Jorge Bichuetti. Médico, Psicoterapeuta. Analista Institucional e esquizoanalista. Diretor Clínico da Fundação Gregorio F. Baremblitti/ Uberaba. Professor do Instituto Felix Guatarri/ BH.
Autor de Lembranças da Loucura, Crisevida e Estrelas Cadentes. Poeta, militante, sonhador...
... Entre amigos, madrigais e a Lua é um nômade caçando o seu devir passarinho.
Ser cidadão é assumir que agindo ou omitindo, somos protagonista de um tempo... Há tempos que a cidadania nos é roubada... E há outros tempos que acorrentados no fatalismo e na comodação, delegamos nosa cidadania aos que alojam-se no poder... Há um poder no estado instiuído; e há um poder andarilho no povo que é voz e expressão, potência de agir ou omitir, sempre sendo o base do caminho ético ou dos desvarios treloucados do poder corrupto... Ai, está... Queremos sustentabilidade: matas, riachos e rios; bichos, nossa passarada... Ou nada disso nos importa... Eu quero minhas matas... meus rios e riachos... não vivo sem o canto dos meus pasarinhos... Assim, diante da irrespoinsabilidade histórica do Congresso Nacional, que votou o Código Florestal com espírito sanguinário dos que almejam a ganância, devastando a vida do seu belo verdejar... Rios e riachos foram condenados... Querem o deserto... o aquecimento global... a Terra falida... Silenciar é ser cúmplice dos crimes ecológicos do Código Florestal... Deste modo, sejamos dignos, gritemos: VETA, DILMA!!!
Noite estrelada... Cheiro de Jasmim... Lua no céu entre miríades de estrelas cintilantes... Eu, aqui... entre o sereno e os álamos... Minha Luinha teima e me acompanha... Ela vê a vida e não se intimida: quer viver - cada momento, cada segundo...
Aspiro o ar da madrugada e penso: a vida é um silencioso movimento, um bailado de versos que moram no coração das coisas... O vento assobia uma cantiga de ninar; mas, o sono se foi... Ficaram os sonhos...
O silêncio da madrugada é casa de cheia de lembranças...
Recordo, pouco a pouco, as serestas do ontem; as poesias perdidas nos livros guardados no baú do tempo...
A vida nos ensina através das cantigas do silêncio...
A palavra fotografa a vida... roubando-lhe a beleza e a altivez do seu movimento...
A vida baila: na quietude, valsa... Nos atropelos da velocidade, samba...
Trapezista, valsa e samba nas trilhas das lutas cotidianas... como valsa e samba nos voos transversais dos sonhos...
Amiga da alegria, ela eca, acolhedora, tristezas e lágrimas...
Irmã da esperança, ela alvorece... Amanhece vida nova...
Há sempre na vida um clamor por mudanças: movimento criativo de novos caminhos, novos horizontes...
É a dança do vento no coração do tempo...
Não desanima... Resiste, insurge, rebela-se... tem ânsia do novo nas asas que nos permitem voar sobre abismos...
Os abismos aterrorizam... Os tememos...
Neles, moram os monstros da destrutividade...
No voo, a invenção criativa do novo: o devir, nossos eus não-paridos...
A fuligem da mesmice asfixia a vida... Nos entorpece; nos paralisa...
Mas, o mundo odeia o novo... ele se quer permanência, estabilidade, status quo...
O novo amplifica nossa capacidade de viver e existir..
Na escuridão, acende velas na imensidão e o céu estrelado fala do que pode o azul do horizonte...
Na aridez dos dias duros, é a poesia da água que nos esperam nos arbustos do sertão...
Viver é reinventar-se na coragem de desbravar no caminho o que pode a vida nos trinados da ternura e nos batuques da compaixão...
A melodia da vida é o salto... O salto vitalizante, o salto inovador...
A maior da vida é a nossa acomodação, covardia... servidão e indiferença... um stacato...
A vida se plenifica nas trincheiras da luta...
Luta pela vida, da vida, na vida... Um mergulho no infinito criando fontes e pontes; cais e ninhos... Um não à morte civil; um sim à vida de ousadia que experimenta o amor, a partilha... o riso e dança... a poesia e o sonho...
De braços cruzados, na ladeira da autodestrutividade... vegetamos hipnotizados pelos abismos.
Voando com as asas dos sonhos, potencializamos na esperança nossa capacidade de na vida parir o novo...
Um ir além, um ser mais...
"Felicidade se acha é em horinhas de descuido" - dizia Guimarães Rosa...
Deixemos, então, as margens do caminho... as bordas do abismo... Voemos e busquemos nas horinhas de descuido encontrar a felicidade, entre flores que brotam teimosas entre pedras... Afirmando que sempre podemos ir além, ser mais... parindo o novo no ventre germinativo do caminho...
um menino girando a bola no drible seco e elegante; deuses bailando no luar e tecendo do vento paixões...
o mundo é o bailado das folhas secas que adubam no chão e no céu, flores de u'a nova, terna estação...
a vida se dá no entre da alegria, menince faceira e a magia do destino, jogo dos fluxos cósmicos, no
caminho, trilha da aurora...
ORAÇÃO AO VENTO Jorge Bichuetti
Vento, que baila e caminha, morando alhures, além.. trazes com teu carinho os germes da alegria e um pouco de poesia... como se acendesse uma vela nas caplelas dos corações, onde deuses e meninos cirandam o canto da vida na melodia dos amanhãs...
Há um céu no teus olhos negros: noite estrelada...
Há um arco-íris na tua pele macia: cio do luar...
Há tanto amor no teu coração florido: primavera sideral...
Há o amor, caminho e sonho: aurora que me desperta num terno delírio de magia, somos sereia e mar...
jorge Bichuetti
Não paremos no beco, sigamos novos caminhos... o amor é luz, vela acesa... que quando queimada já volta a ser claridade terna, nem pode ser ninho e cais... E a vida é tão somente um valente navegar, um brejeiro voo no bailado das estrelas que se enamoram do luar: este mago do amor, florido no orgasmo dos que felizes são... vadiando no infinito e roçando a imensidão num cálido êxtase de ser um... atado suavemente no silêncio, de mãos dadas...
da aurora... entre flores, sereno e serestas, eu sou
a metamorfose no casulo,
a valsa dos deuses no circo
das travessuras rebeldes,
a paixão no cio das primaveras,
o livro de rabiscos e linhas
que circulam na roda da utopia,
escrevendo o porvir
que habita as íris dos enlouquecidos e santos...
Eu sou a relva do céu que germina entre lírios nos charcos do mundo...
O MAR Jorge Bichuetti
o mar chora no encanto das sereias; o mar chora na saudade das nascentes que brotam nas matas e caminham, carregando nas folhas secas a memória da primavera que canta e baila, florescendo co'a vida...
o mar chora... ele é a imensidão dada pela entrega amorosa de rios e riachos que azulam a vida, se aridez não os secam... se a ganância não os matam...
o rio e o riacho no útero da floresta são... o embrião do mar, na mina onde o infinito fecunda o verdejar dos campos, o canto da passarada e a poesia da cascata...
o mar chora... a vida chora... temem o inclemência do machado, temem um mundo de cinzas, cimentado no concreto apocalíptico dos fosséis que guardarão no nada o verde e as flores da vida em gestação no coração das florestas...
Até um certo momento o Uruguai só era mencionado
no Brasil por duas coisas: ricos iam se divorciar e/ou casar e ter
lua-de-mel em Punta del Este e pela derrota no fatídico dia 16 de julho
de 1950 para a seleção Uruguai no Maracanã, de virada, na Copa do Mundo
feita para o Brasil ser campeão. Alguns haviam passado por Montevidéu e
diziam que ficava a meio caminho entre Porto Alegre e Buenos Aires.
“Os
uruguaios temos certa tendência a crer que nosso país existe, embora o
mundo não o perceba”, diz Galeano. “Os grandes meios de comunicação,
aqueles que têm influência universal, jamais mencionam esta nação
pequenina e perdida ao sul do mapa.”
Um país de poucos milhões
de habitantes que, como diz ele, tem população similar a alguns bairros
das grandes cidades do mundo, mas que provocaria algumas surpresas para
quem se arriscasse a chegar por ali.
Um país que aboliu os
castigos corporais nas escolas 120 anos antes da Grã-Bretanha. O Uruguai
adotou a jornada de trabalho de oito horas um ano antes dos Estados
Unidos e quatro anos antes da França. Teve lei do divórcio setenta anos
antes da Espanha e voto feminino quatorze anos antes da França.
O
Uruguai teve proporcionalmente o maior exílio durante a ditadura
militar, em comparação com sua população. Assim, tem cinco vezes mais
terra do que a Holanda e cinco vezes menos habitantes. Tem mais terra
cultivável que o Japão e uma população quarenta vezes menor.
O
país ficou relegado a uma população escassa e envelhecida. Tristemente
Galeano diz que “poucas crianças nascem, nas ruas vêem-se mais cadeiras
de rodas do que carrinhos de nenês”.
Ainda assim, Galeano
consigna bons motivos para gostar do seu país: “Durante a ditadura
militar, não houve no Uruguai nem um só intelectual importante, nem um
só cientista relevante, nem um só artista representativo, único que
fosse, disposto a aplaudir os mandões. E nos tempos que correm, já na
democracia, o Uruguai foi o único país do mundo que derrotou as
privatizações em consulta popular: no plebiscito de fins de 92, 72% dos
uruguaios decidiram que os serviços essenciais continuaram sendo
públicos. A notícia não mereceu sequer uma linha na imprensa mundial,
embora se constituísse numa insólita prova de senso comum.” Talvez por
esses “maus exemplos” tentam desconhecer o Uruguai, apesar da
insistência dos uruguaios de afirmar que seu país existe.
Por tudo isso, Galeno se orgulha do seu “paisito”, “este paradoxal país onde nasci e tornaria a nascer”.
- "Amo a liberdade, por isso deixo as coisas que amo livres. Se elas
voltarem é porque as conquistei. Se não voltarem é porque nunca as
possuí."
- "Quando fizeres algo nobre e belo e ninguém notar, não fique triste. Pois o
sol toda manhã faz um lindo espetáculo e no entanto, a maioria da
platéia ainda dorme..."
- "Eu tenho o maior medo desse negócio de ser normal."
Caminho, voo... Meus sonhos não se calam... minha esperança não se intimida... minha vida nunca se dá longe da aurora... Amanhecendo, renasço...
No quintal, o céu azul... o voo e o canto dos passarinhos... Meu corpo mergulhado no orvalho... meu coração, passagem nas andanças do vento... Assim, me teço, me refaço... Esqueço o ontem; e me arrepio com a textura de ternura e compaixão que me anuncia o que pode a vida desacorrentada, vida no vento caçando audaciosa os acordes do amanhã...
Viver é deglutir o tempo, bailar livre nos caminhos de coragem e valentia do destemido vento...
( Tomo meu café... aspiro o cheiro da terra molhada... Escuto Luinha, que nada fala; contudo, tudo me diz com seus olhinhos de carinho e amar.)
Talvez, para uma pequena criança - um singelo e sensível animalzinho de Deus, não seja fácil perceber que as tristezas e dores não necessariamente uma negação soberana da capacidade de criar, sustentar, propagar a alegria...
O vento leva as folhas secas... trazem adubo e sementes, são agenciadores da fecundação revitalizadora da vida...
Aprendi a escutá-lo... Com o vento, me descubro nas potências do infinito e das pedras miúdinhas do caminho...
A alegria é conexão desejante com a vida que sonha e se renova, reinventando-se na alquimia revolucionária das insurgentes utopias.
Filha dos sonhos... é espera ativa... espera em movimento... espera em luta... espera andarilha...
O vento canta sua canção e bailando na poesia da sua esperança ativa me descubro guerreiro: vida que suporta dissabores, vida que fabrica caminhos de alegria e paz...
Como alegrar-se sob o impacto das dolorosas lágrimas da vida na queda, na guerra, na enfermidade, da miséria, na exclusão, na morte civil?
A luta pela alegria e pela vida de inclusão e amor é caminho: resistência rebelde que potencializa nossas existências...
A alegria convive com o sofrimento, quando não somos protagonista ou servos das dores, nossas e do mundo...
As lágrimas não deixam de cair... Chovem tempestuosas...
Mas, se somos cúmplices da liberdade e do amor, da paz e da ternura, da suavidade e dos sonhos, carregamos lágrimas... porém, não nos identificamos nem somos por elas capturados... Não somos a lágrima no fel da opressão... somos a lágrima na oração da vida que é luta por alegria...
Viver alegre é domar nossos calvários, cultivando hortos floridos na poesia da solidariedade e na magia caminhante da humanidade rebelada.
Podemos cantar... Cantos de resistência e de profecia: indignação ativa e porvires antecipados...
Retomemos Sartre: não somos o fazem de nós, somos o fazemos do que nos toca, afeta e incomoda...
Resgatemos Dom Hélder: uma gota d'água pode refletir o céu estrelado...
Alegremo-nos no caminho de vida do Subcomandante Insurgente Marcos: " Não é necessário conquistar o mundo. Basta fazê-lo novo. Hoje. Nós."
Este espelho cristalino e mudo, reflete as minhas rugas; porém, nunca consegue ver as flores e os sonhos que germinam nestas covas do tempo... que rasgando meu corpo abriram no meu caminho a suavidade e a leveza de seguir, voando nos cálidos abraços do vento...
Este espelho cristalino e mudo, nunca saberá que não matando o tempo me deu asas de passarinho e novos sonhos: - sonhos de vida na curva do rio que carrega minhas folhas secas, caminhando com alegria para o grande encontro final, para o dia que meu corpo que barco e e viagem possa com o mar ir-se, buscando a paz nas entranhas carinhosas que pulsam no azul do céu... como moram na vertigem das estrelas cadentes, risco da vida no brilho reluzente dos passam, ficando, dos que amam, se dando... dos que cantam, como a cigarra, na alegria vivida sem medo ou preguiça de ser a magia da vida germinada no cio cósmico da ternura que fecham as cortinas da ilusão no ato de ir-se no caminho ondeando no azulinfinito um perene recomeçar...
NAQUELE BAÚ Jorge Bichuetti
Naquele baú perdido, na encruzilhada, estão meus velhos e esquecidos escritos: mágoas, tristezas, desencantos... uma e outra lágrima...
O baú ri de mim... Eu, o lamento; mas, não o temo... pois, se ele é um bufão da mi'a vida de rei; eu, agora, nada tenho para ali buscar, pois, sigo menino que voa para o porvir, tendo do baú perdido a chave...
1. Gosto de você não por quem você é, mas por quem sou quando estou contigo.
2. Ninguém merece tuas lágrimas, e quem as merece não te fará chorar.
3. Só porque alguém não te ama como você quer, não significa que este alguém não te ame com todo o seu ser.
4. Um verdadeiro amigo é quem te pega pela mão e te toca o coração.
5. A pior forma de sentir falta de alguém é estar sentado a seu lado e saber que nunca vai poder tê-lo.
6. Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso.
7. Pode ser que você seja somente uma pessoa para o mundo, mas para uma pessoa você seja o mundo.
8. Não passe o tempo com alguém que não esteja disposto a passar o tempo contigo.
9. Quem sabe Deus queira que você conheça muita gente errada antes que
conheças a pessoa certa, para que quando afinal conheça esta pessoa
saibas estar agradecido.
10. Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu.
11. Sempre haverá gente que te machuque, assim que o que você tem que
fazer é seguir confiando e só ser mais cuidadoso em quem você confia
duas vezes.
12. Converta-se em uma pessoa melhor e tenha certeza de saber quem você é
antes de conhecer alguém e esperar que essa pessoa saiba quem você é.
13. Não se esforce tanto, as melhores coisas acontecem quando menos esperamos.
Flores estelares, no azul, nuvens bailam entre a chuva e o arco-íris: a vida clareia na tempestade, onde no escuro do tempo encontro o brilho das águas que caindo, voam e fecundam o coração menino do infinito que mora no chão e no céu, galopando no cavalo do destino cuja passos escrevem poesias, desenhando um novo dia... como se tecesse asas, pontes e fontes... sonhos; heras de alegria no caminho da nossa soberana destinação...
Somos sementes e caminhos; um canto... ninho na travessia, um salto sobre o abismo, um mergulho no oceano que acolhe meu barco, vida à deriva entre a magia das cores... e o invisível plasma ondeado das minhas poéticas e tresloucadas paixões...
OS CASULOS
Jorge Bichuetti
Casulos de pedra, cimentados
ou nos rodopios do vazio, me adormecem
e, louco, então, deixo morrer
as borboletas que me encantam,
bruxas lunares dos meus sonhos de menino...
Eu quero voar... assim, hei de depositar meu cansaço
- "Esses que puxam conversa sobre se chove ou não chove - não poderão ir para o Céu! Lá faz sempre bom tempo..."Mário Quintana
- "O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar." Carlos Drummond de Andrade
- "Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam."Martin Luther King
reflexiones de Nicanor Parra, el poeta antepoeta... el maestro sonriente entre palabras y silencio:
- "Ya no pedimos pan, techo, ni abrigo, nos conformamos con un poco de aire excelencia".
- "Creemos ser país y la verdad es que somos apenas paisaje."
- "¡Para qué hemos nacido como hombres. Si nos dan una muerte de animales!"
- "La izquierda y la derecha unidas jamás serán vencidas."
- "Pensamientos
Qué es el hombre
se pregunta Pascal:
Una potencia de exponente cero.
Nada
si se compara con el todo
Todo
si se compara con la nada:
Nacimiento más muerte:
Ruido multiplicado por silencio:
Medio aritmético entre el todo y la nada."
Acordei com os passarinhos... Cedo, antes do sol... O café quente me temperou, dando-me um pouco de realidade; pois, nos álamos e na roseira, no limoeiro e nos pássaros, tudo orvalhava vida, vida de sonhos permanentes... Como se o infinito não fora nada mais do que um azulado livro de poesias...
A vida canta... Há uma poesia em cada canto da vida... Há en-cantos...
A tristeza e o desalento são invenções humanas que teimam na sustentação da miséria e da tirania.
A revolução permanente é o canto da vida.
Tudo muda; move-se... voa e brilha...
O riso e a lágrima são pulsações do infinito que percutem nossa pele, germinando a dança da coragem e da ousadia... Já a depressão é o império da paralisia. Arame que nos cerca e cerceia... nos inibe nos mortifica... nos mergulha no pântano da desilusão... Então, sofremos... perdemos o canto da vida que é passos no caminho; luta... teimosia da aurora na sua louca mania de dourar as manhãs com sonhos azuis e cheiro de mato...
Se queremos saúde, precisamos de garantir no nosso mundo íntimo a sustentabilidade psíquica do sonhar e ser sonhável... Assim, ensina-nos Mia Couto, mestre africano...
O porvir só é um tempo depois do hoje, porque deixamos o mundo mergulhar o nosso agora no nevoeiro de cinzas da vida podada, ave de asas feridas nos redemoinhos da mesmice que para o vento... adormece o tempo... e invisibiliza os sonhos...
Se deixamos de sonhar, vegetamos... Já não voamos, engaiolados pelo medo...
Que fazer?... Construamos uma muralha de alegria, esperança e audácia... Livres, então, da paralisia, sigamos...
Andarilhos que pisam no horizonte dos sonhos busquemos hoje, agora, o amanhã... Aprendemos a amanhecer, sonhando... Aprendamos a sonhar, amanhecendo...
Para viver feliz, surfando nos ventos do amor, urge que saibamos exorcizar o tempo... Desgarrar-se do passado, reinventar o destino... Renascer a cada minuto, explorando nossa vida de multiplicidades... Singularizando-nos com a fortaleza de quem desapega-se do rebanho para ser um entre na ternura e na compaixão da caminhada... vida de humanidade...
Lá fora, a dor da opressão, da exploração e da mistificação perverte o mundo... e o torna mundo injusto, violento e banal...
Crua realidade que faz a vida tremer ante os espasmos de rebeldia e indignação do infinito que é a um só tempo: vida parideira e vida passarinheira, vida de amor...
Somente, a humanidade rebelada resgata nossa humanidade, nosso dignidade de filhos da imensidão...
Com o peso do corpo ferido, penso... e, me vejo sentindo na pele, e não mais só na razão lúcida: eu quero voar, brilhar, sonhar, amar... viver verdejante no broto novo das matas; azulíneo nos sonhos azuis do horizonte, vermelho nas paixões do luar, menino no brincar do vento, verso de poesia no céu estrelado que reflete no chão iluminando as gotas de lama... e abrindo clareiras e clarões nos caminhos da humanidade que se permite humanidade generosa e de partilha... uma andarilha no navegar das ondas do mar... Aposentemos as chibatas... despertemos o desejo e a vontade de ir pelo caminho, amando e borboleteando... na aventura de parir-se novo... fazendo juntos um novo mundo, o mundo liberto, o mundo da magia e da poesia... o mundo da cidadania plena e da irrestrita solidariedade...