terça-feira, 31 de maio de 2011

DIÁRIO DE BORDO: A POESIA DO AMANHA HOJE PULSA E BRILHA OCULTA NO FALACIOSO IMPOSSÍVEL...

                                                Jorge Bichuetti

Há pouco tocaram os sinos; tristes, melancólicos - orações do vento... Choram as mortes dos ambientalistas, do povo da floresta, no norte do Brasil... E choram o temor de ver o bosque dos jacarandás vendido, prostituito pelas sombras que nos ameaçam, desde que o Congresso Nacional do nosso país amputou o Código Florestal... Ah! que saudade da vida quando a poesia era só lágrimas do amor na despedida; cheiro de flores no sereno da aurora; e sonhos de construção da solidariedade viva na alegria da partilha... "Viver é perigoso"... necessário é lutar... O sonho e a poesia longe da luta são nuvens numa aquarela desbotada.
O orvalho que ora é o úmido chamado da terra no seu venturoso cio de paixão; e que é ora é lágrima vertida na escuridão da noite; hoje, no meu quintal é um rio resistente que clama, reclama e exclama: "eu creio na justiça e na esperança"... "faz escuro mas eu canto"... "o deserto é fértil"...  Entre pedras, flores...
A Luínha dorme, confia... Crê na valentia e na dignidade dos homens e mulheres que lhe mostro no raiar do dia quando lhe digo onde e por onde anda nossa utopia ativa...
As palavras vão lentamente desenhando o meu cansaço... a lentidão da velhice, o corpo febril... o medo do escuro... e os ruídos sinistros que abafam o vozerio das cantigas que nasciam e nascem no meu quintal...
Onde anda a esperança?... Por onde voa a paz?...
O sol nasce, tímido... Os álamos se escondem assustados... As samambaias rezadeiras resmungam e pedem a presença de Oxossi e de Zumbi...
Ando e escuto no silêncio: a vida é resistência da magia que ela própria inventa nos versos de u'a poesia que relembra os sonhos da aurora insurgente que espera impaciente o dia que o alvorecer lhe dará um novo tempo, um novo dia... um devir... um porvir... um encanto de alegria na asas da liberdade que gloriosa azulará o chão e florirá os céus...
Nos velhos papéis, os escritos de Che, o audacioso guerreiro: ousar lutar, ousar vencer...
Passeando pelo quintal, com solilóquios de desalento, vejo o limoeiro florido, dizendo-me dos frutos que chegarão e uma romã madura pedindo-me que experimente-a e observe o doce mel da vida, da vida que mesmo machucada floresce e frutifica, resistente e guerrilheira, andarilha que se vitaliza transitando entre os espinheiros das lutas do chão e as florescências poéticas da bruxaria dos sonhos que não conhece limites entre o possível e o impossível...
Remoçado, volto à escrita, para dizer algo que não é meu, é da vida , é um escrito dos sonhos no livro da utopia: toda tristeza e toda força da tirania vem da nossa médiocre visão que aceitamos os alvitres da opressão nos afirmando glamourosos que havia entre nosso dor e o amanhã uma barreira, um abismo: o impossível...
Podre ilusão! o impossível é uma invenção que bloqueia a esperança, que cruza nossas mãos e que nos fazem cabisbaixos, homens de vida retalhada pelas tristes e amargas desilusões...
O impossível é possível... Nele, mora a saída, nossa alegria perdida, nossa subjetividade guerreira, nossa inovadora poesia, nossa humanidade redimida...
O possível é só o calabouço que aprisiona o ser humano para que ele não perceba que a história não tem scripit... é escrita na luta e é escrita pelo olhar dos que enxergam para além da linha do horizonte... o novo, a vida transformada, a libertação...
A tristeza, o desalento, a subjetividade encolhida e amedrontada, a passividade, a depressão...nascem da tirania do possível que inibe a potência e a ousadia dos sonhos e da poesia...
Assim, de novo no meu quintal, vejo a vida clamando por justiça e liberdade esinto minha mãos livres, desacorrentadas: agora, sei que guerreando, desbravamos na intimidade e no social a alegria do amanhã que se encontra de nós ocultado pelos que não o querendo o esconderam na falácia da impossibilidade...

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