Jorge Bichuetti
Meia-noite. O dia irá começar... Escrevo com a Lua, deitado nos meus pés. Ela pressente que irei sair... Não saberia dizer os limites entre as diversas saudades. O céu estrelado, a brisa suave da noite, a previsão do sereno... me recordam outras madrugadas. Lerei esta semana, o já consagrado livro " Os bichos são gente boa" do companheiro e professor Renato Muniz... É um autor que pela dignidade e conhecimento leria qualquer escrito; mas, tenho que confessar minha motivação maior: minha Luinha... Hoje, ela com seu jeitinho de menina, um cãozinho amado, me diz coisas que sinto e não penso, me fala dos enigmas da saudade...
Muitas vezes, um minuto longe, vira uma eternidade... E há saudade tão mesquinhas, puro controle e posse...
Nela, sei que a saudade fala da geografia do amor, onde a distância é medida pelo pulsar do coração.
E eu? quantas saudades!...
O Rosa das Geraes diz que " saudade é ser depois de ter"... Há vazio, lacuna, silêncio... E há saudades com eloquentes palavras...
Tenho saudade do tempo que juntos lutávamos pela anistia, pela reconstrução do movimento estudantil, pela inserção no trabalho popular na saúde e na periferia, pela democracia... Tempo de amizades sólidas e alegres; tempo de militância aguerrida...
Quanta gente. Boa gente... gente boa...
Diretas Já, Lula lá... A esquerda e seus sonhos... Tenho saudade deste tempo, das pessoas, das canções... Porém, não posso negar: não tenho saudade nenhuma do socialismo. Não se pode ter saudade do que nunca partiu... Ele ficou: ideal, sonho, utopia... Transformou-se, porém, é o mesmo sonho de igualdade, liberdade, sociabilidade solidária, nova vida...
Contigo, amigo distante, que vi tantos partirem, ficou o horizonte vivo e insurgente da utopia...
Brilha uma estrela... Que saudade! gastamos tempo e vida, tecendo um partido. Não sei, tenho saudades... Reuniões, concentrações, mutirões... Algo ficou. Não consigo conceber minha vida sem a militância... Hoje, ampliei os espaços, mas busco o mesmo; o mesmo que me dá tanta saudade... Agir, intervir, rebelar-se, indignar-se, construir na vida numa outra vida... Privilegio, agora, as ações instituintes de produção de devires. Contudo, vendo o olhar da minha pequena que me ensina o que é a saudade; digo: é o mesmo na pluralidade do agir revolucionário...
Meus amores: quanta saudade! ... mas o Rosa está correto: saudade é ser... depois de ter...
Somos tão parecidos com o Capital no campo da afetividade que nem celebramos a beleza do ser... Choramos, como eles choram a queda do dólar, o não ter, nem percebendo que somos a grandeza e a beleza de todos que passaram sem deixarem de ser...
Com a Lua nos meus pés e a noite enluarada, penso: a vida é composição, transformação, preservação... A saudade, assim, dita num texto escrito pelo coração parece banal... Ela é, contudo, o que falava Nietzsche: o eterno retorno... o que mantemos e revitalizamos conosco ainda que seja por mil anos ou mil vidas...
sexta-feira, 15 de abril de 2011
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6 comentários:
Oi, estive desaparecida por estes dias ...mas senti falta de "lê-lo".
Nos deixamos enredar pelo turbilhão da vida e nos furtamos das belas coisas que nos alimentam a alma. As belas coisas vividas nos alimentam e impulsionam a ousar novamente. Ousemos amando sempre. Caminhemos rumo ao novo mundo possível.
Saudades
Augusta
Augusta
Jorge, totalmente embalado pela nostalgia. Assim, dá um nó na garganta! Beijos
Tânia, respondo lento or não conseguir mausear bem o computador daqui, longe da Lua e sem o meu grande, só comeste.Tenho, sim, nostalgias... mas está sendo legal trabalhar aqui; ver o gregorio e vê-lo bem. Saudades de mim, menino.Abraços com ternura,, Jorge
augusta, querida amiga, apareça; sinto sua falta e queria trocar ideias sobre otrabalho possível e útil na periferia, Aprendemos juntos; juntos sonhamos... abraços, jorge
Amo estes adoravéis compositores e poetas da vida, e os tenho ouvido bastante me faz um bem danado de "bão". Vou lhe enviar um e mail de como esta música foi composta com o depoimento do Vinicius de Moraes só não postei aqui por ser muito grande.
Com carinho
Clara
Clara. a vida nos dá pássaros, poesias e canções: anjos vivos que perambulam e nos alentam com as vozes do amanhã. abraços, jorge
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