terça-feira, 12 de abril de 2011

DIÁRIO DE BORDO: O MONSENHOR DOS DIREITOS HUMANOS...

                                                             Jorge Bichuetti

Não iria escrever... Porém, depois, de uma manhã clara, terna e cheia de perfume. Perfume de vida, perfume da vida... Me deparo com um comentário no blog que me leva a partilhar meus minutos de profunda alegria... Estive conversando com o nosso querido e nobre Monsenhor Juvenal Arduini, um ícone inquestionável da lutas pelos direitos humanos e um intelectual, cuja amplidão, fecundidade e espírito criativo e inovador, nos encanta e fascina...
Era 10:30 da manhã, o sol não nos permitia ver o turvo e o obscuro: tudo era claridade... A Lua ficou; não quis importunar com sua presença; já o meu amado amigo mora, como sempre morou num hospital e ali se revela ainda hoje a preocupação de diante das lágrimas devir-se ajuda, acolhimento, cuidado, compaixão ativa e sublime generosidade...
Me disse Irmã Olinda que ouvindo as dores que gemem e se lastimam, implora"ajudem"...
Irmã Olinda me esperava, amável e terna, sóbria e amiga...
Ele ali estava: elegante, altivo, sereno, solidário...
Nos abraçamos e conversamos...
Vi sua biblioteca e ali para o meu espanto livros do hoje, quando já exerce o ofício metódico de intelectual...
Com 92 anos, mantém esbelto, gentil, polido e ativo... Noutro nível de atividade... Ora, dialoga, reflete, medita... Já sofreu vários AVCs... A linha do racionício , muitas vezes, se embaralha; fica um pouco misturada a avalanche de ideias e sonhos que o seu coração e cérebro de arquivam, vivificam e reeditam, como um pensador indomável, infatigável, destemido...
As sequelas do AVC limitam sua produção... Para nós, que conhecemos porém conseguimos ver num emaranhado de ideias criações, produções e invenções... numa vivacidade intelectual e numa pureza espiritual, que o revela vida autêntica, um clarão que não apaga...
Quando o corpo cansa ou se inquieta, mesmo, assim, fala: "projetar"...
Comigo, ali, falou... coisas que para nossa amiga Irmã Olinda parecia um mergulho na confusão mental... Eu a tranquilizei e lhe confessei: oh! como faz sentido... era , assim, que ele me falava...
Com luta, que é a luta dos guerreiros, esforçou-se e conseguir-se dizer-me:"A graça do projetar é a alegria que se concretiza no ajudar, no solidarizar-se, na partilha"...
Irmão Olinda me disse que não deixa nunca de se preocupar com a solidariedade...
Sabendo-o cansado, desejoso de ir para a Capela, pedi sua bênção, e ele como sempre fazia, me disse: "trabalhe, ajude, milite.." Acrescentou: " sua graça, é construir, projetar, ajudar... " Entre algumas palavras perdidas, revelou-me:" a minha por agora é a graça da Capela"...
Olhou-me, meigamente, com a ternura que faz ser o que luto por, assinolou: projetar é buscar a verdade que é graça"...
Abraçamos, ele me deu beijo, um santo beijo de uma eterna e inesquecível amizade...
Ele, o nominável: Juvenal Arduini, direitos humanos, solidariedade, partilha, ternura, dignidade, ética, opção pelos pobres, luta, gentileza, generosidade, criatividade, amor vivo e atuante, produção intelectual preciosa e perene, militância destemida e aguerrida, compaixão e amizade...
Nunca precisou esconder-se no anonimato...
Sua vida o nomeia... Mestre, intectualidade vitalizante e criativa, amizade humanizante e libertária...
Despedi-me... Sai... entre risos e lágrimas do meu coração que se sente enobrecido pela nossa vida de comunhão, lutas partilhadas e pelo muito que ele fez para que eu pudesse ter a dignidade de ser estradeiro... O homem do caminho que se deseja caminho...

6 comentários:

Anônimo disse...

Oi amigo, sempre posto algumas aqui com intuito de contribuir para a libertação do indivíduo através da filosofia. Acho isso a verdadeira política. Por essas e outras não me interesso por pessoas e sim pelo estudo da condição humana.
Num comentário aqui vi um anônimo reclamando dum padre que , segundo ele deveria se ocupar da religião. Eu respeito, mas como já disse não me interesso por pessoas, ás quais, pessoalmente acho, que não podem ser classificadas de boas ou ruins, como determinam as ideologias e ou religiões.
Abraços.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Amigo, não se sinta, incluido nas considarações, você sempre colocou ideias... e sempre conversamos, o comentário não apresenta ideias, só uma maldade provocadora e um preconceito pré-concebido uma vez, que a pessoa não cita nenhuma ideia... dos livros que sinal são belas obras de reflexão do conhecimento... livres.
Abraço e lhe peço desculpas se você sentiu que podia ser com você, veja na postagem bons encontrose você entenderá...
Abraços com carinho e alegria de dialogar, Jorge

Maria Alice O. Dias disse...

Poeta?!
Sei que não sou...
Sou apenas um ser que acredita nas palavras que falam na nossa alma.
O escrito feito com o coração é o mais belo e tocante de todos eles. Gosto da simplicidade, me faz bem.

Meu Deus!!... que maravilha “O Monsenhor dos Direitos Humanos...” Senti seu amor nas pequenas coisas, que fazem o todo da vida.

Dr. Jorge, você é um transformista de sonhos e anfitrião de todos os amores.
Agradeço-te ter o privilégio da tua presença em minha vida!
Maria Alice

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Maria Alice, agradeço seu carinho e sua amizade, meu coração pulsa movido pela ternura que nasce das amizades sinceras... Predentia recolher-me e pensar; pois, o comentárioo nos bons encontros sobre o valor de um amigo me levou a sentir-me impulsionado a partilar a grandeza do coração que nos alentou tantos anose que permanece voz viva da solidariedade e do amor...
Sua amizade,Maria Alice, me alegra e me ajuda a viver... Viver, sonhando novos horizontes de uma suave ternura e de um insurgente solidariedade... Abraços com carinho; jorge

Anne M. Moor disse...

Jorge

Que texto bem cheio de carinho e sentimento bom... Carregado de paz. Bom de ler após um dia de turbilhão que acabou há pouco!!!

obrigada e boa noite.

beijos
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, obrigado pelo carinho; nunca vi tanta fideliada ao amor e à vida , vida-solidária como vi nos olhos do amigo e mestre, grande professor; e o defensor dos estudantes " comunistas" no tempo da repressão... Ele é a ternura; eu, um escriba... Abraços com carinho, Jorge.