terça-feira, 31 de maio de 2011

UNIVERSIDADE POPULAR: VIDA-ESTRADEIRA...

                                                           Jorge Bichuetti

A Universidade Popular Juvenal Arduini- Uberaba - na próxima semana - 07 e 11 de Junho de 2011 - continuará sua caminhada... A construção da vida pede ousadia, resistência, insurgência e utopia... A vida se constrói e se reconstrói todos os dias... Vivemos a vida que construimos na a luta pela liberdade e inclusão social, no enfrentamento da opressão e da exploração. O novo e a mudança não germinam no vácuo; eles brotam no caminho e nas sementeiras dos que ousam, sonhar... A Universidade Popular é um libertário e solidário sonho coletivo...

Já se encontram abertas as inscrições para os cursos, oficinas e grupo de estudo...

Voltamos, assim, a informar:
Cursos / Espaços Coletivos de produção: 1. Marxismo - Renato Muniz
                                                                2. Desinstitucinalização e práticas sociais - Jorge Bichuetti
                                                                3. Cuidado e clínica da vida  - Celso Macedo e Odila Braga
                                                                4. Ambiência: ecologia e vida - Sumaia Debroi
Obs: os cursos ocorrerão sempre no segundo sábado do mês, às 13:30.

Oficinas: 1. Como trabalhar com o povo
              2. Arte
              3. Ética e vida
              4. Comunicação e jornalismo
Obs: as oficinas ocorrerão nos mesmos dias dos cursos , às 14:30

Em cada encontro mensal ocorrerá um plenária de augestão das atividades da Upop-JA; sendo que após, haverá o cineclube...

O Grupo de Estudos da obra de Juvenal Arduini será na terça de cada mês , na semana do encontro, às 19:00.             
                         ***
Amigos, as fichas de inscrição podem ser postadas neste blog ou encaminhadas para utopiaativa@netsite.com.br
                        ***
Não se desbrava novos horizontes longe da caminhada de luta e sonho, onde a poesia da vida canta nos voos da liberdade a alegria do alvorecer...

                                FICHA DE INSCRIÇÃO
                  UNIVERSIDADE POPULAR JUVENAL ARDUINI

Nome:                                                                      Data de nascimento:
Área de trabalho/estudo/interesse:
Email:                                                                       Telefone:
Endereço:
Documento de Identidade:
Espaço Coletivo de Produção:
Oficina:
Grupo de Estudo sobre Juvenal Arduini:
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O caminho é a travessia onde a vida acontece... O sonho é uma ponte que nos dá no hoje o porvir e o devir...

 

ESPACIO UTOPÍA ACTIVA: LA FELICIDAD NO VIVE EN LA OSCURIDAD DE UNO; VIVE EN LAS TREVAS DE LA PROPIA HUMANIDAD...

                                MI FELICIDAD
                                               Jorge Bichuetti

Si marcho por caminos verdejantes
siento  el brillo de las flores y la magia del césped:
el suelo sueña y canta el cálido de la naturaleza...

Si caigo en un abismo y ahí me quedo
me veré atrapado por las nubes de la angustia
que vive en la oscuridad de los callejones sin salidas...

El cielo es la tierra de los amores felices...

El infierno es la lágrima de uno
que ya no sueña, solo, sufre
los descaminos de toda la gente...

La aurora de la humanidad
vendrá con los sueños y la poesía
de los corazones que vuelan
más allá que la linea del horizonte...

La felicidad es un porvenir
que ya está
en los que caminam
entre estrelas
con vidas y sueños compartidos...


             OPRESIÓN Y LIBERTAD
                                                Jorge Bichuetti

La opresíón ha hecho mucha disminnuición de la esperanza en los pueblos que la sufren como si fuera un cancer maligno incrustado en la propia carne de uno; la vida ha perdido su color , su brillo y su magia... La oscuridad de la orpresión viene  matando los sueños y la poesía de la propia vida. Sin esperanza si llegó al fin de la linea... Entre morir de tristeza y desencanto o luchar, el pueblo descobrió el encanto de la libertad... Salió en las calles... Gritó... Y en una protesta de lucha insurgente se vió nuevamente hijo de la esperanza: sonó... Esta hora del Basta señaló una nueva ruta... El mundo jamás será lo mismo... La libertad volvió viva y desea ser la compañera de todos y de todos los días... Son los vientos de la rebeldía... Democracia Real - otro mundo es posible...


              Federico García Lorca

Mi corazón oprimido
siente junto a la alborada
el dolor de sus amores
y el sueño de las distancias.
La luz de la aurora lleva
semillero de nostalgias
y la tristeza sin ojos
de la médula del alma.
La gran tumba de la noche
su negro velo levanta
para ocultar con el día
la inmensa cumbre estrellada. 

¡Qué haré yo sobre estos campos
cogiendo nidos y ramas,
rodeado de la aurora
y llena de noche el alma!
¡Qué haré si tienes tus ojos
muertos a las luces claras
y no ha de sentir mi carne
el calor de tus miradas! 

¿Por qué te perdí por siempre
en aquella tarde clara?
Hoy mi pecho está reseco
como una estrella apagada. 


 

GEOGRAFIA DA SUBJETIVIDADE LIVRE: CAMINHOS DO DEVIR

                                                  Jorge Bichuetti

Num mundo de depressão, pânico toxicodependência... vazio existencial e angústia urge que pensemos na construção da nossa subjetividade.
A apatia, o desalento, a acomodação e servilismo caracterizam nosso funcionamento assujeitado; passivo-reativo; nadificado e coisificado por um mundo que forja subjetividades submissas, atrofiadas e amordaçadas...
Não vivenciamos o que pode um corpo... As potências da experimentação e nossa capacidade inventiva e inovadora...
Nos arrastamos na vida como escravos das nossas lágrimas e vítimas dos algozes que nos abatem, presas indefesas que somos...
Há um outro mundo no universo da nossa vida que ainda não nos apropriamos: não nos apropriamos da nossa potência criativa e guerreira de funcionar como subjetividade livre.
O que nos bloqueia?... E o que nos sustenta servis e submissos?...
O fatalismo e o niilismo são operadores que criam uma armadura que nos suprime dos contatos e afetações que nos levariam a um funcionamento libertário.
A desesperança é um produto e um produtor das subjetividades assujeitadas.
Se não cremos que há caminhos de libertação só nos resta, então, funcionar como amos ou servos; sendo ambos, formas de assujeitamento quando pensamos o que pode uma vida...
A subjetividade assujeitada, servil e submissa, se sustenta na paranóia: o mundo é dicotomizado e vemos amigos e inimigos, estamos sempre na defensiva... fugitivos de nós mesmos.
A libertação passa , assim, pelo amor, pela ternura, pela solidariedade, pela partilha e pela compaixão...instrumentos éticos, e não morais, de incluir-se e incluir... O assujeitamento funda-se sempre na exclusão, na estigmatização e na negação da alteridade da vida.
O homem servil sempre está alienado de seus desejos e sonhos, pois, se afirma num gueto fascista de exclusão do outro: não aceita novas conexões e sente-se traído com toda perda e partida...
O que nos liberta dos assujeitamentos?
A vida suprimida pelo funcionamento excludente: a magia, a poesia, o sonho, a utopia, a historicidade do nosso caminho e do nosso caminhar...
Para libertar-se, precisamos assumir a autoria do nosso destino, rompendo com os condicionamentos que nos levam a crer e a viver como se a vida sofrida e maltrapilha fosse a única possibilidade, uma obra da natureza... Um fruto do azar; um escrito das estrelas...
Assim, chegamos ao cuidar de si de Michel Foucault e a leitura da violência de Fanon...
Para Fanon, a violência entre iguais, horizontal, é fruto da violência silenciada que sofremos dos que nos exploram e oprimem... Deste modo, a subjetividade livre emerge da ética dos direitos humanos e da ética do bem comum que nos levam a lutar contra as injustiças e pela paz e que nos subjetivam humanidade solidária e terna.
Cuidar de si - todo assujeitamento vem da nossa vida entregue a um alheio... Um tirano, um par simbíotico...
Somos livres quando nós mesmos fabricamos um modo de existir e uma ética... Nos governamos... Autononamente... Libertariamente...
Só somos livres na potência do devir...
Só somos livres nos portais do porvir...
A liberdade é conquista: semente fruto de um novo mundo... Uma poesia viva nos voos de liberdade da arte de existir... De existir para, com e entre... sonhos de amor e poemas de igualdade...

DIÁRIO DE BORDO: A POESIA DO AMANHA HOJE PULSA E BRILHA OCULTA NO FALACIOSO IMPOSSÍVEL...

                                                Jorge Bichuetti

Há pouco tocaram os sinos; tristes, melancólicos - orações do vento... Choram as mortes dos ambientalistas, do povo da floresta, no norte do Brasil... E choram o temor de ver o bosque dos jacarandás vendido, prostituito pelas sombras que nos ameaçam, desde que o Congresso Nacional do nosso país amputou o Código Florestal... Ah! que saudade da vida quando a poesia era só lágrimas do amor na despedida; cheiro de flores no sereno da aurora; e sonhos de construção da solidariedade viva na alegria da partilha... "Viver é perigoso"... necessário é lutar... O sonho e a poesia longe da luta são nuvens numa aquarela desbotada.
O orvalho que ora é o úmido chamado da terra no seu venturoso cio de paixão; e que é ora é lágrima vertida na escuridão da noite; hoje, no meu quintal é um rio resistente que clama, reclama e exclama: "eu creio na justiça e na esperança"... "faz escuro mas eu canto"... "o deserto é fértil"...  Entre pedras, flores...
A Luínha dorme, confia... Crê na valentia e na dignidade dos homens e mulheres que lhe mostro no raiar do dia quando lhe digo onde e por onde anda nossa utopia ativa...
As palavras vão lentamente desenhando o meu cansaço... a lentidão da velhice, o corpo febril... o medo do escuro... e os ruídos sinistros que abafam o vozerio das cantigas que nasciam e nascem no meu quintal...
Onde anda a esperança?... Por onde voa a paz?...
O sol nasce, tímido... Os álamos se escondem assustados... As samambaias rezadeiras resmungam e pedem a presença de Oxossi e de Zumbi...
Ando e escuto no silêncio: a vida é resistência da magia que ela própria inventa nos versos de u'a poesia que relembra os sonhos da aurora insurgente que espera impaciente o dia que o alvorecer lhe dará um novo tempo, um novo dia... um devir... um porvir... um encanto de alegria na asas da liberdade que gloriosa azulará o chão e florirá os céus...
Nos velhos papéis, os escritos de Che, o audacioso guerreiro: ousar lutar, ousar vencer...
Passeando pelo quintal, com solilóquios de desalento, vejo o limoeiro florido, dizendo-me dos frutos que chegarão e uma romã madura pedindo-me que experimente-a e observe o doce mel da vida, da vida que mesmo machucada floresce e frutifica, resistente e guerrilheira, andarilha que se vitaliza transitando entre os espinheiros das lutas do chão e as florescências poéticas da bruxaria dos sonhos que não conhece limites entre o possível e o impossível...
Remoçado, volto à escrita, para dizer algo que não é meu, é da vida , é um escrito dos sonhos no livro da utopia: toda tristeza e toda força da tirania vem da nossa médiocre visão que aceitamos os alvitres da opressão nos afirmando glamourosos que havia entre nosso dor e o amanhã uma barreira, um abismo: o impossível...
Podre ilusão! o impossível é uma invenção que bloqueia a esperança, que cruza nossas mãos e que nos fazem cabisbaixos, homens de vida retalhada pelas tristes e amargas desilusões...
O impossível é possível... Nele, mora a saída, nossa alegria perdida, nossa subjetividade guerreira, nossa inovadora poesia, nossa humanidade redimida...
O possível é só o calabouço que aprisiona o ser humano para que ele não perceba que a história não tem scripit... é escrita na luta e é escrita pelo olhar dos que enxergam para além da linha do horizonte... o novo, a vida transformada, a libertação...
A tristeza, o desalento, a subjetividade encolhida e amedrontada, a passividade, a depressão...nascem da tirania do possível que inibe a potência e a ousadia dos sonhos e da poesia...
Assim, de novo no meu quintal, vejo a vida clamando por justiça e liberdade esinto minha mãos livres, desacorrentadas: agora, sei que guerreando, desbravamos na intimidade e no social a alegria do amanhã que se encontra de nós ocultado pelos que não o querendo o esconderam na falácia da impossibilidade...

SONHOS DO DEVIR NUMA NOITE DE LUAR: COLETIVO UTOPIA ATIVA

Amigos, 
Entre pedras, flores... Folhas secas bailando no vento...
Conchas no mar; além... o Sol, rubi-ar...
Uma lua no céu; frutos e ninhos no quintal...
No escuro da noite: há um canto... um amar.
Nos redemoinhos dos sonhos, uma travessia;
ativamente uma busca andarilha no meio da poesia:
há o clarão da aurora, anuncia a utopia...
Um novo tempo - de amar, caminhar e sonhar...
Na liberdade, a partilha; na partilha , a liberdade...
U'a só lei: a solidariedade...
Um só rei: o povo da rua na lua, voando entre estrelas;
o povo da da floresta verdejando no infinito com as sementes
das matas no chão floresndo: novo vida, nascentes -
lágrimas, flores e passarinhos
na rcorrenteza insurgente
do infinitivo amar... Caminhos, voos e um barco no mar...
No asfalto, um arco-íris... Na fogueira, uma roda -
cantigas de ninas, solfejos da paixão...
Longe, canta o sabiá... Perto do meu coração. Jorge Bichuetti


O sonho é a poesia da vida,
da vida que ama a aurora,
da aurora que chora, orvalha
o chão de cinzas e brasas
das nossas lutas: utopia ativa,
u'a democracia real, um 
socialismo de terra, poesia e seresta
entre a Lua e o nosso enluarar-se.. Jorge bichuetti



UTOPIA ATIVA: insurgência além-mar... liberdade árabe... matas do brasil verdejantes... universidade popular... u'a revoada de andorinhas, sonhos que nascem no corpo guerreiro da vida que já...
caminhou, chorando... entre flores
que sepultadas pedem às estrelas o fim da escuridão... a verdade , a verdade... o fim da repressão...
direitos humanos , sim; tortura nunca mais... jorge bichuetti



Pela vida, poesia e liberdade: democracia real...
Pela Comissão da Verdade e o fim da impunidade... Pela vida, liberdade: não à revisão do código florestal.. veto é amor às matas... pela aprovação do PLC contra a homofobia... pelos Kists nas escolas... pelo canto dos passarinhos... preservemos o jacarandá... a mata conosco fica: a vida que luta e sonha...é aroeira, aroeira: já não se pode calar... UTOPIA ATIVA

















NÃO À VENDA DO BOSQUE DO JACARANDÁ... UBERABA - VERDE QUE TE QUERO VERDE...


BRASIL: CÓDIGO FLORESTAL  -PRESERVAÇÃO DAS MATAS, NÃO À GANÂNCIA DO CAPITAL...


POR UMA TERRA SEM AMOS: DEMOCRACIA REAL

POESIA: ASAS DO DEVIR LORCA...

                                          CÍRCULO VITAL
                                                        Jorge Bichuetti

Um cavalo anda-luz
martela o horizonte
e cava no chão nu
a cova onde brotará
da semente a flor-de-lis...

Um poeta e u'a flor
solfejam na alvorada
o verso que era luar
e que na ode solar
será a cantiga do dia...

Noite e dia - a vida
roda na ciranda
da poesia. Floresce
novas belas paisagens
no cavalgar da alegria...

 

                          SÚPLICA DESESPERADA
                                                              Jorge Bichuetti

Letárgico crepúsculo enovela meus pensamentos,
turvando meu cansado coração cinzento,
onde o passado depositou o pó cinzento
das mosérias humanas da vida decadente
do mundo niilista e anêmico, da vida descrente...

Só... No lusco-fusco do entardecer, oro
e numa rogativa última, imploro:
- que voltem os sonhos e as cores da aurora;
não há vida longe dos caminhos guerreiros
onde no deserto do hoje se semeia as flores do porvir...


                            NA RUA
                                       Jorge Bichuetti

No ninho, adormeço
sonhos de aurora;
já na rua deserta 
sou puro desespero,
solitária indigência,
inocência perdida...

Um menino desnudo
carregando o peso
dos estorvos e tropeços
que a vida não consegue
tirar dos caminhos 
onde lastrou o espinheiral..

A vida na rua deserta
chora; ela também
se sente menino...


                                HAIKAIS
                                            LUARES LORQUIANOS
                                                                       Jorge Bichuetti

Lorca sussurrava
nas linhas da vida nascente:
ecos do porvir...
***
nas noites de luar,
entre sombras estelares:
voa um devir Lorca...


SOCIEDADE DE AMIGOS: TRAÇADOS DA CONTEMPORANEIDADE

                             É UMA LINHA TÊNUE

     segue
     dobra-se em curvas

     se sobe
     onde some?
     se desce
     onde morre?

     não de pontos
     ou rimas
     o fluxo

     insano

     mas existe

                                   BAILARINA

Ao fluxo corre o lacre,
no reflexo abrir das pálpebras
um arco fecha a íris.
Chove um soluço seco;
brilho cego de olhos ristes.
Tão tísicas e gastas do azul
se abrem gratas.

                            HUGO MACIEL DE CARVALHO


do livro: a poesia em uberaba: do modernismo à vanguarda / guido bilharinho



dia 11 de junho - encontro da universidade popular juvenal arduini

MESTRES DO CAMINHO: SOBRE O AMOR; JUVENAL ARDUINI E O HOMEM-LIBERTAÇÃO...

                                              REFLEXÕES:

- "Sem amor, não se forma o homem. Fabrica-se o monstro." p. 102

- "Nunca se viu o amor incinerando existências. O amor se inclina para ajuntar e levantar.vidas esfiapadas." p. 103

- "Só existem marginalizados, onde falta amor entre os homens." p. p. 103

- " O amor faz superar todas as resistências para descobrir o mistério do homem enrolado em farrapos." p. 103

- " É o amor que nos faz sair... para catar os grãos humanos perdidos nos ciscos, e limpá-los, e colocá-los sobre a mesa da fraternidade." p. 103

                    JUVENAL ARDUINI. In: HOMEM-LIBERTAÇÃO

BONS ENCONTROS: LORCA, VIDA: UM ANDARILHO DO PORVIR...


                                                 Lorca



Federico García Lorca é, ao lado de Miguel de Cervantes, o escritor espanhol mais conhecido e lido tanto na própria Espanha, como no resto do mundo. Poeta e dramaturgo, de uma obra intensa, marcada por codificações simbólicas: a lua, a morte, a terra, a água, o cavalo, a criança...
Lorca criou um dos mais belos teatros do século XX, introduzindo em suas peças uma linguagem poética singular. Sua insatisfação diante da vida transformava os costumes abordados em sua tragédia. Centro de um grupo de intelectuais que passou para a história como a “Geração de 27”, congregou com os maiores nomes do universo da arte e cultura da Espanha do século passado, entre o solar dos seus amigos estavam: Luís Buñuel, Salvador Dali, Antonio Machado, Manuel Falla e Rafael Alberti.
Federico García Lorca foi um dos primeiros a ser vitimado pela Guerra Civil Espanhola, sendo abatido pelos nacionalistas, grupo liderado pelo general Franco, que uma vez no poder, levaria a Espanha a uma ditadura de quatro décadas. Durante a ditadura franquista, o nome do poeta andaluz foi banido e proibido em todo o país. Numa época de conservadorismo dos costumes católicos na Ibéria, as idéias de Lorca, juntamente com a sua homossexualidade latente, foram decisivas para o seu fuzilamento. Se a conduta de idéias e as assimilações de vida de Lorca bateram no preconceito de uma nação, assassinando o homem, o poeta e o dramaturgo eternizaram o mito. Mesmo calada a sua obra por décadas, ela voltou com os ventos da democracia, formando um grande vendaval que fizeram das palavras dilaceradas à luz da lua, um grito que ecoou por toda a península Ibérica, tornando-se um dos maiores nomes da literatura espanhola.


Tendências Musicais no Universo do Jovem Lorca


Federico García Lorca nasceu em 5 de junho de 1898, em Fuente Vaqueros, povoação próxima a Granada, na Andaluzia. Filho mais velho de quatro irmãos, viveu uma infância que marcaria para sempre a sua vida e, principalmente, a sua obra. Todas as vezes que questionado sobre o que escrevia, Lorca aludia à infância como fonte de inspiração. Sua família enriquecera com o negócio do açúcar, formando um núcleo de pequenos proprietários e funcionários administrativos. É na figura da mãe que o pequeno Federico mais se espelha, apesar da sua tendência para a depressão. É com ela que inicia os seus estudos e aprende as primeiras letras. A infância corre-lhe feliz dentro do seio desta família andaluz, que trazia homens que gostavam da vida boêmia e da música, e mulheres que liam Vitor Hugo como modismo.
O mundo da arte abraçou desde cedo “el niño“ andaluz, que se dedicava horas a tocar piano, numa demonstração clara de vocação para a música. Por algum tempo acreditou que o pai o enviasse para Paris, onde pretendia continuar os estudos musicais, mas com a morte de seu professor de piano, António Segura Mesa, não teve como convencer a família, que queria para o filho uma profissão mais “útil”.
Terminado o sonho de ser músico na adolescência, o jovem Lorca seguiu para Granada, matriculando-se em Direito e Filosofia. Sem aptidão para os cursos, logo deles se desinteressa. Concluiria com dificuldade o curso de Direito. É desta época o seu primeiro sucesso literário “Impressões e Paisagens”. É em Granada que começa a desenvolver o seu círculo intelectual, travando conhecimento com António Machado e Manuel Falla, estreitando com eles uma longa amizade.
Em 1919 Lorca seguiu para Madrid, para concluir o curso de Direito. As conturbações culturais assolavam a Europa, que acabara de viver os duros anos da Primeira Guerra Mundial. Era hora de refazer os escombros que a guerra deixara, inclusive o cultural. Sob os ecos do horror da guerra, tudo parecia finito, os ventos reluziam mudanças, os símbolos tomavam dimensões no jogo social e artístico, refletidos em Freud e Nietzsche, incitando códigos que respingariam na obra que o jovem García Lorca começava a traçar. Nesta época publica o seu primeiro poema na “Antologia de Poesia Espanhola”, e começa o projeto de um livro de poemas. O escritor matava de vez o músico. Os versos usurpavam as notas musicais, e o maior poeta da Espanha do século XX estava pronto.


           Encontro com Salvador Dali
Em Madrid, por recomendação do amigo e antigo mestre, Fernando de los Rios, Lorca foi aceito na Residência dos Estudantes. O local era freqüentado por intelectuais, costumando receber palestrantes famosos, como H. G. Wells, Einstein, Paul Claudel, Bérgson, Paul Éluard, Louise Curie, Stravinsky e Paul Valéry.
Na Residência dos Estudantes, Lorca transforma o seu quarto em ponto de encontro de intelectuais e centro de longas tertúlias. É na capital madrilena que conhece Salvador Dali, Rafael Alberti e Luís Buñuel, que futuramente tornar-se-iam a mais fina flor de intelectuais espanhóis.
Do encontro de García Lorca com Salvador Dali surgiria uma grande amizade, movida por uma forte empatia. Se Lorca era um jovem sensível, de uma alma inquieta, Dali, não lhe ficava atrás, era um homem tímido, que se vestia de uma excentricidade perene. Se para Dali nascia uma grande e profunda amizade, para Lorca nascia algo mais, uma profunda paixão, cerceada pelos meandros sociais e pelos códigos morais que só eles ousavam decifrar além.
Se Madrid borbulha intelectualmente, também Lorca explode a sua obra. Estréia a sua primeira peça, “El Malefício de la Mariposa”, um ano depois de estar na capital espanhola. Apesar de ser sucesso de crítica, a peça é um fracasso, fazendo com que o autor volte-se para a poesia. Em 1921 lança “Libro de Poemas”, grande sucesso que o leva a publicar mais poesia. Nos três anos seguintes dedica-se a escrever várias peças e a elaborar outras tantas. Nesta fase descobre uma nova paixão, o desenho, que lhe rouba bastante do seu tempo.


             Ruptura com Dali


O ano de 1927 é intenso para García Lorca. É nesta época que ele e o seu grupo de amigos passam a ser conhecidos como a “Geração de 27”. É o ano que estréia com a companhia da atriz Margarita Xirgú, de quem se torna grande amigo. Será para a amiga que Lorca escreverá, futuramente, as maiores personagens da sua obra teatral, como Yerma e Bernarda Alba.
Salvador Dali organizou, em 1927, os desenhos de Lorca, expondo-os nas míticas galerias Dalmau, em Barcelona. Logo a seguir, Lorca publicou aquele que se tornaria o seu livro mais famoso, “El Romancero Gitano”. O sucesso foi absoluto, sendo aplaudido por todos, aclamado o melhor livro na Espanha. Apesar de ser unanimidade, Luis Buñuel e Salvador Dali acharam o livro profundamente ruim.
A opinião desfavorável de Dali, emitida em uma carta que trazia um tom às vezes magoado, transtornara Lorca. Se a sua obra atingia com sucesso a Espanha, por outro lado Salvador Dali afastava-se cada vez mais. Lorca apercebera-se que Dali desenvolvia um interesse latente por Gala, mulher de Paul Éluard. Amargurado com a falta de solidariedade de Dali, Lorca entrou em depressão. Quando questionado, falava que era por problemas sentimentais por conta de uma desilusão amorosa. Por detrás da depressão, a verdade era só uma, o momento de ruptura com Salvador Dali.


                Surge o Grande Dramaturgo


Se o momento era de conquista profissional, as perdas sentimentais eram irreversíveis, e Lorca deixa-se deprimir. É neste período que o antigo amigo e mestre Fernando de los Rios, com viagem marcada para os Estados Unidos, convida-o para acompanhá-lo. Lorca sabe que o momento é de rupturas, de transformações e ebulições interiores. Decide aceitar o convite do amigo e deixa a Espanha, partindo para Nova York.
Acostumado às tertúlias intelectuais de Madrid, aos salões culturais europeus, Lorca vê-se perdido e esmagado em Nova York. Rejeita tenazmente o olhar americano sobre a vida. Não só ele vivia uma depressão, como a própria Nova York explodirá a sua bolsa de valores, levando a recessão econômica para o resto do mundo.
Passada à primeira imagem depreciativa da cidade, e também a depressão por sua ruptura com Salvador Dali, Lorca abraçará Nova York com paixão. Entrará em uma grande fase criativa, escrevendo um ciclo de poemas que será agrupado sob o título de “Poeta em Nova York”, além da peça “Assim que Passarem Cinco Anos”.
Quando regressa à Espanha, Lorca entrega-se a um período de intenso trabalho. Ao lado de Eduardo Ugarte funda a companhia de teatro La Barraca. Encena vários dramaturgos espanhóis, percorrendo em itinerância com a companhia, várias regiões da Espanha. A partir de então, escreverá as peças que se irão compor as suas principais obras. Lorca mescla poesia e teatro em uma linguagem única, transformando a forma de encenação das peças nos palcos espanhóis. Sua dramaturgia é marcada pela obsessiva visão de que o desejo e o sexo são os fios condutores da vida e da morte. Lorca declararia que o público de teatro da época só tinha interesse pelos temas social e sexual, e que optara pelo segundo.
É neste contexto que o autor faz rupturas com o teatro burguês, enquadrando-o no seu misterioso mundo particular, jogando no palco a dolorosa e solitária visão da vida. É no palco que se despede dos amores impossíveis, da tragédia dos sentimentos escondidos em quartos clandestinos de amantes que desafiavam o mundo. Será assim em “Bodas de Sangue”, quando a mulher abandona o marido para seguir o amante, causando-lhes a morte; em “Yerma”, a esterilidade enlouquece a mulher, que termina por matar o marido; ou ainda, “A Casa de Bernarda Alba”, em que a defesa da honra caprichosa impede o avanço dos amores. Nas três tragédias, evidencia-se o autor diante do mundo, preso às impossibilidades sociais diante da sua forma de amar, à esterilidade que a sua homossexualidade o atira, e aos preconceitos que lhe irão, assim como na primeira peça citada, causar-lhe a própria morte.


                         Abatido Pela Guerra Civil


O último ano de vida de García Lorca é marcado por um fértil momento criativo e atividade profunda, quer como poeta, quer como dramaturgo. Neste ano estréia “Doña Rosita”, além de elaborar aquela que seria a sua última obra teatral acabada, “A Casa de Bernarda Alba”. A estréia da peça estava marcada para julho de 1936, mas alguns imprevistos causaram atrasos que empurraram a estréia para setembro. Por este motivo, Lorca seguiria para Granada para visitar a família.
Os tempos na Espanha traziam uma grande tempestade sobre a liberdade, atirando-a em uma trágica guerra civil.
Ingenuamente Lorca não acreditou que um conflito pudesse acontecer em seu país. Quando chegou a Granada, encontrou um clima tenso, pois a cidade tinha sido palco de alguns confrontos. Dois dias depois de ter chegado à terra natal, a guerra civil eclodiu.
A situação do poeta era delicada, suas posições políticas eram vistas com repúdio pelos conservadores direitistas, o suficiente para pôr a sua vida em perigo. Dias antes de regressar para Granada, subscrevera, a pedido do Comitê dos Amigos de Portugal, um abaixo-assinado em protesto à ditadura de Salazar. Sua homossexualidade era incômoda para os mais ortodoxos moralistas da época.
Sabendo que corria risco de ser morto, Lorca decide sair da Espanha, seguindo para o México, onde já estava a amiga Margarita Xirgú. Mas ele demora muito em executar o plano de fuga, em parte por ainda acreditar que o conflito talvez não se vá estender por muito tempo, ou por temer que a família sofresse retaliações. Por várias vezes teve a hipótese da fuga. Sejam quais forem os motivos, os questionamentos de Lorca naqueles momentos decisivos, a hesitação e demora em deixar a Espanha custar-lhe-ia a própria vida. Quando se sentiu acossado, Lorca refugiou-se na casa da família do poeta e amigo falangista, Luís Rosales. Estava decidida a sua sorte!
Um vulto negro surgiria na vida de Lorca, o sinistro Ramon Ruiz Alonso. Homem conhecido por ser um fervoroso católico, conservador e fascista, Alonso tinha um ódio natural por Lorca. Destacado para fazer a limpeza dos vermelhos de Granada, ele escreve um auto de denúncia contra Lorca, iniciando a sua caçada. Para Alonso, Lorca era “mais perigoso com a caneta do que outros com revólver”. O algoz inicia uma operação militar de captura a Lorca. As ruas foram fechadas, as casas cercadas e franco-atiradores foram postos nos telhados. Lorca foi preso.
Assustado, Lorca foi informado que Alonso decidira que seria executado. Ao saber do seu destino, Lorca chorou, fazendo um último pedido, que lhe fosse chamado um confessor, pedido que lhe foi negado. Solitário com os símbolos e as palavras que fizera da sua vida o sentido dos homens talhados para os mitos, Lorca passou a última noite de vida na prisão, a rezar, a esperar pela tragédia, vivida no seu próprio palco. Tão logo a lua, companheira eterna da sua obra, em quarto minguante, retirasse-se do céu, restar-lhe-ia a morte como sorte.
Logo pela manhã do dia 19 de agosto de 1936, Federico García Lorca, uma dos ícones da Espanha, foi levado da prisão pelos Nacionalistas do general Franco. Foi posto debaixo de uma oliveira e ali abatido com um tiro na nuca. Já no chão, ainda disse: “Todavia estoy vivo”. Foi quando um dos seus executores deu-lhe um tiro de misericórdia no ânus, porque assim deveria morrer os “maricones”.
Morto aos 38 anos de idade, García Lorca teve o corpo deixado em um ponto de Serra Nevada, em uma vala comum no barranco de Viznar, em Granada. Após o fim do franquismo, durante décadas a família de Lorca impediu que a vala onde o corpo foi deixado fosse aberta e o corpo exumado. Uma resolução do juiz Baltasar Garzón, de 2008, obrigou que a família voltasse atrás na sua decisão. Segundo o juiz, ali estão outros corpos de homens que também foram mortos pela guerra civil, e as famílias desses homens querem prestar-lhes uma homenagem justa e enterrá-los com dignidade cristã, o que era impedido pela recusa da família de Lorca.
O governo ditatorial de Franco tentaria explicar em vão a morte de Lorca diante da Espanha e do mundo. O assunto sempre foi tratado pelos franquistas com ressalvas e apontado como um lamentável acidente de guerra, já que Lorca era apartidário. Segundo os franquistas, o escritor caíra apanhado no turbilhão confuso dos primeiros dias de guerra. Se a morte de Lorca tinha sido um lamentável engano, como afirmavam, a proibição da encenação das suas peças durante o franquismo era uma realidade tenaz. Possuir livros do autor era considerado subversivo, trazendo perigo para quem teimava em ler o poeta andaluz. Mas a voz de Lorca ultrapassou a vala que seu corpo tinha sido atirado, cumprindo a profecia das suas palavras, que dissera anos antes de ser abatido: “Um morto na Espanha está mais vivo como morto que em nenhum outro lugar do mundo”.
Federico García Lorca, assim como as tragédias que escreveu, encerrou a vida dramaticamente, como mártir de uma sangrenta guerra que devastou a liberdade da Espanha. Em Granada ele encontrou a inspiração para a sua obra, a lua da Andaluzia iluminaria o palco das suas palavras. A mesma Andaluzia que lhe serviu de berço e de vala funerária, a mesma Granada que deu à luz e tragou um dos mais valorosos poeta e dramaturgo da literatura universal.
DO BLOG: telemorfose.blogspot.com


segunda-feira, 30 de maio de 2011

DIÁRIO DE BORDO: ENTRE A POESIA E O SONHO...

                                                               Jorge Bichuetti

Madrugada escura e fria... A Luinha não quis ir no quintal; com seus olhinhos marotos, desistiu da ventura... Armado de café quente e amargo, lá fui... vi minhas roseiras e o perfume da terra orvalhada, úmida esperando os beijos do sol... Os álamos silenciosos e quietos me pareceram nobres guardiões do sonho das pequenas samambaias que indefesas dormiam...
Ali, a vida fala, conta histórias e declama versos... com atenção, ouvimos seu canto... A vida é a magia terna das auroras que se repetem com estribilhos de esperança que nos ensinam a não crer nas profecias sinistras do  escuro da noite e a não duvidar do alvorecer que chegará com as alvissareiras notícias de um novo dia.
A vida é sonho e é poesia...
Para os que se submetem ao domínio monolítico do racionalismo pragmático, lógico e instrumental, matemático, estas assertivas são delírios da madrugada.
A vida é, para eles, concreto, aço, neurónios e tendões... e um amontoado de prateleiras com mercadorias... no fundo, um cofre onde se encontram guardados ouro e prata, os valores amoedados do mercado.
A vida é um além...
Um canto de passarinho anunciando o primeiro raio do sol; o desabrochar de uma rosa  profetizando os ardores da paixão... Uma criança balbuciando sua primeira palavra com o brilho de quem agora detém no olhar o azul do infinito...
A vida é um além...
Um sussurrar suave do riacho peregrino... Um luar, uma fogueira, uma viola e uma canção... Um sorriso, um verso... Um céu estrelado, um arco-íris...
Poesias vivas - a vida narra em versos sua utopia de ternura, paz e amor...
O sonho potencializa a existência... Dá asas, um voar... um ir além... um estar no agora com os pés andarilhos tocando o infinito.
Diz, Subcomandante Marcos, que inevitavelmente, o sol virá... que a diferença está em esperá-lo quieto e passivo ou andar, caminhar buscando-o... indo abraçá-lo.
Costumeiramente, somos ativos no que se refere ao funcionamento do mundo de mercadorias: labutamos, economizamos, suamos e nos desgastamos para acumular riquezas, um património... um status.. um nome... um lugar de realce no palco das epopeias do mundo social.
Contudo, passivos, não agimos nem sentimos que somos um coração que pulsa, sonha e brilha... Não percebemos que somos desejos e sonhos, poesia e magia num encantamento que nos abre os portais do infinito na finitude do instante vivido com intensidade e paixão.
Somos homens servis... servos do concretismo monetário que hoje nos angustia por escorrer das nossas mãos na sua atual liquidez volátil.
Temos medo da poesia e dos sonhos... Tememos o humano demasiado humano da vida que encanta e sorri na suavidade das pequenas alegrias e nos enlouquecedores êxtases dos vendavais orgásticos.
Querendo possuir e vencer, esquecemos de ser feliz...