terça-feira, 19 de abril de 2011

UMA REVOLUÇÃO MOLECULAR: AS MÃES DA PRAÇA DE MAIO...

                                                                 Jorge Bichuetti

Muitos questionam, dizendo: onde há uma experiência socialista?... onde o soonho pousou e deixou de ser somente uma esperança no horizonte da utopia?... onde?...
Outros afirmam: não gosto de política...
E se irritam quando revelamos que o próprio "não gostar de política" é uma atitude e uma ação política...
A política está, mas não se restringe ao mundo dos partidos, do estado e do poder molar... ela corre e escorre pelas alamedas do dia-a-dia...
A política é a mirada, a compreensão e ação, vivida, sentida e destinada ao bem comum.
Há política e políticas...
Aqui, abordaremos uma: a política do cotidiano, a política afirmativa, a política inventiva e insituinte que é vitalizante, energizante e inovadora, disruptiva, e que se dá nas produções criativas da luta e nas construções no molecular, na vida, no cotidiano, na criativa invenção de novas sociabilidades solidárias, generosas, libertárias e de inclusão social. Uma verdadeira e radical revolução molecular...
                                                    ***
Uma revolução molecular: as mães.. as mães da praça de maio...
Mulheres comuns, donas de casa, do lar... Limpavam, cozinhavam, costuravam, tricotavam... cuidavam de suas famílias. Viviam no e para o lar...
Um dia, o terror, o fascismo, a crueldade da ditadura militar argentina, não distinta na maldade da nossa, lhes roubaram os filhos...
Presos, torturados, desaparecidos...
O amor clamou, chorou e as colocaram na rua.. na luta... na política...
Queriam proteger, abraçar, ninar, embalar e cantar  no adormecer; para depois, esperá-los com um café quentinho na alvorada do outro dia...
Foram de porta em portta... Percorrem quartéis, ministérios, igrejas... Silêncio. arduo silêncio. Ninguém lhes queriam escutar... Ninguém ouvia a sonata de seus prantos...
Desespero, dor...  Choro enlouquecido, choro de mãe...
Pouco a pouco, se viram na mesma dor, uniram-se no chamado político das lágrimas que caiam, incessantemente, caiam...
Lutaram.. Pressionadas, resistiram... O amor é terno e suave guerrilheiro...
Na agonia, no silêncio; na incapacidade de ver seus filhos desapacidos, organizaram: Associación de Madres de Plaza de Mayo...
Caminharam, buscando... seus meninos, seus guris, seus filhos...
Presas, torturadas, assassinadas... Persistiram...  Diante da política dos fuzis, gritaram: nenhum passo atrás... e seguiram...
Toda quinta, marcham na Praça Rosário, diante da suprema autoridade, e pedem a volta dos seus filhos...
O governo ri, gargalhadas cínicas e silêncios hostis.. Ela lutam... Ser mãe é uma opção radical...
O governo pressionado lhes oferecem dinheiro em troca de perdão e esquecimento...
Elas já não eram as puras e ingências mulheres esquecidas num cando de um lar: haviam sido politizadas pela dor , pela lágrima... este universal panfleto socialista...
Unidas, se fortaleceram... Da frauda de seus filhos fizeram um lenço: o lenço que cobre como um véu a auréola da luta por direitos humanos...
Negaram, não venderiam; não negociariam a vida e o corpo de seus filhos, gritaram: Aparição com vida...
E ai na dor da luta, decidiram: re-encontrar seus filhos no rosto agoniado e sofrido dos jovens e do povo, dos que eram os amores do ideal, da causa pela qual seus filhos deram a própria vida...
Aparição com vida: os filhos reaparecem na dor dos oprimidos por elas acolhidos; e na esperança dos lutadores por elas .. vitalizados na caminhada de partilha.
Não permitem a morte levar seus filhos, os mantém presente no dia-a-dia com ações e intervenções que materializam a presença do seus sonhos, das suas  utopias ...
Criam o Café Literário, a Livraria, Biblioteca, a editora, a Radio Comunitária...
A Universidade Popular Madres de Plaza de Mayo... Onde uma educação em movimento dá rumo e caminho para a juventude pelo poder esquecida...
Uma vila arde em chamas... Lá estão... Reconstroem a vila, parindo um novo projeto que hoje constrói num processo de economia solidária casas para o povo na Argentina, interior e capital... presença do amor devindo-se solidariedade nos rincões anônimos e para povo sofrido, já cansado do calvário infindável da seus martírios diários de uma vida de agonia... Projeto Sonhos Partilhados...
No ESMA, local onde era o centro de maior crueldade da tortura e da violência da ditadura, construiram: o Espaço Cultural Nossos Filhos... Oficinas, arte, cultura, educação... A vida vencendo a morte...
Mães da Praça de Maio: uma revolução molecular... A solidariedade e a liberdade parindo, no aqui e agora, a vida que queremos para o nosso por-vir...
Mães da Praça de Maio: uma revolução molecular... O novo, no hoje; e um existir onde se semeia permanentemente as sementes dfo amanhã...
Mães da Praça de Maio: uma revolução molecular... Na dor, renasceram paridas pelos próprios filhos e os reencontraram no amor que se fez socialismo libertário no cotidiano de suas vidas...
Mães da Praça de Maio: uma revolução molecular... O sonho, a utopia, as virtualidades, atualizadas, materilizadas, vivas, potentes, num projeto de ocupação dos espaços da vida e que ocupados são vida remoçada, vida reconstruída no paradima das subjetivações livres: alegria e amor, solidariedade e partilha... Insurgência e rebeldia. Indignação que se devém luta e produção de vida, vida nova, cheia de ternura e risos, no canto da liberdade que no hoje já anuncia as cores da aurora de um tempo que ainda está por vir...

6 comentários:

Tânia Marques disse...

Vivas a luta dessas mães, que perderam seus filhos ficando com seus corações dilacerados, ficando órfãs por causa do sonho de liberdade de seus filhos. Moléculas unidas com potencial guerreiro. Beijos

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia , que belo! posso usar como postagem, numa singela hoemnagem... Reflete a vida delas na frandeza da luta que nasce de uma lágrima... Abraços com carinho, Jorge

Augusta Carlos disse...

QUERIDO AMIGO, O ARDOR E AMOR COM QUE RELATA A LUTA DESTAS MÃES, CONSTITUIDO SEU PORTAVOZ, ENCHE DE ESPERANÇA E NECESSIDADE DE AÇÃO " AS MÃES" QUE PULSAM EM CADA SER HUMANO TOCADO PELA UTOPIA DO DEVIR JUSTIÇA SOCIAL ATRAVÉS DO AMOR LIBERTAÇÃO.

ABRAÇOS

AUGUSTA

Tânia Marques disse...

Claro que sim, podes publicar, nem precisar me pedir. Beijos

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Augusta, elas me tocam e me levam a persistir na caminhada. Luta pelo vida e vida de partilha: são faróis.
Abraços amiga, jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, juntos produzimos vida e poesia na luta.... Abraços jorge