Jorge Bichuetti
Sobre nós, um relógio
quebrado... longe do tempo e da
vida ausente... Nós, ali, num eterno agora:
não tinhamos a paixão da mjuventude;
nem os conflitos do rotina e dos descaminhos...
Silenciosos, olhos cabisbaixos... Chão sujo,
teto roto... e nós ali, esperávamos a hora do
adeus... E no relógio quebrado, a vida parada:
- nem mesmo o som de um velho bolero...
Nem tristes nem alegres: estáticos... esperávamos,
a morte na quietude moribunda do relógio quebrado...
AQUELE OLHAR...
Jorge Bichuetti
Nenhuma palavra. Mudez e errância mental;
meus olhos inquietos caçavam os teus nos labirintos dos dias esquecidos...
Nenhum sinal. Surdez e sonolência visceral,
meus olhos alucinados desenhavam a vida com rabiscos de criança,
já esquecido de que um dia havíamos sido o amor
nos floreios poéticos do sonho primaveril
que se perdeu nos baús dos guardados,
da vida que já não era o fogo daquele olhar...
Aquele olhar se foi... E sentado, louco e perdido,
já não sabia se o que ficou era a morte num incinerado de ilusões;
ou se havíamos partidos na chama do nosso último e já esquecido olhar...PERGUNTA TARDIA...
Jorge Bichuetti
Perambulo pela casa
e entre móveis empoeirados,
rasgo nossas fotografias...
Te vejo, calado e alheio, no sofá.
Os ruídos da Tv, no chão, as folhas dos jornais...
Vejo teu corpo: não tua alma, não teu olhar...
E com a coragem tardia de quem já quis
o amor e a vida nos folguedos do luar,
no desalento, tão somente, te pergunto:
- por que ficaste, se nunca estás?...
Escuto no silêncio... a voz do vazio
que barulhenta me acorda e decidida
saio pelas ruas ... Na esperança de uma última valsa,
arritímico, busco algum rodopio, antes do grande final...
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