quarta-feira, 6 de abril de 2011

DIÁRIO DE BORDO: INVESTIGAR PARA CRIAR UMA NOVA VIDA...

                                                     Jorge Bichuetti

Os pássaros cantam... Alegres, festivos: celebram o novo dia. Entre tarefas e reflexões, me pego pouco vinculado às afetações da natureza... Os álamos, bailarinos; o limoeiro num compasso de espera como se guardasse seus frutos para um outro momento; talvez, para quanto o meu olhar os lhe pedisse... A roseira, de cachos, é intensamente viva, floresce e perfuma sempre... Seu perfume e sua beleza nos convocam à contemplação do singelo quadro da sua perene doação.
A Lua dorme...
Eu trabalho... num entre, entre o trabalho desejante e o ócio criativo.
Muitas vezes, quando escrevo me perco... Nunca quero me codificar escrevendo o que imagino que os outros necessita... Este lugar de onipotência e arrogância, não me agrada... Porém, gostaria de escrever, dialogando... Auscultando as perguntas e as afirmativas, e com conversando, mediado pelo cheiro do café quente e as nuvens que fluem do meu cigarro, desenhando no ar, escritos e pinturas, que me falam coisas que eu não sabia...
Ando cheio de dúvidas; de perguntas, incertezas e curiosidades...
Deleuze quando refletiu sobre o processo de produzir um conhecimento nos legou claridades preciosas...
Para pensar, conhecer e criar não há um método próprio; o método de pensar e viver se dá na caminhada... Contudo, dizia que não basta caminhar... Seguir, inventando a roda como se houvera feito um novo milagre... diz que o conhecimento e a produção criativa acontece, tecido por um método que a estrada, a busca, o percutir a vida, inventa... Me parecia genial... Para mim e para a Lua, que ainda não abdicamos de tudo de um preguiçoso devir macunaíma... Contudo, ele acrescenta me tirando da passividade e da letargia... O método de pensar, conhecer e criar, se dá, se inventa, na pr´´opria caminhada; porém, exige um prévia, séria e profunda preparação...
Uma longa preparação...
Nós que descobrimos a potência da criatividade e dos acontecimentos, das produções do acaso... podemos correr o risco de uma infértil e exótica espera... Falamos, advogamos num criacionismo expontaneísta... Como se para ouvir, ver e conceituar o que nos ensina as experimentações do vivido e do sonhado, não fosse necessário e imprescindível uma longa preparação...
Todos investigamos... Viver é investigar... A investigação não é uma propriedade privada e específica dos pesquisadores...
Caminhamos, experimentamos, conhecemos, e voltamos a caminhar...
Todos queremos caminhos, ideias, clarões...
Uns adotam o instituído, a verdade dada pelo mundo, como verdade única e insubstituível...
Outros inventam no expontaneísmo dos achismos...
Alguns  pesquisam a vida com métodos que por si produzem a resposta... O jeito de olhar já dá a conclusão...
Todos vivemos pautados num esquema de conceitos, crenças, afetos e afetações, opiniões e influências, conscientes e inconscientes...
Para fazer nosso corpo pensar, livre, e cuidando de si e da vida, precisamos desta longa preparação...
Diz Deleuze que mediante o desejo de investigar, experienciar e criar, vivemos, inicialmente, uma dura solidão... Nós e nossa pergunta... Fala que esta solidão vai aos poucos sendo povoada: povoada de encontros, diálogos, livros, ideias, paisagens, poesias, pinturas, canções...
Povoados por encontros com o outro que caminham e com outros que caminharam um dia que hoje se presentificam no meu caminho... e ainda por outros que emergem e nem nasceram ainda.... virtualidade que se atualizarão no porvir...
Nesta busca, vemos, ouvimos, sentimos, imaginamos e escutamos  muito...
O que selecionar, com conectar a diversidade e como usar os efeitos páticos da vida que nos afetam e nos germinam... Para ele, os caminhos, as ideias e os clarões valem se funcionam e se expressam , na nossa vida e na vida do mundo, linhas de fuga...
Buscamos linhas de fuga... Não linhas de fugir, de sumir, de se diluir... Linhas que conseguem escapulir, driblar, contornar o mundo repressivo e normatizador e nos dar vivências e experimentações de afirmação da vida, da vida alegria, da vida novidade, da vida intensidade singularizante dos nossos desejos e sonhos...
Procuramos o nosso país das maravilhas... Um canto encantado de devires, bons encontros e paixões alegres... Um lugar de liberdade, alteridade e vida que pode brilhar...

4 comentários:

Anne M. Moor disse...

Uma longa e solitária caminhada... Adoro a vida, o viver, mas acho que para isso tive que aprender que a vida não é o que idealizamos (e como idealizei!!), mas algo que construimos, criamos, sei lá... acontece sem que a gente se dê conta.

Bom dia me amigo! Texto instigante.

bjos
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, assim, é... Caminhamose vamos corroendo nossas ilusões, para desnudar a vidae vê-la como uma provante, intrigante infatigável produção. a produzimos, lhe damos sentidoe a vivenciamos com nossas escolhas e com nossas fatalidades... Porém, se perseguimos o alvorecer... vamos tecendo a leveza do borboletear, do brincar e do sonhar... do mamar por amar...
abraços com ternura, com ruído de porta se abrindo para uma boa conversa e um saboroso café.
Jorge

Tânia Marques disse...

Você, Deleuze, Guatarri, nossa, uma alegria imensa no meu caminhar. Amei a tua caminhada do texto, caminharei junto com você para encontarmos a felicidade logo ali, onde a igualdade prevalecerá entre todos. Beijos mil.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, a produção do momento sempre atualiza virtualidades; porém, amo uma análise que fiz do livro DIÀLOGOS de Deleuze que está no site de BH... e que o tenho , porém, não o reconheço alheio a primeira formatação... O computador pifou; concerto, salva-se tudo, porém, já não mais na primeira forma... e era um texto onde flava oos espaços , as lacunas... os desenhos... assim, me senti feliz de voltar ao tema, tema inibido pela perda... Diálogos é um livro lindo, é onde Parnet diz a Deleuze que ele nunca quis ser a árvore, que sempre preferiu ser a grama que medra eentre as pedras...
Abraços com carinho e muita ternura, Jorge