terça-feira, 19 de abril de 2011

POESIA: ASAS DA LOUCURA ( 2 )

                                       MARIA BONECA
                                                             Jorge Bichuetti

Mulher na rua
andarilha do vento
com seus prantos
e seus filhos
bonecas.. dela:
triste vida bela...

Hoje, Maria Boneca
estrela da manhã
na loucura acolhida
co'a ternura das flores
embonecadas de amor
enluaradas de vida:
alegria dos sonhos belos...

Sonhos de liberdade
e inclusão; a vida
na rua londe da
prisão... Vida antimanicomial
um voo na tempo transversal
da utopia da magia alegria
de devir singularidades luzes,

luzes do tempo, tempo de alvorecer
no carinho-cuidado... o acolher...

                                           (  terapeutas da CAPS-Maria Boneca. )

                                    O ESCULTOR DA LUA
                                                                 Jorge Bichuetti

Com suas vasilhas
e lixo anda  e esculpe
na argila dos sonhos
uma lua crescente
e na rua caminha
transformando o asfalto
com suas lágrimas;
e os ladrilhos orvalhados
se vêem, então, esculturados
com flores, estrelas e aves
que os tornam canteiros
da vida remoçada pelo
louco andarilho artista
das avenidas mendigo das
esquinas onde a  luz e
as trevas peleam entre si
embaralhando o destino
com bênçãos e maldições
que escorrem na sarjeta
da cidade abandonada
pelos tronos dourados
que desconhecem as chagas
dos escultores da lua...


                               DORA DÓIDA
                                                  Jorge Bichuetti

Boca suja palavrões
delírios sensuais
e visões angelicais...

Assim, Dora Dóida
mulher e anjo da rua
que a alma do povo desnuda...

Anda pela cidade
vaga entre os bichos
que se consomem no nada...

Grita, ri, chora,
esbraveja; depois,
dorme, nas pedras de uma calçada...


                                    O REI-MENDIGO
                                                   Jorge Bichuetti


Esbelto e altivo, reina
nas labaredas indigentes
da fogueira improvisada
sob as marquisses das tendas
do seu universo cigano...
Delira, sonha, alucina...
Rei num campo de batalhas
onde a fome é o fuzil
que metralha todo o país

e só o louco-rei-mendigo
enfrenta seus inimigos...

2 comentários:

CLARA disse...

Dr Jorge, que linda homenagem a Dora, ela realmente fez e faz parte da vida de todos nos contemporâneos, me lembro dela sim dela pelas ruas da cidade, uns dias mais calma, as vezes triste e em outras tagarela demais até. Me fez recordar idos tempos que não voltam nunca mais ...
Bom dia para você
Clara

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Clara , que alegria; logo de manhã, um dia amigo... Sim, a poesia desvala o belo da vida e dá visibilidade ao anônimo, abraços com carinho, Jorge