Queremos paz... sossego, serenidade... Todavia, a paz não é acomodação, apatia e insensibilidade... A paz é ativa, cativante e provocante; é produção de vida e inclusão das vidas na vida... A paz não é paz pachorrenta...
Não há paz, verdadeira e duradoura, longe da luta... Paz e liberdade se constrói, se conquista... Não emerge da negação, da retirada, da subtração do nosso corpo da vida... Ela se dá na vida...
Indignar-se é despertar, visceralmente, para a humanidade, para nossa humanidade e para a vida da humanidade...
Um menino esfomeado na rua, com frio e solidão...
Um velho, sozinho, num canto esquecido...
Uma mulher cabisbaixa com corpo ferido, hematomas e sangue vivo...
Uma mata queimada; o ar com cheiro e cor de óleo de petróleo; a corrupção; a homofobia; o racismo; as guerras; as armas nucleares... Um doente moribundo, longe do leito hospitalar, pois, ele está superlotado e com aparelhos encaixotados... A bala perdida... O imperialismo...
Toda lágrima que nasce da injustiça não nos permite a paz, se tentamos a paz fechando os olhos, cruzando os braços, nos fazendo de desententidos...
A paz não é letargia, não é covardia... A paz é indignação...
Indignar-se é um despertar... Precisamos acordar, pois nosso sono não é um sono tranquilo. É pesadelo
Indignar-se é se reencontrar com a ética da vida...
Indignar-se é posicionar... por o corpo na vida e dar-se pela vida.
A vida não é obra acabada; pede, clama, convoca o homem, para que o homem indignado lute e a faça vida feliz, vida de paz, vida de inclusão, vida de amor; vida de todos...Nossa vida não caminha livre, altiva e potente, se ela só tem paz negando ver e estar com a própria vida...
Não temos como pensar, cuidar e viver somente a nossa própria vida. Ela não é minha, não é tua... ela é a vida... Toda injustiça é uma ferida no coração da própria vida..
A rebeldia, assim, não é perversão, não é delinquência; não é um estar contra a lei e a ordem.. a lei e a ordem só podem ser assimiladas e acatadas se trabalharem pela vida.
A rebeldia é força inovadora que nos coloca no caminho como guerreiros da vida...
Precisamos assumir uma rebeldia insurgente...
Insurgir é necessário... Insurgir é apropiar-se da vida, dando à vida uma nova assinatura...
Insurgir é corporificar no caminho a utopia.
Insurgir é inventar a paz que não seja a paz da covardia...
Insurgir é emprestar o próprio corpo para que a esperança possua voz e ação...
A insurgência é a ética peregrina que não se contenta com o teatro das palavras vazias... nem se paraliza temerosa pelos ataques do poder e das elites dominantes que a querem nos livros; mas ela tem por destinação a própria vida...
Rebeldes sem causas?... existem rebeldias que não conseguiram ver, focalizar e direcionar-se para as indignantes injustiças...
Porém, se verdadeiros, diríamos que o mundo padece não de rebeldes sem causas; sofremos, nos mortificamos e, muitas vezes, morremos por um mundo de muitas causas sem rebeldes...
Não abdiquemos de nos indignar...
Não reprimamos nossa rebeldia...
Não deixemos de insurgir... sejamos insurgentes...
Não saíamos da vida...
Indignação, rebeldia e insurgência são as vozes da esperança que clamam por e com a vida...permitamos que através de nós clame, grite, denuncie, lute, sonhe e cante as vozes da vida...
Nenhum comentário:
Postar um comentário