Jorge Bichuetti
Obstinado quis voar,
entre estrelas riscar no azul
a palavra mágica do carinho maior
escrita com as garatujas do coração de um menino...
Desejei sonhar e tecer
no horizonte um criptograma,
todo esculturado pelas rosas miúdas
que anônimas perfumam
os caminhos desertos dos guerreiros
na ousadia de desbravar novos alvoreceres...
No entanto, não voei... sonhei
entre a aridez do chão ressecado
da nossa crua e triste realidade...
No chão, somente pude gritar:
- piedade!... Santa Vida, cuida
das lágrimas que jorram das incontáveis feridas!...
Assim, vi o mundo e suas mazelas...
Indignado, também, chorei...
Contudo, como se tivesse um corpo alado
adormeci na roda dos deuses compassivos
que longe dos altares, vivem, sonhando
entre a teia dos sonhos e a poesia grávida,
oração cósmica do novo insurgente,
a avidez da Vida que teimosa tenta nascer
na aurora da mudança,
parto floral de u'a nova realidade...
SONHOS
Jorge Bichuetti
Miro a vida e nos vejo
fogueira de vaidades e
solidão de folha seca no vento...
Cheiro a vida e nos percebo
vendavais sanguinolentos e
corpo dado aos escaninhos do mercado...
Assim, não vendo rastros do além-do-homem
na poeira tresloucada da nossa vil realidade, voo
para encontrá-lo na poética arte de sonhar...
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