quarta-feira, 10 de março de 2010

POESIAS: CLARÕES MATINAIS

                                                            SAUDADES DO CAMPO

                                                                                  JORGE BICHUETTI


De novo, o olhar inquieto; mãos trêmulas, coração palpitante...
O mundo gira; homens formigam no centro da cidade...
De novo, enfrento o desafio inclemente do tempo
que orquestra a vida, pautando os seus momentos.
Hora de decisão...
A cidade dança robotizada, o campo sonha perfumado...
Num, a labuta... Noutro, a meditação...
Volto... e deixo distante o campo e suas emoções...
Talvez, viver, este urbano viver,
fosse mais fácil, se do campo comigo viesse
a força do alazão,
o canto da cigarra,
a liberdade dos pardais
e o cheiro forte de terra molhada,
docemente orvalhada de pulsões naturais...
Talvez? Sim, talvez...
Pois, o cheiro da fumaça, da gasolina e das lixeiras,
dominam-me, anestesiando,
num torpor inebriante de tédio e solidão.


SERENO DA MADRUGADA
                                   Jorge Bichuetti

O sereno da noite não quieta este fogo
da alma
da vida
da vila...
Esfogueados, tudo é ardor.
Queimam-se os olhos
que procuram outros
olhos ardentes;
queima-se o peito
que salteia e deseja
aninhar-se num outro
peito de amar
e queima-se o ventre
que, celeiro de sementes,
deseja germinar
e criar um fruto...
Um fruto
ou um árvore...
O riso
de um dia
ou a alegria
duradoura
nos confins da eternidade.

Assim, é a noite,
um sereno... inquieto
à espera
do orvalho, da serenidade
de um suave alvorecer.


DEVIR ANIMAL

                                                                           JORGE BICHUETTI

O rosnado do gato incendiou no telhado
a magia do luar. Efeito efervescente
do amor, este ressoar de um eco demente,
faz o homem lembrar de querer-se amado...

Guardas no coração, ó, um bichano aninhado
e solene ele arde e espera indolente;
soletra uma canção num discurso miado.
Não chora, nem contém-se, ali, cioso sente...

O homem racional nega-se apetitoso,
sendo a velhice do corpo de um pobre moço,
não permite ser pura sensualidade.

Quem me dera amar, num devir animal,
tecendo no roçar: encontro germinal;
e no abrasar-me ser pleno de liberdade.


O VELHO PESCADOR

                                                                                jorge bichuetti

O velho pescador jogava no rio o anzol.
Dele nos vinha o pão de cada, todo dia.
Assobiando canções, orava: Ave, Maria...
E o seu olhar nos era um campestre lençol,

descortinando o céu, remanso de alegria,
do sono calmo, pleno e rico. Um arrebol
coloria, dando à vida excelsa harmonia.
Éramos no seu peito o ouro do paiol!...

Meu pai viveu pescando esperanças e encantos.
com seus passos, legou-nos norte, bons caminhos;
com suas lições livrou-nos dos vales de espinhos...

E, assim, o tempo não quis secar nossos prantos;
já que agora u’a foto expõe consciente à luz
da memória, a saudade envolta numa cruz.



                     GARIMPO
                                jorge bichuetti
O barro das olarias e as pepitas do riacho
confeitaram tua vida.
A cana, a soja...sobre as pastagens,
vieram com o tempo,
com o tempo, também,, chegaram
a tv, o neon e a cocaína.
Alegrias e tristezas
e um fardo de dificuldades.

Esquecemos a paz de se ir ao céu,
ajoelhando-se aos pés
da Virgem Conceição
num coro de Ave-Maria.
e esquecemo-nos do céu que pacificava
os corações enamorados
que orbitavam no cosmos
ao circularem a praça,
em êxtase, de mãos dadas...

Hoje, urge de novo garimpar
e, no fogão-de-lenha, labutar,
esculpindo-te nova Conceição,
com o ouro da tua velha simplicidade...




Um comentário:

Josiane Souza disse...

ONDA DE AZAR

SINTO-ME PRESA NO TRONCO DA VIDA
SENDO CHICOTEADA PELA AMARGURA DOS DIAS CINZENTOS,
O SANGUE QUE DOS MEUS POROS ESCORREM
SERVEM-ME JÁ DE ÁGUA PARA SACIAR A SEDE
ONDE ESTÁ O OURO PROMETIDO?
EU SEI, ELE JÁ ESTÁ COMPROMETIDO.
SOBROU PARA MIM O VÁCUO DA LUMINESCÊNCIA
O BURACO NA CONSCIÊNCIA
TENHO MEDO: DEMÊNCIA!

O RELÓGIO ESTÁ PARADO
DUVIDO DA EXISTÊNCIA DE DEUS
E SINTO SEU PESO SOBRE MIM
COMO UMA TROUXA INVISÍVEL
VIAJANDO PELA VIDA EM MEUS OMBROS.
VOMITO O CHORO ENGOLIDO
NA ESPERANÇA ENVOLVIDO
DE UM DIA PODER ACERTAR...
QUANDO O ARCO SUA FLECHA ACEITAR.

SINTO SÓ E SÓ!