Jorge Bichuetti
A escuridão persiste... Não consigo explicar o atraso dos sinos que me assinalam a hora: hora de recomeçar...
No quintal, uma sossegada quietude. Preguiçosa mansuetude. Nem mesmo os álamos dados aos bailes da madrugada quando dançam com o sereno e com o vento que gelam as manhãs de maio, se movem... Adormecidos, esperam... Os pássaros não chegaram. A Lua me entregou para a despedida do luar e se escondeu, continuando seus sonhos, que eu imagino inocentes e puros...
Só eu e você, que virá com o despertar do dia...
As sombras com seus mistérios de sons e movimentos enigmáticos nos vulnerabiliza; é a força do medo.
O medo segundo Negri é uma matriz da tirania.
Sob os auspícios do medo, esquecemos nossa força e potência, nossos desejos e sonhos...
O medo paralisa, a coragem e a valentia nos mobiliza, nos agita e nos coloca em movimento...
Assim, vemos como funciona a dinâmica da vida: a submissão e a passividade que perpetuam a servidão e a tirania, na vida de intimidade do ser humano e nas coletividades, se estabelecem através da instauração e institucionalização do medo.
Medo do outro... Medo da nossa incapacidade... Medo do futuro... Medo da morte... Medo da solidão... Medos.
Para o que o medo se instaure necessariamente somos imobilizados mediante uma desconexão entre o nós e as potências que possuímos, individual e coletivamente.
Tememos o escuro, esquecidos de que podemos acender uma vela...
Tememos o futuro, alienados na construção do amanhã que está sobre nossa responsabilidade...
Tememos a erro e a tristeza, a derrota e o ostracismo; contudo, a vida é feita de movimento e no movimento da vida somos interlocutores que podemos agir e intervir, reinventando o destino.
Vivemos um tempo de medo.
Por que estamos tão vulneráveis e fragilizados ante os perigos da vida, se a vida é luta e somos uma potência criativa, capaz de de tomar as forças da vida nos embates do caminho?
Aqui, hoje, nesta manhã, com o sol nascendo, agora, iremos pensar em dois fatores que potencializam o poder do mundo.
Vivemos num mundo onde a secura e o egoísmo, o individualismo e a competição, o tornaram um mundo paranóico, um mundo não-maternal... Assim, nosso subjetividade se vê não contida, não incluída, ou na linguagem freudiana, nos vemos com um ego ideal frágil, recuado, destroçado... Ou seja, o algoz-mundo ganhou aspectos demoníacos e nós perdemos nossa auto-estima e nossa auto-imagem, de modo que cremos pouco na nossa própria capacidade de resistir, lutar e vencer...
Depois, cabe perceber que a fragmentação e a fragilização dos vínculos sociais , num individualismo exacerbado, com desmontagem dos dispositivos da coletividade, nos leva a enfrentar o fantasma do medo na solidão de quem vive e existe longe da potência dos coletivos e grupalidades.
O medo tiraniza... Degrada.. desumaniza... Digo, o medo hipertrofiado e institucional.
Ele deveria ser, tão-somente, um sinal de alarme...
Contudo, é cotidiano e generalizado...
Para vencê-lo não necessitamos de aderir à avalanche armamentista...
Precisamos voltar a crer em nós mesmos, como entes do amor e da solidariedade, da partilha e da produção guerreira de si mesmo e do mundo.
Urge amar-nos e nos coletivizar...
Ousadia e prudência compõem caminhos da nossa reinvenção para além do medo.
Necessitamos buscar, como quem busca o sol que irá chegar no alvorecer, um devir anjo que nos dê a ternura necessária ao movimento de sair do próprio umbigo e devir-se coletividade e precisamos, igualmente, de retomar nosso devir guerreiro que ficou inibo ou abandonado ou suprimido, ao longo da nossa caminhada.
Daí, voltamos às assertivas de Negri, quando nos diz que a solidariedade já contem em si mesma a potência de criar. Assim, nela podemos nos recriar... nos reinventar... E nos recriar e nos reinventar para uma vida que seja alegria e paz, audácia destemida, coragem indomável e esperança remoçada...
DIA 14 DE MAIO DE 2011; ÀS 13 HS - UNIVERSIDADE POPULAR. PARTICIPE ; DIVULGUE... JUNTOS VAMOS CONSTRUINDO UM CAMINHO DE ALEGRIA, LIBERDADE, CONHECIMENTO E SOLIDARIEDADE... A ARTE DE VIVER NA CRIATIVIDADE DOS CAMINHOS SOLIDÁRIOS...
quarta-feira, 4 de maio de 2011
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5 comentários:
Por alguns minutos, eu quase me torno uma usurpadora de seu Diário de Bordo de hoje, quando me dei conta da exclamação pretensiosa que eu fiz a mim mesma:
-Eu escrevi este texto...
Desculpe-me! Mas me identifiquei com as suas palavras tão logo comecei a leitura...sentimentos expostos por você com tanta verdade e leveza, que eu e milhares de outras pessoas sentimos sem conseguirmos externar com tanta exatidão.
Obrigada querido Jorge, por ter-me concedido esta sensação de desabafo...
Que lindo isso tudo o que você escreveu no teu diário de bordo. Eu navego nele juntamente com você, atiro-me destemidamente na luta por paz, alegria, amor, comida, lazer, carinho, ternura. Olhe bem lá na foto e nos veja, velejando contra o vento, sem lenço mas com documento: a nossa subjetividade, amante da coletividade.Beijos amados para você!
Sobre o medo: conheço pessoas, muitas pessoas que só conseguem seu "status" porque se valem do medo para impor as suas opiniões, isso ainda mais ampliado se estiverem exercendo algum cargo de chefia em seus serviços. Isso é uma covardia, esse comportamento pertence aos tiranos, aos perversos que gozam com a dor alheia. Impor qualquer coisa através do imperativo do medo é um ato fascista, pois atuando negativamente nos sentimentos do outro, é uma ação terrorista, muitas vezes fica camuflada e impede avanços, imobiliza o seu alvo. Infelizmente é assim, mas teremos de ter forças para mudar. Uma situação libertária é prazerosa e cooperativa. Bj.
Mirian, esta impressão se dá por que sou apenas umescriba dos sentimentos da vida. A vida canta e eu escuto, seus cantos e seus lamentos; assim, nascem textos que são nossos;
Um abraço carinhoso.Jorge
Oh, minham querida Tânia, o fascismo se apoia no medo, assusta e afugenta, desfaz e decompõe... Já a esperança é força viva que nos faz viver.
Abraços com ternura, Jorge
PS. irei ver teu blog agora. beijos
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