Jorge Bichuetti
Não aprendemos todavia que a vida é uma turbulência permanente, ela é efervescência, pulsação vitalizante e saltos de ruptura e invenções do novo e da mudança... Ela se dá, acontece, caminha... permeada de crises... Movimenta-se no torvelinho das crises e se renova nos redemoinhos das crises... Não há vida sem crises... A ausência de crises revela estagnação, apatia mórbida, acomodação parasitária e morte civil...
A crise é insurgente, instituinte, inovadora... Dela emergem o novo e o inédito viável, a utopia concretizada e a atualização do devir...
Somos seres do devir... Somos movimento... E a vida é movimento e devir...
Contudo, o mundo como se encontra instituído odeia a rebeldia insurgente e revolucionária das crises... Na sociologia, é desclassificada como uma anomalia, anomia... Na medicina, é patologizada como desvio, transtorna, doença...
Entretanto, a crise só cronifica-se como uma negatividade inscrutado no corpo individual e social, quando se abortam sua potencia inovadora e a capturam com forças normatizados e restritivas, que mortificam o corpo e a sociedade numa paralisia com elementos de morte que vigiam, controlam, danificam os emergentes da vida nova que estão pulsantes e sedutores numa crise.
Temos, assim, as crises... Preferimos a paz do pântano com suas águas pestilentas na quietude da proliferação repetitiva dos fluxos mortíferos...
Vida é água que corre e corre nas correntezas que são nossas crises... Ali, ela renova-se, ganha força, contorna obstáculos, se refaz... Se reinventa e se energiza...
A crise é um analisador... Um analisador que desvela a verdade esfumaçada da falência da vida como estava sendo vivida e do mundo como este acontecia...
Por isso, ela clama por mudanças... impõe mudanças... exige mudanças...
Se fugimos, se negamos, se fechamos os olhos, os ouvidos e os poros da própria pele, ela se mantém força rebelada, porém, vulnerável, e é aprisionada pelos que e pelo que evita no sistema, na realidade e na própria o novo, a mudança, um novo horizonte , um alvorecer de novas alegrias...
Vida - é "rizoma, fluxo subterrâneo, linhas de fuga"... que emergem num processo de crise..
E é isto que leva Leonardo Boff afirmar: " A crise representa purificação e oportunidade de crescimento"...
Ela tira a vida da morte que é mormaço, sonolência, preguiça existencial...
A crise é passarinheira, anuncia a aurora...
Nas suas entranhas, vivem as subjetivações libertárias e os devires inovadores, potências do porvir, plenitude do alvorecer...
Cuidar não, então, retomar a mesmice falida; e acolher, maternar, secar lágrimas, abraçar solidariamente para que com a forças de nossas mãos unidas possamos voar sobre o abismo e alcançar o novo, um novo jeito de viver e existir; o novo, uma nova sociabilidade um novo mundo possível...
Há na crise uma denúncia e uma profecia... Uma vida e um mundo, moribundos... E uma vida e um mundo, cheios de vida e de vida nova, querendo vir à tona, emergir, ganhar um lugar na estrada...
Crise é vida... E "a vida acontece em partos de dor"...
Assim, nos ensinou o velho passarinheiro Nietzsche no seu livro Humano Demasiado Humano...
A crise, para Nietzsche é um chamado para o "grande livramento"... É caminho... caminho de libertação...
DIA 22 DE ABRIL: DIA DA TERRA... ARTE, LUTA E SONHOS PELA VIDA NO TEU...
quarta-feira, 13 de abril de 2011
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8 comentários:
Êta texto bem bão! Adorei!
"A ausência de crises revela estagnação, apatia mórbida, acomodação parasitária e morte civil..."
Deixemos as crises remar pelos rios da vida mesmo que enfrentem vez por outra um jacaré!
beijos
Anne
Anne,as crises machucam; porém, elas nos revelam a vida: o que foi e que virá; Abraços com carinho; Jorge
Amigo...nossa amizade é mesmo uma linda sinfonia em harmonia...hoje mesmo eu estava relendo o maravilhoso capítulo Terapia de Crise do Pichón e pensando sobre os presentes que estão por vir. Fui beber um suco e na caixa vinha o escrito: "Agite antes de beber", e não é que ficou mais gostoso! penso que a crise nos faz isso, ou nos fazemos isso com a crise, agitamos nossos ingredientes que vão se misturando, se formando outros e nos dando aos poucos um novo sabor, uma nova consistência. E na dor da agitação, da confusão, do estardalhar-se é que descobrimos que podemos ser outros...um presente por vir!
Josie, muitas vezes, queremos o marasmo que precipita no abismo nossa essênia: a crise agita, ferve, cataliza... Nasve o novo; novos devires... Abraços com carinho, jorge
Olás,
Crise só se for alergica.
Quantas pessoas, famílias vivem a beiramar comendo peixe com farinha.
Os mais abastados um menu melhor.
(não deixem o Karl Max ler isso (mais abastados)).Ou então gente curtindo a fazendinha, longe da vida civil como foi dito.Ouvindo os passarinhos,recebendo o carinho dos
cachorros.O leite da vaca pela manhã, quentinho com chocolate e espuma.
A vida na cidade é um porre.De Banco tenho pavor.
Porém gosto da neve, do pão, do vinho.O cerrado tá matando. Não nasci para morar em Uberaba MG
Quem sabe no sul,ou na Europa (cala-te boca)O marasmo e o vinho,
as roupas de inverno, delícia.Amar debaixo do edredon,banho de champagne,chuverada quente, ai meu amor. Denise
Se evitarmos as crises, não cresceremos, sem sombra de dúvidas. Infelizmente nem todas as pessoas conseguem enxergar a vida desse modo. Muitas vezes é necessário o caos para que um novo sopro de vida se estabeleça noutra direção. Amadurecer é aprender com as crises, é fazer delas uma grande batida no liquidificador e esperar o melhor: o suco ou o novo, ou as saídas. Beijos. Tô levando para o Palavras e Imagens.
Tânia, querida amiga, militante do devir e da justiça, da liberdade e da vida de suavidade aguerrida, penso que evitamos as crises , pois tememos não dar o salto, a crise é hora de saltar, um salto disruptivo: novas saídas, novos horizontes, nova vida.
Abraços com imensa ternura, Jorge
Denise, há crises e crises, o valioso é buscar novas saídas, novos sentidos: recomeçar, renovando nosso jeito de viver; Abraços com ternura, Jorge
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