quarta-feira, 3 de agosto de 2011

POESIA: RUMINAÇÕES DA ENCRUZILHADA

                                            O RELÓGIO QUEBRADO
                                                                         Jorge Bichuetti

Sobre nós, um relógio
quebrado...  longe do tempo e da
vida ausente... Nós, ali, num eterno agora:
não tinhamos a paixão da mjuventude;
nem os conflitos do rotina e dos descaminhos...

Silenciosos, olhos cabisbaixos... Chão sujo,
teto roto... e nós ali, esperávamos a hora do
adeus... E no relógio quebrado, a vida parada:
- nem mesmo o som de um velho bolero...

Nem tristes nem alegres: estáticos... esperávamos,
a morte na quietude moribunda do relógio quebrado...

E nem víamos que o tempo já havia voado...


                                            AQUELE OLHAR...
                                                             Jorge Bichuetti

Nenhuma palavra. Mudez e errância mental;
meus olhos inquietos caçavam os teus nos labirintos dos dias esquecidos...

Nenhum sinal. Surdez e sonolência visceral,
meus olhos alucinados desenhavam a vida com rabiscos de criança,
já esquecido de que um dia havíamos sido o amor
nos floreios poéticos  do sonho primaveril
que se perdeu nos baús dos guardados,
da vida que já não era o fogo daquele olhar...

Aquele olhar se foi... E sentado, louco e perdido,
já não sabia se o que ficou era a morte num incinerado de ilusões;
ou se havíamos partidos na chama do nosso último e já esquecido olhar...


                                              PERGUNTA TARDIA...
                                                                 Jorge Bichuetti

Perambulo pela casa
e entre móveis empoeirados,
rasgo nossas fotografias...

Te vejo, calado e alheio, no sofá.
Os ruídos da Tv, no chão, as folhas dos jornais...

Vejo teu corpo: não tua alma, não teu olhar...

E com a coragem tardia de quem já quis 
o amor e a vida nos folguedos do luar,
no desalento, tão somente, te pergunto:
- por que ficaste, se nunca estás?...

Escuto no silêncio... a voz do vazio
que barulhenta me acorda e decidida
saio pelas ruas ... Na esperança de uma última valsa,
arritímico, busco algum rodopio, antes do grande final...

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