Luinha nos meus pés... quanto carinho!... Vimos as últimas estrelas, o sol nascendo... escutamos nossos passarinhos, canto livre e alegre. A vida acordou com gosto de cerrado: orvalho na terra, cheirando germinação e poesia; o verdejar na cantiga das floradas matinais...
Tomo meu café... entre o arrepio do vento e o êxtase do voo dos meus próprios pensamentos...
Alucino a vida e a vejo: um grande palco, um palco iluminado...
Nela, somos o palhaço e o riso; o malabarismo e o aplauso... Somos o rabisco de um verso, o tamborilar de uma canção... Somos uma multidão de vidas na pele singela da nossa anônima existência...
Somos a ternura a amizade; a voracidade das paixões...
Somos a altivez da partilha; a generosidade da compaixão...
Somos palavra e silêncio... pranto e alegria... gentileza e aridez...
Somos terra... Terra dada as sementes que elegemos para compor a epopeia da nossa caminhada nas trilhas da vida que desafia, acalenta, aconchega e atiça...
Em cada momento, somos a rota definida na penumbra das nossas incertezas ou no clarão trans-sideral dos sonhos cultivados.
Nos criamos, dia-a-dia... Nos recriamos na quietude de cada alvorecer...
Ontem, éramos solidão e mágoa... Hoje, podemos ser o encontro e o perdão...
Cada instante da vida é único e passageiro... Passa, conosco fica o que tecemos na potência dos segundos...
O tempo não para... não volta...
Cada momento é um tesouro precioso nas nossas mãos...
Com ele, tecemos a geografia da nossa vida: destino e destinação...
Podemos viver ensimesmado ou podemos ir de mãos dadas, coletivizando nossos desejos e sonhos num devir humanidade...
A vida roda... moinho, pião... no que sente, vive e constrói nosso coração fica as marcas que legamos como vida que se eterniza nas floradas que semeamos ou no chão esterilizamos... Ficamos nas marcas que singularizam nossa passagem pelo caminho.
O valor de uma vida se desvela no legado impresso no coração do caminho...
Egoísmo ou amor; orgulho ou humildade; aridez ou ternura; sovinice ou solidariedade... são marcas impressas na poeira da estrada...
As marcas nos retratam para além do papel social que representamos no cotidiano.
Viver é ser caminho... Eis a provocação do grande filósofo Juvenal Arduini...
Há vidas que abrem no horizonte clareiras e clarões...
Há vidas que dignificando o Bem Comum, erguem como caminho inspirador... da vida vivida num processo de afirmação includente...
E, infelizmente, há vidas que o vento apaga... vidas que passam, nada legando... Partem sem ficar...
Viver é alegrar-se na caminhada do amor partilhado, da ética da solidariedade, da poesia da ternura e da compaixão... vidas para além do próprio ego.
Estas, sim, são vidas que rompem os cronômetros dos relógios... São vidas que para sempre ficarão...
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