Amanheci nos braços da Lua... Minha Luinha dormia. Talvez, sonhasse... com anjos e cirandas, jogos do caminho. Ali, vi a estrelad'alva: guardiã da aurora; amiga dos boêmios... Vela acesa nos becos do infinito.
Na roseira podada, alucinei as rosas que virão... No silêncio do orvalho, escutei o canto das manhãs: esperança remoçada na tresloucada teimosia de sempre recomeçar...
Era tanta ternura que cheguei a pensar que a nossa mãe natureza, mesmo ferida, é mãe carinhosa que nos acalenta com versos singelos tecidos no piar solfejado dos passarinhos...
Alto, gritava a vida na sua oração de esperança e paz...
Asserenei-me e quase dormi... sentado entre os altivos álamos que guerreiros anunciam as lutas que a vida clama para que a aurora seja o porvir concretizado da solidariedade florida da vida parideira de alegria e amor.
Aqui, estou... Cigarro e café; canções da minha Mangueira, saudades e miragens: já vejo o mundo com suas bolsas de valores enlouquecido pelo capital afetivo...
O fim da mais-valia... o fim do fetichismo das mercadorias... o fim dos vinténs...
Um novo mundo; nova primavera...
As crianças com suas pipas, roçando alegres a maciez da epiderme dos deuses...
Os amantes de mãos dadas... na chuva, na lua, nos becos da paixão... nos voos cósmicos dos orgásticos encontros do amor no pleonasmo do carinho que se multiplica quando dar-se, transforma-se numa canônica oração...
Meus passarinhos cantam... Não são meus... porém, os tenho aninhados no meu coração...
Viver é rebelar-se... urge mudar o estatuto das coisas: fazer da realidade peças da ilusão que empoeirada enfeitam os museus... e fazer da poesia a realidade vivida e sentida nos passos do caminho...
Estarei louco?... Ou será a loucura a estrela do amanhã?...
Não me creio louco, mas prefiro ser metamorfoseante; um desajustado indignado diante das mazelas que ferem e torturam a alma e a vida do meu povo...
Muitos vivem sorridentes; cheios de si....
Não choram as árvores assassinadas nas nascentes...
Não sangram com os hematomas das mulheres vítimas de violência...
Não vomitam de horror com a dor do povo da rua...
Não gemem com a morte acorrentando jovens e velhos, negros e gays...
Não se sentem cúmplices da ânsia da vida que se vê negada diuturnamente...
Eu não posso... O mundo de injustiça e exclusão fere e mortifica meu corpo, meu coração...
Mas, contudo, sou otimista... Espero a humanidade acordar da sua irresponsável letargia...
Espero que a vida desperte nossa humanidade pervertida no individualismo banal...
Espero o tempo da delicadeza... O novo mundo de ternura e compaixão, de cidadania e solidariedade...
Este, bruto e vazio, eu não quero... Porém, não desisto... Sonho, luto...
Um dia, o sol nascerá... As trombetas tocarão... Tambores e flautins anunciarão o fim da vida fétida de agonia e solidão...
Aí, então, cantaremos unidos; dançaremos...
Já não teremos vergonha ou medo de amar e de reescrever nos muros do caminho as palavras proféticas que enternecem os deuses e os meninos; escreveremos com os dedos nos livros, nas casas, nos papiros do poder... é proibido proibir... a vida é vida de todos... o sonho não acabou... reinventamos o socialismo.
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