terça-feira, 10 de abril de 2012

SOMOS MULTIDÕES: NOSSOS EUS NÃO-PARIDOS...

                                                 Jorge Bichuetti

A ideia de uma identidade rigidez, uniforme e imutável, parece, cada vez mais, insuficiente para dar conta da complexa realidade que nossa existência... A impermanência, a multiplicidade de linhas de vida, a a capacidade de se reinventar são realidades que notamos, com clareza, na nossa vida.
O Vir-a-Ser, o devir, é nossa própria "natureza" íntima... Somos metamorfoseantes...
Somos capazes de nos fazer, de nos desfazer e de nos refazer, como assinala o filósofo Juvenal Arduini.
O mundo, contudo, organiza-se para evitar, bloquear, inibir, capturar, suprimir e mortificar nosso movimento de mudança... E o ego é um, entre tantos, guardião da estabilidade, da manutenção da vida na mediocridade da mesmice.
Todavia, a própria vida no mundo vai nos revelando que o narcisismo tirânico do ego nos fragiliza, nos vulnerabiliza... não nos permite flexibilidade e transformações que a vida e suas intempéries nos exige, para que possamos sustentar a nossa capacidade de existir... e viver.
Eis a razão que leva Deleuze afirmar que é imprescindível a morte do ego.
Fala do ego nuclear, de identidade unitária, monolítico...
Senão, vejamos...
Quantas vezes na vida rompemos, criamos inimizade,nos isolamos, porque não soubemos brincar com a situação vivida; e ao dramatizá-la, caímos no pólo paranóico e já conseguimos desanuviar o ar?...
Quantas vezes, deixamos de amar e viver uma grande paixão por não saber manusear o erótico e  o sensual?
Doutras vezes, nos percebemos vítimas indefesas na nossa posição onde o guerreiro está suprimido?
Na vida, se a miramos de perto, vemos que a vivemos pouco... por não possuirmos disponíveis um poco de arte, de magia, de loucura...
Devir não é imitar estes personagens que, quase sempre, surgem no socius já impregnado dos vícios da identidade egocêntrica...
Devir é acessá-los como emergência de eus não-paridos...
Não nos perderemos... Potencializaremos nossa vida, vida singular... sendo a singularidade uma rede de multiplicidades...
Assim, intensifica-se e amplifica-se uma vida... Vida de potências.
Uma diversidade que se conecta num paradigma ético-estético que é a um só tempo, um cuidar de si e um transformar o mundo...
Há uma imensidão cósmica, dentro e fora de nós, que espera nossa atitude ativa de explorá-la para fazer a vida crescer e brilhar, bailar e voar nos páramos da alegria e dos bons encontros, do amor e da liberdade. Ousemos...

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