sábado, 16 de abril de 2011

DIÁRIO DE BORDO: BELO É O HORIZONTE...

                                                                  Jorge Bichuetti

Belo Horizonte. Velho olhar... a Serra do Curral, as árvores brincando com os pássaros, tão ligeiros e vorazes, feito o povo que caminha apressado na loucura da cidade grande e eu, aqui, com o meu velho olhar de menino. Não tenho pressa. Olho as montanhas azuis e relembro o tempo vivido nas ruas e bares desta bela cidade, cidade dos novos horizontes do menino que vinha da roça e descobria o brilho de neón das estrelas de fantasia.
A casa do nosso querido amigo e mestre professor Baremblitt me acolhe e nela eu me aninho; só não fico de todo feliz, pela falta que sinto dos carinhos e dengos da minha Luinha. Tenho aqui minhas árvores, meu quintal... e uma boa prosa: sonhos  rodopiando no ar...
Vendo o dia nascer, com a alegria festeira dos pássaros, eu me pergunto: por que gostamos tanto de viver na infelicidade?... Cultivamos tristezas, transportamos angústias, amarguras e medos, como se eles já fossem agregados do nosso corpo...
Me sinto feliz. Tenho minhas tristezas, mas, não são as alegrias disponíveis. Do nosso lado, junto de nós, nos assombrando.
Muitos dirão que a humanidade tende ora ao sadismo ora mergulha no masoquismo... Não creio.
vivemos e se não temos o que queremos, fechamos as janelas da vida e obsessivamente giramos sobre o mesmo ponto: o nosso buraco negro.
A dor, a insatisfação e a frustração cultivadas e alimentadas numa fixação mórbida torna-se um buraco negro... que rouba toda energia, suga toda a vida e esvaziam o mundo e a vida, deles extraindo todo sentido... nada faz sentido, tudo parece descolorido, tudo está mergulhada nas sombras e nas cinzas da nossa própria infelicidade.
Viver é produzir, fabricar, recer sentidos...
Nosso horizonte nos move e nos proporciona energia e direção para que fabriquemos os nossos sentidos na vida: vivências e experiências, encontros e acasos...
É belo o horizonte azul da Serra do Curral... Me sinto, muitíssimo feliz, com meu olhar que silencia meu coração e me põe ajoelhado diante da beleza e grandeza do infinito...
Entretanto, sou igualmente feliz: no aprender e no ensinar, no trocar, no partilhar... Sou feliz quando consigo me entristecer e partilhar um momento de dor com um amigo; me dilaceraria ser vida de de extrema insensibidade e inconsequente egoísmo. Meu belo horizonte azul é a solidariedade...
Tenho outros belos horizontes...  amo a liberdade, a justiça, os direitos humanos e o direitoà diferença... os trabalhos de inclusão social... amo a rebeldia, a insurgência, o espríamo rito criativo que profeticamente vê no horizonte um novo dia...
Belos horizontes: uma xícara de café quente, broa de fubá, costelinha de porco frita, chá de camomila... Vivaldi, Bach, Tchaikovsky...Di Cavalcanti, Tarsila de Amaral, Yara Tubinambá... Cora Coralina, Florbela Espanca, Clarice Lispector... Pessoa, Rosa, Lorca... Benedetti... o mar, uma cachoeira, um jardim florido... rosas, passarinhos, viola e roda... Roda de amigos, roda de samba, roda de fé, mandinga e candomblé... Rodas da vida que gira e se transforma: das cinzas, um devir fênix; da escuridão da noite, uma nova aurora...
Ser feliz não é sina, não é fatalidade... é uma opção.
Podemos sorrir e cantar, louvar, celebrar e lutar na vida e pela vida...
Podemos esquecer mágoas e derrotas e recomeçar, sonhando de novo... caminhando, construindo e curtindo as alegrias singelas e as utopias belas que dignificam e humanizam nosso existir.
Já escrevi estas anotações... Não perdi a memória... O que é novo, é que eu queria confessar que repito por crer que somos condicionados a viver, sofrendo... vítimas acomodadas e revoltadas... sempre infelizes pelo que não temos... nunca vivendo alegremente o belo, o nobre e o saborosa que já temos...
Conformismo, acomodação, covardia? Não, as tristezas da vida exigem indignação ativa, rebeldia aguerrida e lutadora, insurgência inovadora e audaciosa, capaz de nos levar às barricadas dos sonhose enluaradios de esperança descobrir que mais belo que todos belos horizontes é a vida que se dá na valentia de buscar já, no aqui e agora do nosso dia-a-dia o sol que irá nascer... Escutemos a voz insurgente do Subcomandante marcos: busquemos o alvorecer, o poder está vazio. Ocupemo-lo e desenhemos junto com todos os oprimidos e os  excluídos o belíssimo horizonte do alvorecer da grande libertação ...

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6 comentários:

Anne M. Moor disse...

Jorge

Que texto gostoso de ler. Lá pelo final dizes:
"Não perdi a memória... O que é novo, é que eu queria confessar que repito por crer que somos condicionados a viver, sofrendo... vítimas acomodadas e revoltadas... sempre infelizes pelo que não temos... nunca vivendo alegremente o belo, o nobre e o saborosa que já temos..."

Que verdade! Porque será que vez por outra, mesmo amando a vida, caimos nesse 'cultivar' o negativismo e querer o que não temos ou que não podemos ter!!!!! Me dou tantos conselhos brilhantes rssrsrsrsrs, os quais nem sempre sigo!!

Beijão
Anne

Tânia Marques disse...

Sinto-me feliz com a tua felicidade. Esse estado de espírito em que você se encontra é algo transcendente e contagiante. Um beijo, querido amigo, sinta-se abraçada por mim em Belo Horizonte, cidade linda e cheia de possibilidades culturais. Beijinho na Luinha pela saudade que sentes dela.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, me parece que o segredo é descobrir que não somos falta; mas sim abundância... potência-vida-alegria;abraços com ternura, Jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia estou trabalhando com uma juventude alegre e temas fascinantes: agora, estamos no devir... Só sinto não tê-los nestas invencionices... abraços para você e para a Luinha, jorge

CLARA disse...

Lua fofa esperta e serelepe, exibida que só ela... adorei a foto da Lua.
Já é madrugada e entrei no seu blog para me reabastecer com suas poesias e energia.
Abraços
Clara

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Clara, cheguei e encontrei ela toda fogosa, cheia de saudades. Amiga, a poesia é o elixir dos deuses;abraços, jorge