segunda-feira, 11 de abril de 2011

DIÁRIO DE BORDO: O FIM DA LINHA...

                                                 Jorge Bichuetti

Depois de um domingo, de descanso... Vi a vida me chamando antes dos galos e da cantoria dos passarinhos...
Ontem, me descobri muito capturado pelo modo de funcionamento da família, da família-instituição; não da família - amor, partilha, acolhimento e solidariedade...
A instituição paira e nos subjetiva, criando um viver automático... se conforma com leis, normas, regras  ... e pautas de condutas que nos dizem o que podemos, o que não podemos e o que é indiferente... Normatiza a vida; delimita na historicidade de um tempo e de uma sociedade o que viver, sonhar e desejar o ser humano...
Me vi família: não escutei os anseios e desejos da pequena Lua. Preocupei-me; a pensei doente... E descobri como somos esquizofrenizantes...Se ela brinca, me provoca e não me deixa quieto no computador, no livro, na TV; digo-lhe, repressivamente, que está impertinente, abusada... Ontem, ela quis estar comigo... Quieta na quietude do meu caminhar no domingo... Do meu lado.Sempre... Cheia de dengos... Queria levá-la a um veterinário...
Somos ambíguos... Somos a verdade do outro...
Ela só queria me amar...
Há uma verdade boa para todos... um jeito de viver correto e digno que separa os bons dos maus...
Há uma ética... de afirmação da vida, do cuidado, do bem comum, dos bons encontros e das paixões alegres... um ética do cuidar de si e da vida... Porém, a vida se dá na singularidade... Somos singulares... E necessitamos inventar um caminho ético com nossa singularidade...
A missa de domingo... a roupa curta, o cabelo comprido... o silêncio...
Nunca há lugar para o diálogo...
Vivemos num hospício. O que define o hospício, as instituições totais, não são muros... `e grau zero de comunicação...
Educar, conviver, cuidar, intervir, partilhar... são experiências que exigem o sim e o não... A diferença é se este sim e este não são previamente ubicados na vida para que o outro não expresse seus interesses, suas necessidades, seus desejos e suas opiniões...
Precisamos aprender a escutar... A ver no contexto... A problematizar e dialogar para formar no entre nossas combinações, decisões...
Precisamos desmanicomializar nossas vidas...
Ninguém se potencializa longe dos próprios desejos que mobilizados por uma vontade de potência cria o outro que já somos  , mas ainda não foi parido para a existência... Nossos devires..
Ninguém aprende, ama, se reabilita ou se cura longe da alegria e dos bons encontros... Longe deles, somos corpos decompostos; alheios às próprias potências...
É o fim da linha... Da vida-trilho... Da vida scripit prévio... da vida que se vive pela lenda familiar... e da vida que se consuma como a vida que me é imposta pelas expectativas alheias...
Além do horizonte da nossa vidinha, há uma criativa vida de escuta e trocas, diálogos permanentes reinvenções...
O ser humano é ser na e da liberdade... Podemos ousar e descobrir a alegria de ser, também, pela liberdade...


dia 22 de abril: dia da terra ... no TEU...
                                   iyi-porá
dia de arte-luta-sonhos pela Terra...
participe: TEU; Upop-JA; Cordas do Cerrado...

4 comentários:

Tânia Marques disse...

Como eu gostaria de me encontrar com você para compartilharmos ideais e fazermos reflexões pertinentes à vida, às nossas vidas singulares, como estas do teu diário de bordo de hoje. Beijos

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, e como não... Vamos nos encontrar na vida e pela vida... Não consigo saber quanto; mas indo ao Uruguai irei dar uma parada para um copo de cerveja.
Abraços com carinho; Jorge

Augusta Carlos disse...

Querido amigo, grandes verdades e irrefutáveis verdades. O ritmo alucianate e frenético da vida capitalista nos desumaniza e proporciona o descuido onde só deveria reinar o "cuidado".
repensar
Reorganizar
reencontrar
a alegria
a cumplicidade
o amor
o cuidado com o ser amado.
Abençõada seja sua inspiração,coração!


Augusta

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Augusta, obrigado pela sua amizade e companheirismo; somos a ousadia da utopia que desbrava caminhos pelo alvorecer...
Sim, temos que mudar nosso modo de viver, busracar o amore transformar as relações espúrias de opressão num novo alvorecer.
Abraços com carinho, Jorge