Jorge Bichuetti
Rãs , sapos festejam a chuva... O resto dorme... Meus amores outros estão adormecidos. Entre eu e o quintal, um poça d'água. Longe, sei que minhas plantas estão felizes. Quietas, numa quietude suave, quietude de quem recolhe mansamente as dádivas da vida. Água da chuva. Nem mesmo os sinos respeitaram, hoje, os mandos do relógio. A Luinha já se escondeu, protegendo seus sonhos.
A chuva me acalenta...
... Penso, contudo, agora, já com dor, que talvez, haja havido alguma enchente...
Construimos e amontoamos casas e prédios, asfalto-concreto, sem perguntar pelo destino dos riachos soterrados e sem planejar para onde vai escoar nossas lágrimas.
A chuva, mesmo na tempestade, é ternura guerrilheira.
A fatalidade não vem da água; nasce da nossa urbanização que não questiona a vida, os seres humanos, a alegria e a mãe natureza.
E gastamos muito, individualmente e como coletividade, para concertar as nossas atitudes inconsequentes...
Busco, agora, mais um café: as ideias fervilham...
Durante muito tempo, para mim, ternura e lutas de libertação envolviam um dilema, uma dura contradição; como se fossem duas forças da vida tentando me possuir. E eu sofria porque queria as duas...
Esta dor já não existe... Foi-se... E não com a inesquecível frase " hay que ser firme pero sin perder la ternura jamás"... Foi-se com o sublime e encantador sorriso, meigo e terno, do inesquecível lutador incansável Comandante Ernesto Che Guevara.
Daí, talvez, venha a minha obsessão pelo sorriso de Che.
A ternura é a magia do amor que suaviza as agruras da vida, suaviza nossa vida íntima e suaviza a nossa vida de encontros, o nosso estar com o outro...
A ternura é potência, não servilismo ou submissão. Um olhar afável, um gesto carinhoso, uma apalavra acolhedora... Mudam, transformam... Criam uma nova realidade.
A ternura desmonta e desfaz hostilidades, agressividades brutas ou veladas, ódio...
A libertação não é obra do ódio; é um processo dos territórios do amor. Amor à vida, amor ao outro, amor à humanidade...
É luta, combate, guerrilha...
Somos tão narcisistas e individualistas, hostis e onipotentes, que projetamos no ato de lutar uma operação do ódio, do desamor, da agressividade...
A luta que se fertiliza é a que opera pela vida e pelo o ser humano, amorosamente...
A força da luta está na ternura...
Mesmo quando se torna necessário colocar nosso corpo num processo de luta, de combate, de enfretamento, onde se torna inevitável a emergência da violência, o que está presente é o amor; assim, a violência é ternura, pois, ela não se consuma como realização de um ato de poder, de dominação, de subjugação... Tão-somente é uma atititude ativa de afirmação da vida, da vida de todos, da vida comum...
Não odeio nem o Capital, nem os capitalistas... O capitalismo é exploração, dominação e mistificação, é negação da vida e, deste modo, um inimigo da vida.
Não nego: o quero morto, estrangulado, aniquilado - transformado pela libertação...
O Capital o quero para todos e de todos... Já teria que ter outro nome, mas o importante não são as palavras, mas vida que elas retratam... Se os bens de produção são comuns eles já não se dissociam da ternura, pois, ternamente, se tornam alimento da vida, da vida de inclusão, justiça e igualdade.
O capitalista libertado da acumulação baseada na exploração também se liberta... Se re-humaniza... Ele também é coisificado, reificado, alienado... Como coisificado e desumanizado encontra-se o oprimido.
O mal vive na relação... E lutas de libertação não são felizes quando não se percebem devires buscados para se construir novas e ternas relações.
O povo no poder... é pouco... A vida clama pelo povo no poder para destruir e reinventar os vínculos, instando na vida a ternura do encontro transversal, o não-poder.
Quem reinará?... todos e ninguém. A vida se organizará na ética do bem comum.
E é isso que levou o sorriso meigo e terno da América Latina afirmar quem sem o homem novo não se mantém, sem se efetiva o socialismo libertária... que é a ternura permeando os caminhos, os sonhos, a vida.
Que busquemos, então uma ternura libertária e uma libertação terna...
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4 comentários:
Jorge, às vezes, eu quase perco a esperança em acreditar que podemos construir um mundo melhor. Sinceramente, eu vejo as pessoas tão anestesiadas, o senso comum com sua visão de mundo manipulada, puros "globetes", que saem por aí a repetir a verdade que a mídia dita, esse sistema tão milimetricamente integrado, tudo tão massificado, que por mais que penetremos nas fendas dele, somos em número bem menor, apesar da nossa garra. Às vezes, sinto-me sem forças para remar contra a maré. A ternura é o que menos temos à nossa volta, as pessoas se alimentam do sangue derramado que jorra pela TV! Mas, sigo em frente, arando a terra. Beijos
Tânia, comigo não diferente. Quando falo do sorriso do Che - é verdade. Tenho em cas a dois quadros dele sorrindo; me alenta.... Precisamos avivar as trocas e os encontros com os que nos contagiam para os sonhos; pois, o mundo tende a nos anular, desânimo e decepção. Juntos, seguimos,abraços com imenso carinho, Jorge
"Sonho que se sonha só,
é só um sonha só.
sonho que se sonha junto,
é realidade.!"
Raul Seixas
Sonhemos juntos, sejamos resistência pacífica ao desãnimo
para quem pensa que somos "malucos belezaa". Mas que beleza as maluquices surreais estão ai para todo mundo ver:
Fundação Gregório Baremblit, entidade Nsr{ do rosário, Instituto de valores humanos,lar da caridade e dezenas de etceteras!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Augusta
Augusta, é belo e suave saber-se numa caminhada com paisagem alvissareirase encantos de amigose lutas que nos dá as cores do alvorecer.
Abraços com ternura; Jorge
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