domingo, 17 de abril de 2011

DIÁRIO DE BORDO: CASA, AMIGOS E O CAMINHO

                                                                     Jorge Bichuetti

Lua cheia... Magia no cerrado... Serpenteando pela estrada, mirava a lua no céu, com saudades da Lua da Terra... Agora, madrugada, eu na minha casa; a Lua nos meus pés... Dorme. Sossegada. Se sente protegida...
Não posso dizer que não me emociona: seu carinho incondicional, com raros momentos de temperamento intempestivo que aprendeu e copiou dos meus amigos esquizoanalistas, ela é assim, sempre, sempre, a minha pequena e serena Lua... Cheia de amor... Voltei, mais humano: parti, chorando; cheguei, sorrindo... Lá também é minha casa. Casa de amigos... Baremblitt, com seus voos criativos e sua ternura paternal; Margarete Amorim, uma irmã, guerreira... Trabalhamos muito. Enluarados de sonhos sob a vigilância discreta da pequena gatinha de Barembritt, Miúcha... uma gata canina: expressa no olhar um amor profundo, um companheirismo invejável; invejável se fôssemos nós, mais que dispositivo, grandes amigos... Setembro, primavera: III Congresso Internacional de Esquizoanálise e Esquizodrama.. Uma festa do saber, um saber da festa: uma sociedade de amigos onde flui a suavidade da ternura, da solidariedade e rebeldia insurgente de se pensar o caminho mergulhado na utopia: cremos, inventamos, intervimos, vivemos, amamos, sonhamos... tecemos um novo dia. Um novo dia de vida não-fascista, de inclusão, de direito à diferença e direitos humanos... Somos um entre... o guerreiro sonhador Quixote  e a poesia azul das montanhas das Geraes...
Somos tupiniquins; somos a América latina... o internacionalismo que pensa, sente e vibra com saída para toda e qualquer injustiça...
Somos casa, amigos e caminho... E demos mais passo para o III Congresso, que, também, é casa, amigos e caminho...
Caminhos: já que não trabalhamos pela totalização, tudo ao contrário, trabalhamos para potencializar e conectar a pluralidade de caminhos...
O outro sou eu - gritam as Mães da Praça de Maio...
Somos caminhos onde sonha com a aparição com vida dos amores subtraídos pelo fascismo, mas, também, com a aparição com vida dos devires e virtualidades suprimidas pelo instituído, pelo Capital, pelo ego, pelo narcisismo: nós cremos na potência da multiplicidade que se devém solidariedade...
Diz o dito popular que todos os caminhos levam a Roma; porém, respeitosamente, concluo que Roma não leva a todos os caminhos...
Trabalhamos vivemos pela vida e potência de todos os caminhos que afirmam a vida e a liberdade...
Nascemos de muitos caminhos e queremos ensinar, cuidar, intervir, militar para germinar muitos e mais outros caminhos...
Invente, ouse viver;  experimente, ouse percorrer... um, dois... um milhão de caminhos...
Percorri o caminho de volta à minha casa: voltei nos braços da lua para os braços da Lua... Lá trabalhei: o estado e seus simulacros; redes e rizomas - vida se dando e se consumando nas infinitas multiplicidades que tecem conxeções pelo devir e pelo porvir e coordenei um esquizodrama _ drama do devir... trama, ciranda, gira... voo e bailado...
As dificuldades de fluência das nossas conversações não foi por falta... de tempo. Me vi muito atrapalhado com este animalzinho indócil chamado noot...  livro, não é é rampa ensaboada... Fingi de dar aulas, para aprender algo com a juventude... Brinquei de professor, para descobrir a poesia viva da própria vida...
Fui, vivi e voltei: utopia ativa...
Querendo na semana santa dar-me pela ressurreição da Terra; esta nossa mãe maltratada e crucificada pela espoliação capitalista...
Muitos estranharão, anotações tão intimista no meu diário, porém, é a vida... nossa vida... Necessitamos de uma revolução e a revolução tem suas armas e suas lutas; vejo-a necessariamente passando pela transmutação de nossas vidas dizendo e vivendo: a transição da minha para uma casa comum, nossa, a casa de todos, uma humanidade que abriga na Terra e cuida Terra como lar das tribos, faunas e floras que habitam a solidão dos nossos desertos existenciais; passa, também, pela superação do individualismo que se dá com solidariedade agenciando encontros onde possamos devir amizade... e passa pela compreensão, assimilação e potencialização da vida como uma diversidade plural de caminhos, caminhos que levem a uma utopia que nos dê a possibilidade de viver nossos caminhos e inventar juntos sem supressão de nada novos e muitos outros caminhos... caminhos da vida que se quer vida nova... na aurora de um tempo onde haja ternura e amor, solidariedade  e liberdade para que estradeemos nos caminhos do sonho, do desejo e da utopia...

2 comentários:

Tânia Marques disse...

Brilhante! Maravilha de texto. Beijos

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, este é o coração pulsando no chamego dos abraços de luinha; Com ternura, meus muitos abraços, Jorge