terça-feira, 3 de abril de 2012

DIÁRIO DE BORDO: CAMINHOS E SONHOS...

                               Jorge Bichuetti

Com o Sol ardendo, ponho meus pés na estrada... Não lamento haver perdido o alvorecer; alegra-me ir seguindo com as ondulações do caminho me oferecendo: ora, lições de vida no ardor da caminhada, ora, outras lições da mesma vida na quietude do corpo lutando consigo próprio...
Viver é lutar... lutar sempre...
Há dias que vida nos pede quietude e repouso, mansidão... a calma da folha que caminha para o mar, deixando-se ir na força da correnteza do rio...
Há outros dias que vida nos pede coragem e ousadia... Ela nos quer vida guerreira  ai, então, aceleramos a correnteza, remando... sem deixar de cuidar das flores que nascem na margem... e ali esperam a mão generosa que lhes dê um lugar na primavera do tempo...
Respiro o perfume das flores e agradeço a vida a beleza do caminho...
Não me alieno: choro pelos caminhos áridos e solitários, pelos caminhos entrincheirados pelos espinhos da crueldade...
Deitado, vejo... crianças e mulheres com seus corpos violados pela crueldade do arbítrio que aniquila a vida no seu sonho primaveril que contagiou o povo árabe...
Estremeço de raiva com a justiça brasileira que rasgou o Eca ( Estatuto da Criança e do Adolescente)... Estatuto nosso; vitória de um povo que desejou proteger, amando suas crianças... Violência é crime; absolvição é impunidade cúmplice, estupro da cidadania...
Vivemos tempos difíceis...
Tempo de ambigüidades... Tempo de tergiversações...
A luta se revela necessária e urgente...
Não temos todo tempo do mundo, quando o tema é a violência e corrupção, o desmatamento e os crimes de ódio... A exclusão é a violência inoculada nas relações da ser humano com a vida...
Necessitamos da coragem de sonhar para que a chama da luta não se apague...
Se viver é lutar, não-lutar é pactuar com as engenhocas pustulentas da morte civil...
Talvez, alguns gostariam que eu falasse do canto dos passarinhos... Da dança dos álamos... dos gracejos carinhosas da minha peque na Luinha...
Porém,se calamos diante da impunidade dos que estupraram nossas crianças, estamos aceitando que a crueldade seja a governãncia do cotidiano, na cínica negação dos direitos da vida...
Viver é lutar, impregnando o caminho com a solidez da vida de direitos... 
Um caminho sem direitos humanos e sem direito à diferença, sem a ética do Bem Comum, é caminho no despenhadeiro dos abismos da desumanização...
Que vida possa brilhar e bailar... na alegria da cidadania e da solidariedade...
Que sepultemos do cotidiano os abutres da crueldade...
Só, assim, ouviremos o canto dos passarinhos e bailaremos com o vento... na alegria de tecer na vida caminhos de dignidade...

Nenhum comentário: