1. Diabolizar o usuário de crack e reprimi-lo é uma postura desumanizada e desumanizante; anti-terapêutica e estigmatizante. Uma violência aos direitos humanos e ao direito à diferença... è uma postura fascista, manicomial e inibidora dos projetos de cuidado.
2. O cuidado na dependência química deve respeitar algumas contribuições que já permite ver no horizonte clareiras libertárias:
- Ninguém suporta a normalidade ( Frei Betto );
- Só se combate a problemática da drogadição, sendo mais sedutor do que o universo das drogas ( Rotelli );
- As ditas drogas são amplificadores do nível de consciência e propiciam experimentações vitais; contudo, por n fatores, passam a funcionar como um buraco negro - vida esvaziada de sentidos e compulsão onde se existe em função da próxima dose ( Rotelli e Deleuze );
- O desejo na contemporaneidade se reterritorializou; abandonou o campo das representações e da memória e se concentra nas percepções e micropercepções ( Deleuze );
- Para se libertar deste jogo de dependência e autodestrutividade, é necessário que o usuário se apaixone por uma causa - política, artística, amorosa, espiritual, existencial... um projeto de vida ( Frei Betto);
- Urge construir planos de vida onde as intensidades vividas no uso, possam gerar caminhos existenciais( Deleuze)...
3. O crack é clinica de acolhimento e inclusão; de singularidade e devir...
Fazemos, muitas vezes, um projeto de cuidado fadado ao insucesso: são normativas e repressivas, com atividades cinzentas, desvinculadas do mundo sociocultural da juventude, com sisudez e alegria anêmica e fugaz...
Urge aceitar alguns elementos que compõe a subjetividade dos jovens e dos que se aventuram no universo das drogas, e usá-las na sua potência de emancipação:
- coletivismo tribalista;
- arte insurgente;
- desejo de autogestão;
- rebeldias indignadas;
- criticidade ativa;
- criatividade e alegria;
- companheirismo e solidariedade...
Assim, é clinica do amor... da liberdade... dos sonhos e da poética de reinvenção da vida e do socius...
Senão, simplesmente, repetimos o mundo e os caminhos já negados...
Eis uma clínica da ternura e da compaixão, da partilha e da libertação...
Não é... não pode ser... canibalismo educado da morte civil...
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