no reverso das formas,
matemática no avesso das quimeras da álgebra...
Um faíscar demente numa lucidez transcendente.

Assim, é o amor: um encanto do luar,
a vida escrita na pele... entre arrepios e susssurros,
um verso... no verso, um terço do universo na mão.

Entre o ninho e o voo do passarinho, o cio
da vida que entrelaça corpos e flores,
como se o amor nada mais fora do que
um ramalhete da imensidão,
salpicado de estrelas  numa cantiga chorada,
e deixado na noite, ali, na eternidade
de uma janela, na janela da ternura,
num tempo onde  nossa casa é o nosso próprio coração...













                                      ORAÇÃO DE UM PLEBEU
                                                                  Jorge Bichuetti

Cansado e velho, já com as dores do tempo;
escuto entre o sibilar do vento e as vozes roucas
da madrugada, um canto... uma delirante oração:
entre aves e marias, na rua... uma capela toca
o hino dos desesperados, o grito da agonia e
a trizteza errante dos que vão na dor da desvalia...

Na praça, um corpo já gelado pela overdose,
exclama mudo e roga tardio a alegria que nunca viu
nas jardins dourados da vida cinzenta
que já não canta, nem sonha... e o jogou ali, nu,
no abismo das ilusões... quando ele só desejava
os voos encantados da deusa esperança...

Logo adiante, outro corpo... travestido de valentia,
pula o muro e cai no escuro... vive sua romaria no
vegetar alucinado do assalto armado no asfalto cru
que não lhe permitiu ser criança e só brincar num
rodopiar pelos ares, no cavalgar da coragem que a
Deus pedia um espaço para esquecer as dores do
próprio corpo corroído de medo e timidez... só,
só queria ser... viver... na ousadia de sem asas voar...

Agora, alguns passos além, num rústico beco,
vozes se misturam numa ladainha de meninos:
oram, pensando-se exilidos do amor maior e
aos céus imploram a ternura negada pelos que 
das contas de um rosário nunca lhes doaram um
carinho, um olhar de misericórdia... um amém....

Oh! Deus ensina-nos a ver no corpo maltrapilho
dos caídos na rua  entre a navalha e a morte os
que querem o Céu na Terra; enquando, negando-te
buscamos no Ceu a Terra por nós desterrada, dor
que alimentamos no ver-te nos diversos altares,
evitando contigo estar, caminhando nos espinhos do chão...


                              NOSSA MÃO
                                            Jorge Bichuetti

Uma lágrima escorre na sarjeta...
Donde veio?... pra onde irá?...
Ó  mundo que desconheço,
mundo retratado nos livros,
que nunca me mostram as vidas,
as vidas retalhadas do mundo; vidas
que vem e vão... nas travessuras dos
que procuram no palheiro u'a mão,
a mão de Deus... Nem eles, nem nós,
sabemos que Deus os procuram
com as mãos que escondemos inertes
no bolso do terno... ou no vão bailado
das ilusões do fiar moedas de ouro,
quando o mundo agoniza esperando
mãos que se confundam co'a ternura,
com a ternura de u'a flor, ternura viva
de Deus... Deus, que com as mães, é,
também, a lágrima dos adeuses...

2 comentários:

Psicóloga disse...

Seus textos são profundos e leves de se ler ao mesmo tempo

Parabéns pelo blog!!!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Amiga, o blog tem sido um cantinho de voos e paz, lutas e sonhos... Abs ternos, jorge