segunda-feira, 23 de maio de 2011

BONS ENCONTROS: OS MODERNISTAS E O AMOR, LIÇÕES DA LITERATURA... A VIDA NOS VERSOS E REVERSOS DA POESIA.

                        Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
                                                                        Mario de Andrade

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...

...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.


Tudo o que há de melhor e de mais raro

Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.


Não exijas mais nada. Não desejo

Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.


Que grandeza... a evasão total do pejo

Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.

   
              BALADA DO ESPLANADA
                                                       Oswald de Andrade
 
Ontem à noite
Eu procurei
Ver se aprendia
Como é que se fazia
Uma balada
Antes de ir
Pro meu hotel.
É que este
Coração
Já se cansou
De viver só
E quer então
Morar contigo
No Esplanada.

Eu qu'ria
Poder
Encher
Este papel
De versos lindos
É tão distinto
Ser menestrel
No futuro
As gerações
Que passariam
Diriam
É o hotel
Do menestrel

Pra m'inspirar
Abro a janela
Como um jornal
Vou fazer
A balada
Do Esplanada
E ficar sendo
O menestrel
De meu hotel

Mas não há poesia
Num hotel
Mesmo sendo
'Splanada
Ou Grand-Hotel

Há poesia
Na dor
Na flor
No beija-flor
No elevador

                       Oferta
                                   
Oswald de Andrade

 
Quem sabe
Se algum dia
Traria
O elevador
Até aqui
O teu amor


                     ARTE DE AMAR
                                          manuel bandeira
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

amar é cuidar: a violência da polícia militar de são paulo e de qualquer lugar deve ser banida dos espaços dignos de liberdade que alimentam nossos sonhos: tortura nunca mais...

2 comentários:

Concha Rousia disse...

Belas e profundas poesias, adorei os Andrade, e ler a Manuel Bandeira é sempre motivo de viagem dos bons, feliz por cada visita a este teu mundo, abraço com carinho, Concha

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Concha, as poesias de Bandeira foram as primeiras que me convidaram para este universo; magia matreira.
Abraços com carinho, Jorge