Jorge Bichuetti
[ Breve explicação: estas reflexões surgem mobilizadas pela entrevista e conversação que tive com Tânia Marques e que se encontra postada nos seus blogs:
- wwwestudosculturaisemeducacao.blogspot.com
- marquesiano.blogspot.com
Um momento de alegria e ternura que, todavia, me despertou reflexões que assinala aqui; junto com um profundo agradecimento pelo sempre e sincero carinho da nossa amiga Riograndense. ]
CUIDADO E VIDA
Todo cuidado emerge de uma dor, uma lágrima, uma angústia.. Assim, necessita de ser antes de tudo, acolhido; acolhimento terno e inclusivo. Um devir Simeão. Dor partilhada, criação de vínculo e maternagem. Maternagem não protecionismo nem infantilização, é fazer o outro sentir contido e confortável na ralação, sabendo-se aceito e respeitado na singularidade da sua vida e da sua dor.
O cuidado não é um ato que passa furtivamente; é atitude, companhia, caminhada: corresponsabilização e encargo.
É alegria: alegria inventado no entre da lágrima que se seca, da ferida que se cura, da dor e que se alivia...
É bom encontro, onde há escuta e diálogo, onde o outro, não seja posto num canto para que um diagnóstico assuma a centralidade do processo de cuidar.
Cuidamos de vida humana: abordando todas as linhas da vida...
Cuidado é amor, ternura vital, carícia essencial, justa medida, conviviabilidade, compaixão e solidariedade.
Nela, se faz o desmonte dos bloqueios, complexos, atravessamentos, repetições, nos, instituídos,identidades rígidas e inflexíveis, egos...
E potencializa com carinho, com arte e com o brincar, com as experimentações partilhadas o novo: linhas de fuga, devires e acontecimentos. Busca-se bifurcar, ramificar, multiplicar; sair do redemoinho para devir vida-travessia. Flexibiliza e amplia a pauta de conduta e referenciais da existência.
Produz no entre e via os es, a mudança, o novo inusitado. A emancipação...
CRISE, LINHA DE FUGA E UTOPIA
A crise é um processo de desterritorialização caótica do status quo, da vida como vinha sendo vivida, dos mecanismos do existir e de um cotidiano que já não corresponde as pulsações desejantes daquela vida.. Crise - é dor profunda, desespero, angústia, desorientação... Vida sem chão...
Ali, também, pulsa virtualidades de uma nova vida desejada e possível...
Cuidar é devir-se ponte entre o velho modo de existir falido e novo que se encontra, no momento da crise, além, entre a dor e o amanhã há um abismo... Cuidar é devir-se ponte sobre o abismo.
A crise gera fenómenos negativos e positivos, reativos e ativos...
Relegá-la a si mesma é brincar de roleta russa...
Cuidar é sustentar a passagem, a travessia, o voo sobre o abismo; num momento de fragilidade do corpo em crise, é empréstimo de vida, caminhada partilhada...
Se já não se pode com a vida vivida, outro vida emerge, se anuncia... Porém, o novo, a mudança e o devir são evitados, negados, vigiados e reprimidos por mecanismos de registros e controle e por eclosões de anti-produção...
Cuidar, então, é anular, suprimir a anti-produção e fomentar a criação de linhas de fuga...
As linhas de fuga são produções desejantes singularizantes e riizomáticas que se não forem agenciadas, correm um sério risco de serem capturadas ou mortificadas pelo sistema das superfícies de controle que perpetuam a manutenção do sistemas e das identidades rígidas e inflexíveis...
Cuidar é agenciar planos de consistência e sobrevivência para as linhas de fuga, linhas de vida nova, que escapolem, driblam, contornam e fluem, materializando-se novas realidades existenciais, longe, ou firmes e sólidas, que não são vulneráveis ao sistema de destruição do novo.
Como o velho mundo carcomido e moribundo, porém, voraz e violento, nos tenta diariamente para que sejamos a normalidade sofrida, de crises catastróficas e dolorosas, vidas limitadas, há que se inventar uma utopia e uma militância, uma causa: amorosa, política, ética e estética, artística, existencial...que fortaleçam os coletivos que vivem o "grande livramento" ( palavras de Nietzsche para traduzir a superação das suas crises pessoais), para estes conectem-se com sociabilidades solidárias, libertárias, alegres, cheias de arte-vida, e, assim, possa, vivenciar e experimentar a potência disruptiva da diferença...
Deste modo, cuidar e reabilitar-se é uma caminhada-vida... Uma insurgência e uma vida rebelde que andarilha encontra um porto seguro e parcerias que antecipam as cores da aurora...
POR UMA NOVA TERRA, POR UM POVO POR-VIR...
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4 comentários:
Obrigada por mais um presente, você brinda a nossa vida com tamanho esplendor pelo conhecimento que carrega e nos transmite. "Você é luz, raio, estrela e luar". Wando
Beijos da Tânia
Tânia, a vida me da livros, experiências e paisagens... Os amigos me dão entres onde fluim vida e pensamentos. Onde estávamos índios, eu minhas paixões ancestrais. E me alegro de tê-la como amigo; embora, tenho que dizer que os amigos da Upop disse que estou velho, a conhecem pelo teatro de rua, num video mais antigo.
Morri de inveja; boa inveja,
Abraços com ternura, Jorge
Jorge, é a primeira vez que faço teatro de rua, não deve ter sido eu não. Também não apareço naquele vídeo, não! Deve ter sido engano dos amigos da Upop. Beijos
Tânia, taí, devem ter confundido, pois, me falaram de uma intervenção de 3 anos atrás. Abraços, querida, muitapaz, Jorge
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