sexta-feira, 29 de abril de 2011

DIÁRIO DE BORDO: A BELEZA DA LUA... SIMPLICIDADE QUE BRILHA; METAMORFOSE QUE NÃO SE NEUROTIZA...

                                                                 Jorge Bichuetti

Frio, um gelado no ar, que nos humaniza, nos induz a desejar e necessitar do outro... Aconchegados, a vida se esquenta, torna-se cálida. Tive para não ver o mato. Me assustei, pois o medo me limita, não só nas perdas que se tem quando se perde a coragem lutar, mas também no nosso olhar e nomear a vida. Mato onde via meus álamos, minha roseira, meus pés de infinitos beijos, minhas samambaias... A Lua saltitante, parecia com todos nós em 1989, quando eufóricos dizíamos, confiantes que a vida agora seria vida sem medo de ser feliz...
Fui e aqui estou... Não lhe falarei de filosofia, nem mesmo da Rosas Pessoa e das Pessoas Rosa... Estou maravilhado, encantado com a beleza humilde e singela da lua minguante, toda amarela iluminada, um fiapo, que brilhava distante, entre as folhas dos álamos... Quantas estrelas! todas ficando mais pouquinho só para ver a beleza da lua... Da lua minguante, que é uma lua sem plateia, sem a fama e os adoradores. Ela é ela: lua minguante, um encanto singelo da beleza do devir imperceptível, da simplicidade que anda e canta, brilha, no seu encanto, sem inveja ou hostilidade das luas idolatradas, no apogeu da fama.
Aprendi: se na crescente, ama-se o crescimento, a força que dá vigor e a seiva que nos alimenta para ser grande; se na nova, se adora, a renovação; se na cheia, idolatra-se os enigmas da paixão; na lua minguante, vemos a simplicidade brilhante, o singelo que se assume sem medo de comparações, mergulhando no próprio encanto...
A Minha Lua voltou a militar no blog utopia ativa; venceu o sono e a sua mimeiríssima preguiça, e aqui me ajuda a pensar com seus afagos de menina de terna rebeldia...
No mundo que vivemos, somente acostumamos a brilhar quando os aplausos do outro conta que somos gente de triunfo, de valor, de sucesso... Quando estamos do mundo esquecidos,frequentemente, nos encolhemos e nos neuraotizamo-nos...
Não descobrimos como é bela a aparição brilhante da simplicidade anónima...
Fetichismo da mercadoria; mundo de espetáculo; ditadura da vitória e do sucesso; onipotência... Todas teorias são pertinentes... Porém, o óbvio, é singelo: não aprendemos a valorizara beleza da simplicidade , nas coisas, nas pessoas e na vida...
No entanto, ouso atrevido a dizer, aqui, que a beleza maior...
A simplicidade realiza, opera, atua, se dá sem mediar o seu ato de sublime generosidade pelo interesse no que lhe resultará, nos lucros, nos aplausos, na capa do jornal...
Possui, assim, uma intensidade que se realiza em si mesma, por crer e desejar a vida que vive e a doação que faz...
O brilho do complexo e da fama , muitas vezes, é gozo narcísico: falam, escrevem, vivem para ofuscar; os aplaudimos e torcemos para ninguém nos questione sobre o que vimos, lemos ou ouvimos, porque na realidade não entendemos nada.
Já a simplidade brilha encantando e passa despercebida e a gente até pensa que somos os criadores da vida que emergiu nas irradiações férteis da humilde simplicidade.
Simplicidade não é ignorância, nem ingenuidade... é o devir imperceptível que flui, naturalmente, de forma espontânea, comunicando-se num inteligível diálogo. é a vida pulsante livre, ressoando singela alheias aos flashes da consagração. A simplicidade já é si mesma graça consagrada.
Explico-me, diretamente, o que ando pensando: é simples, aplaudimos e analisamos com teorias rebuscadas o carro alegórico; já quando passa na avenida a velha guarda, choramos encantados... Afetados, contagiados, renovados, vida remoçada.
Ah! que saudade!... Saudade da simplicidade de Florestan Fernandes, Paulo Freire, Boal, Cartola, Noel, Dom Hélder Câmara, Gandhi, Chico Xavier, Sartre, Che, Dorival Caymmi, Cora Coralina, Rosa e Pessoa, o quinto capítulo do Capital, Foucault, Mario Benedetti, Mujica, Juarez Guimarães, Löwy, Maturana, Melo Neto, e tantos e tantas vidas singelas que nos modificam porque pensam, escrevem e vivem com seu brilho tatuado na própria pele.
Assim, canta o sermão da montanha...
Assim, nos encanta a vida.
O resto é silêncio.

4 comentários:

Vncs disse...

É de se admiriar o quanto a lua insistentemente enautece no homem a sensível pureza da inspiração. Parabéns pelo texto!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Ah, sim, amigo, a lua é magia que o mundo com seu racionalismo não conseguiu calar;
Abraços com imensoo carinho, Jorge

Augusta Carlos disse...

"Lua bonita e redonda,
vem aqui me contar:
Se vc é feita de queijo,
Se no seu chão nasce flor..."

Bia Bedran

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Augusta, como nos encanta a lua. Beijos e abraços na ternura do luar. Jorge