quinta-feira, 11 de agosto de 2011

DIÁRIO DE BORDO: NOSSA ESPERANÇA EQUILIBRISTA...

                                           Jorge Bichuetti

Os sinos tocam... Talvez, um dia, descubra que ninguém é autor; escrevemos, con-vivemos e criamos no entre... Escrevo, novamente, no entre... Entre sinos, álamos, o limoeiro, a roseira e o orvalho... E minha companheirinha, cheia de fortaleza, onde como todo pai, gostaria de encontrar submissão... Penso; não é verdade: ela é bela na sua teimosia radical e insurgente... Aliás, não caminho, nem trabalho... não penso, nem luto... não escrevo e falo, nem sonho por valores que já tenha em mim. Quem age teimosa e insurgente é a esperança, esta esperança equilibrista . Levanto às quatro, porque a esperança teima e sonhando quer dizer um canto, um en-canto que possa secar u'a lágrima, germinar risos... e semear o seu sonho. A esperança sonha com a vida de amor e paz, compaixão e solidariedade...
Entre risos, ela canta alto e chama todos para que pensem na alegria geral...
Entre lágrimas, ela canta e clama por uma mão, ainda que seja só uma mão, mas deseja que se erga nos becos de dor da vida a bênção do acolhimento...
A esperança é u'a criança travessa e terna; peralta e cheia de coragem... Ela é Rosa: é Guimarães Rosa,; é o Rosa da Mangueira... Rosa de Luxemburgo... e é cada rosa das muitas rosas de maio e das rosas das nossas primaveras. Floresce... no sereno, associa-se aos voos dos passarinhos e na amplidão do infinito a esperança busca os sonhos que moram no azul do imensidão... Se acasalam e procriam: nascem deles o novo - o ato de compaixão, os projetos de solidariedade...
O mundo anda frágil, vulnerável... padece, sofre... persiste violento e excludente, mundo de desumanidade... É que não cuidamos da esperança, e é ela deusa e guerreira precisa ser cultivada, alimentada, adulbada, regada, cuidada: a esperança é criança... e a vida é uma bailarina que canta e dança na corda-bamba da esperança.
Se não cultivamos a esperança a vida fenece, adultera-se avilta-se...
A esperança é fonte de serenidade e paz, de coragem e ousadia... É acalanto que nos ajuda no calvário das lágrimas do hoje; é profetiza que nos auxilia a buscar as alegrias do amanhã.
Estimula no agora a nossa capacidade de resistência; ativa e atiça a nossa potência de alvorecer... De parir o amanhã nas agruras do presente, de fazer emergir a humanidade indignada que ouse pensar em justiça e paz...
Com a esperança, a vida floresce, alvorece... ela é parideira...
Precisamos ser ativos na opção da vida que desejamos e sonhamos... Precisamos re-nascer, todo dia, paridos pela esperança; e, igualmente, precisamos aprender a parir esperança... no outro, no mundo.
A história da humanidade é ousadia e coragem que alegres atrevem e buscam o alvorecer... Porém, ousadia e coragem criativa e inovadora são filhas da esperança acasalada com os sonhos...
Muitas vezes, dizemos: ando sem esperança... E falamos como se ela houvesse se ausentado do caminho... Ela é andarilha, peregrina... Nos desconectamos dela por apatia e acomodação...
E para senti-la, recordamos aqui... o Subcomandante Insurgente Marcos. Chamado a refletir sobre a velocidade do sonho... Respondeu: " A velocidade do sonho não sei... No meio da selva, com meu povo sofrido não sei se consigo algo dizer sobre a velocidade do sonho. Aqui, entre crianças desnutridas, velhos frágeis e cansados, perseguidos, não sei... não sei a velocidade do sonho. Mas, a velocidade do pesadelo esta eu sei... A velocidade do pesadelo é mesmo tempo que se gasta para abaixar os olhos, cruzar os braços, se acomodar, se acovardar..." E depois de falar das lutas nas selvas maias, acrescenta: "Talvez, a velocidade do sonho seja a mesma velocidade com que em meus sonhos, deitado nas coxas da mulher amada, lhe desenho nos pés palavras de eterno amor."


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