domingo, 29 de maio de 2011

SOCIEDADE DE AMIGOS: OS GEMIDOS DO MUNDO...

                                      HORA ESSENCIAL
                                                  Santino Gomes de Matos

Eu tinha um pífaro
e os gemidos do mundo.
Entretanto, meus lábios sem sopro
dormiam no êxtase planturoso de uma flor de cacto,
como ferida muda dos espinhos.

Eu tinha um pífaro e os gemidos do mundo.

Mas o silêncio,
o meu silêncio de inocência distraída,
rimava com os olhos fantasmas das luas mortas,
num fundo de céu inapelável.

Eu tinha um pífaro e os gemidos do mundo.
Não sei se a hora essencial desfechou do alto
ou se amadureceu dentro de mim
em abismos revelados,
para que nascesse de novo.

Eu tenho um pífaro que ressoa
afinado pelos gemidos do mundo.

DO LIVRO: A POESIA EM UBERABA: DO MODERNISMO À VANGUARDA / GUIDO BILHARINHO


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