Jorge Bichuetti
Noite. Céu estrelado. No silêncio, os ruídos da noite que está no meio... O amanhecer irá demorar. A Lua me acompanha... Lhe protejo do frio; ela vigia: ladra, vigia o escuro e seus enigmas... Não me parece perigosa, sei que o é... O mundo mudou. Antes a noite era o lar e a capela dos poetas; hoje, a violência ronda... Aspiro o cheiro das rosas...
Recordo-me: não muito longe, no dia que iniciava esta caminhada - o blog Utopia Ativa , ante minhas dúvidas, tive que definir: o que você deseja com um blog? inocente; respondi: um blog. O programador argumentou: divulgar seu trabalho de psicoterapeuta; i captar demandas de cursos e supervisões; vender seus livros?... Era um lindo por-do-sol; mirando o horizonte, tudo clareou: eu quero o meu devir passarinho...
Meu pai e o velho Nietzsche, se nomeavam , do mesmo modo: velhos passarinheiros...
Eu, não, queria e quero meu devir passarinheiro...
Devir - um vi-a-ser que acontece no estradear das experimentações da vida...
Devir - para Nietzsche, o parir um dos meus eus não-nascidos...
"Somos metamorfoseantes" - afirma Orlandi... Uma multiplicidade que é uma rede de singularidades...
Devir criança, animal, mulher, imperceptível... n devires...
Meus Deus! o que será um devir passarinho?...
Hoje, no escuro da noite, antes da aurora, longe dos ardores do meu quintal, reflito...
O homem normalidade - o normótico - é cinzento, de pés no chão, pesado, preocupado e preocupante, sério, sisudo...
Eu quero meu devir passarinheiro...
Voar com as asas dos sonhos e das poesias e no ar, livre, não me prender aos compassos do relógio; perambular pelo infinito como se as estrelas fossem no meu agora de homem maduro minha pipa e minhas bolhas de sabão...
Viver, cantando; viver de cantar... Assobiando as alegrias da natureza e profetizando a chuva...
Fazer ninho no coração da vida, com singelos materiais, esquecidos do ouro e da prata, que escravizam as vidas banais...
Voar; voar livremente...
O homem, normalmente, só sente a falta da liberdade, quando a perde...
Porém, quase nunca a temos...
Queremos ouro e prata; amores eternos e previsíveis; sabedoria soberana e absoluta; e pouco, uns mais, outros menos, mas um pouco de tirania...
Nada disso me interessa: pesa muito e me impede de voar...
Quero do passarinho a leveza, a pureza, a simplicidade, a ternura e a liberdade. quero um devir suavidade...
Na noite, meu ninho... Na sede, água de riacho... na fome, grãos e frutos caídos na estrada...
Eu quero o inifinitvo do verbo amar sem qualificá-los com possessivos , ou maculá-los com a temporalidade que os fazem nuvens passageiras... Eu, passarinho, quero a alegria de só amar...
Livre voar com os sonhos e com as poesias...Depois, velho, agonizante, partirei, ouvindo como prece, no silêncio final, o meu canto de passarinho...
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