PARA MINHA
IRMÃ ADRIANA
Paulo Cecílio
permanecerei,
mas so uma coisa nao farei:
deixar de crer que ao fim deste deserto
irei encontrar-te meu amor luz da minha vida .
o filme se chamava "RETRATOS DA VIDA", e voce me arrastou para ve-lo e sair todo arrepiado girando ao som de Ravel naquela pracinha empoirada de goiania..
tá Adriana,
minha querida:fiquei
ao ver-te partir
soube que recebera
a inacreditável sentença de permanecer .
aceito isto ate porque outros anjos
voam nas madrugadas de desespero
dançando teu perfume que me faz tremer
permaneço.
faço em teu nome.
farias tambem,
mas quem maninha
vai me fazer um dia
café preto de colher e meia?
haverei de sobreviver
sem tuas bonecas velhas
teu fogaozinho de barro
haverei de dormir um dia
sabendo que acordarei
novamente sem voce.
haverei de pagar
todas promessas
que prometemos juntos
sonhando sob a sombra sob o sol.
haverei de passar
meu café solitário
ate que caia
o ultimo pó
a ultima colher.
farei isto em memoria de nós.
haverei de permanecer
ainda sem saber nunca
por onde são meus caminhos
sem ti... sem teus passos
meus passos meus dias
sem tua alva risada travessa
que todo dia cava em mim
um palmo mais de fundura
num buraco que nao termina.
haverei de ouvir ravel
ate a ultima nota
sem soltar um ai sequer.
sem um suspiro que contamine
o perfume que me deixaste de partida.
mas so uma coisa nao farei:
deixar de crer que ao fim deste deserto
irei encontrar-te meu amor luz da minha vida .
entao
vou gritar com voce
vou exigir que me explique
como me deixaste sem dizer adeus.
como deixaste em minhas maos
as tuas ja partidas
pra que eu menino tomasse conta.
sei que deveria agradecer
a tua eleição a mim mas nao consigo
nao sou do tamanho que pensaste maninha
porque estava com os pes sobre teus ombros,
é que pude roubar a fruta do vizinho pra dividir contigo...
perdão
mas como esquecer
as surras que dividistes comigo?
entenderei um dia
quando vier
o tempo da delicadeza
teu gesto de partir sorrindo
sem nada me dizer
sem me deixar um pouco
do teu ar do teu folego.
entenderei.
aprendi a esperar com voce.
entao quando vem a vida
arrancando pedaços de mim
recolho cacos de joelhos
e oro a ti
que carne foi de mim.
fico aqui lembrando
teus dentinhos brancos
os mostravas a mim na mesinha de café
com que me aguardavam teus olhinhos brilhantes
teu sorriso
foi com teu sorriso
que fostes em silencio em silencio!
entao choramos por Ravel
oramos
pelos retratos da vida
pelas flores laranjas
de tua casinha no jardim america
entao brincamos celebramos outros choros
que vinham de tanto rir.
ah! como rimos,maninha...
como rimos tendo deus
por maestro fantástico.
mudo refaço o caminho
onde pagamos promessas
pro nosso velho ficar bom.
tinhamos os pés em bolhas
e o coração leve
carregavamos um ao outro.
então
desculpe maninha
mas tua suavidade
como descrevê-la
como desenhar tua ternura
se levastes as folhas de papel em branco
com todos projetos que fazíamos sem compromisso ?
ah! maninha maninha!
porque tenho que esperar tanto
antes que finalmente possa de novo
te apertar ao meu peito, e brincar de brincar
nos verdes campos dos olhos que nunca me fecham?
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