Jorge Bichuetti
No céu, só a estrela da manhã... Um pequeno intervalo entre a noite o dia. Os sinos badalaram e eu escutei palavras de bom ânimo. Na quietude dos álamos, me vi num devir sereno... A escuridão do inverno e sereno frio, me trouxe para dentro: dentro de casa, dentro de mim...
A Luinha quis conversar; e que seu jeitinho matreiro me olhou condenando-me pela minha incapacidade com os aparelhos da hiper-modernidade: tentei telefonar e não sabia como transferir um número do universo das palavras escritas para o mundo da voz... Não sei, não sou assim, mas com filhos e mascotes, todos gostamos de ter razão. Burrice do século XX que ainda não jogamos, de todo, no lixo, disse com ar de sapiência: eu tenho a minha utopia...
Talvez, agora, reflita sobre o que ela piedosa não me perguntou...
O que pode uma utopia?...
Utopia - lugar nenhum, sonho impossível, pode ser uma ilusão que nos tire do chão, chão de semear, lutar, caminhar e inventar um novo horizonte...
O niilismo e o fatalismo paralisa; geram apatia, acomodação, submissão e servilismo.
E a utopia?
Se é um depois postergado para um jamais; se é um impossível não convertido numa possibilidade real e desejada, igualmente, nos aliena... Nos aliena de nós mesmos e da história.
Mas como viver sem utopia , se não suportamos lúcidos e fortes a desilusão da normalidade dada pela racionalidade técnico-instrumental?
Olhei nos olhos da minha pequena Luinha, com ar vitorioso e passando rapidamente o olhar sobre os meus livros e sobre a minha vida, disse , silencioso: há uma outra utopia...
Há a utopia ativa...
O projeto do pensamento sartreano...
O inédito viável da obra de Paulo Freire... O inédito viável que está na superação das situações-limites...
Há a Utopia Ativa do institucionalismo que é o pão e o vinho da minha caminhada...
Porém, o que é uma utopia ativa?
Um ideal que norteia os passos no caminho; um ideal perseguido, buscado no ardor das batalhas diárias... contudo, nunca um ideal esperado, busca-se, luta e no caminho já se vai construindo-o, dentro e fora de nós...
Um sonho não mais impossível... O outro mundo possível: homem novo, vida nova, nova sociabilidade solidária, terna, alegre e libertária... Um sonho partilhada, coletivizado. Um sonho que sendo horizonte , é também chão...
Sonho que afugenta a tristeza, o desânimo e a apatia: sonho que se alimenta, realizando no dia-a-dia... enquanto lutamos por vê-lo pleno no alvorecer do amanhã que tecemos no hoje...
Sou um homem de utopias...
Que escuto a voz poetiza do guerrilheiro das selvas mexicanas Sub-comandante Marcos: "Não é preciso conquistar o mundo. Basta fazê-lo novo. Hoje. Nós."
E que ressoa dentro de mim no canto de esperança de Hebe de Bonafini, Madre de Plaza de Mayo: "... revolução se faz, fazendo; revolução se faz, partilhando; e revolução se faz, dando-se".
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2 comentários:
Teu Diário de Bordo é sempre um convite para eu navegar pelo mundo da justiça, da liberdade e da utopia. E que ele chegue logo, esse outro mundo possível! Beijos
Tânia, sim, que chegue logo: com amor, alegria e liberdade... Abraços com carinho; jorge
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