quarta-feira, 10 de agosto de 2011

GEOGRAFIA DAS DORES AMOROSAS

                                              Jorge Bichuetti

Talvez, pudéssemos simplificar e dizer: sofremos no amor porque nosso amor é amor dependente e um existir focado mais na expectativa de ser amando do que na alegria de amar...
Precisamos ir adiante e entender melhor... A assertiva acima é verdadeira, porém, relata efeitos longe de nos desnudar as entranhas da nossa vida amorosa.
Antes de tocar no miolo, cabe assinalar algo muito prático... comumente, quando amamos, amamos e passamos a esperar toda alegria e paz  deste vínculo. Esquecemos nossos outros eus; ou, as outras facetas da nossa vida... Assim, ficamos à mercê do sucesso ou do fracasso... Num ou noutro, pesa o vazio: esvaziamos nossa vida - abandonamos nossas amizades, nosso lazer, nossos sonhos pessoais... e depositamos numa única pessoa a responsabilidade do nosso destino. No fim de um relacionamento, a pessoa nota isso... no concreto. Fica um abismo e um vazio medonho.
E isso não ocorre casualmente... por erro de tática: é que nosso modo de amar da subjetividade capitalística é totalizante.Temos saudade do nirvana, prazer oceânico no útero materno... A ideia de totalização é vida jogada no abismo... o mesmo ocorre na drogadição: um ideal de ser sem falta; de sentir-se pleno...
A amor, assim, preventivamente, deve ser vivido sem anular as nossa múltiplas linhas da vida: trabalho, lazer, arte, cultura, rede de amizade, fé e espiritualidade, política...
Depois, o amor que vivemos é ainda o amor do paradigma do amor romântico. Total, único, eterno... e proibido, impossível.  Romeu e Julieta; Tristão e Isolda... modos de se buscar um  ideal absoluto fadado a uma trágica infelicidade...
O que se explica por ele, permanecer no nosso psiquismo como amor proibido, incestuoso, edípico...
O modo de amar edípico é um amor que se afirma na sua própria negação... Ele é competitivo, triangular, baseado num terceiro excluído... O que nos leva a concluir que ciúme, possessividade, medo e traição compõem o modo de amar edípico.
Amor que reproduz o nosso amor primeiro... amor pelos nossos pais...
Um triângulo, um estar com na negação do outro... Um terceiro excluído afirma a veracidade e a grandeza do amor vivido...
A grandeza e veracidade de um amor vivido são, verdadeiramente, confirmado pela se realização como alegria e bom encontro. Corpos que enriquecem e que alegram e se alegram no encontro.
Se vivemos um amor, inspirado no amor incestuoso, edípico, é natural e assim ocorre que ele se desenvolve cheio de contradições: afirmações da alegria e da partilha combinada com sabotagens, nascidas da nossa culpa inconsciente que pede punição...
O édipo existe... contudo, ele não precisa governar a nossa vida... podemos negá-lo inventando um amor terno e cúmplice, de doação, de afirmação da reinvenção das nossas próprias subjetividades.
Para isso, temos que nos negar ao canto de sereia dos amores edípicos...



4 comentários:

Mila Pires disse...

Sintonia perfeita!!!
Beijos...com carinho...e tentando voar por entre pedras e flores...

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Mila: lhe adoro; abraços com carinho... e digo-lhe, precisando ombro e descanso, canções e luares venha passar uns dias no nosso quintal: abs ternos, jorge

Anônimo disse...

Dr. Jorge,

Os homens são profundamente possessivos no verdadeiro significado da palavra.
Diga-se de passagem como os assassinatos de mulheres, a lei Maria da Penha.ESSA POSSESSIVIDADE CHEGA A SER INFANTIL.Como amar um homem nessas condiçÕES. É PATETICO E TRISTE.AINDA BEM QUE JÁ ENFRENTEI MEU PEDAÇO. BEIJINHO LINDO DENISE

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Denise, sim, amor predominantemente tem sido vivido como psse e ciúme; pouca produção de alegria... Precisamos reinventá-lo. Abraços com carinho, jorge