sexta-feira, 13 de maio de 2011

DIÁRIO DE BORDO: RESISTÊNCIA, INSISTENTE... NAVEGANDO CHEGAMOS NA LINHA DO HORIZONTE...

                                                    Jorge Bichuetti

Madrugada... Céu estrelado. Sombras no quintal: o escuro dá afetações diversas. No desconhecido, o terror; no já conhecido, palmo a palmo, parece que a vida ajoelha-se discreta numa prece... O perfume das rosas parece vindo do infinito... Respiro o ar puro e me certifico: estou acordado. Este surrealismo  é a magia de estar com ... sem o império monolítico dos cinco sentidos... Uma multidão de estrelas... E a Luinha, tão companheiro, do meu lado, tudo vê  e sente-se segura pela minha presença...  não teme os noctívagos pássaros...
Um turbilhão de idéias... Ressonâncias musicais. Ontem, ouvi Cartola, Diego Nogueira e Teresa Cristina... Samba... Este batuque alegre e triste, um corpo-dança, uma alma que chora... Um morro e seus andarilhos da poesia.. . Conheci o Rio num tempo que se subia as favelas para ouvir num barzinho singelo um samba, cantado numa roda de bambas...
Não é o Rio, o mundo anda violento...
A violência bruta e canibal tornou-se parte do cotidiano...
Nunca conseguirei entender-nos: por que não cultivamos a paz? A não-violência? O diálogo?...
Valorizo,   demais, a minha paz e paz da humanidade...
Não a paz pachorrenta que finge estar tudo bem, acovardada diante das injustiças. Amo a paz que é não-violência... no cotidiano; aliado a uma insurgente resistência na luta pela vida de liberdade e justiça, inclusão e solidariedade.
A paz cega e surda, da vil acomodação, não me parece trazer o signo da dignidade.
Como reconstruir um cotidiano de paz?
Coletivizando-nos na problematização  e  nos agenciando como coletivos que com autonomia se apropriam dos seus territórios.
Não cuidamos mais dos nossos territórios...
Reduzimos nossa vida às quatro paredes da casa... A rua e a praça, a casa do lado, o bairro são espaços onde fluem nas vielas da existência nossas vidas. Cuidemos de tudo, engajemos na luta pela paz do outro, paz do espaço, espaço no espaço...
Como viver... Existir é uma façanha inquieta e inquietante...
Lembro do Bispo Vermelho, Dom Hélder Câmara que dizia que “ o ideal era ter as mãos de Marta e o coração de Maria.” Prosaica lembrança Galileia  distante... Um almoço de amigos: Marta cozinhava, limpava, tudo preparava, sua irmã encostada na pernas do Cristo proseava, ouvia historía... Marta pede ao amigo que repreenda Maria e ele diz: Marta, Marta, te inquietas com tantas coisas; uma só é necessária... Maria escolheu a boa parte e esta não lhe será tirada...
Dom Hélder é valoroso e diz, categórico: o ideal é a conjunção em nossas vidas das mãos guerreiras e laboriosas de Marta com o coração afetivo e poético de Maria... Ambos não sabiam:  mão e coração articulados numa máquina de guerra não bélica, num dispositivo de produção de vida.
Sonho e caminho; poesia e ação; quietude e batalhas; serenidade movimento... Conjunções que ampliam e aprofundam nosso estar no mundo com uma dimensão maior de poder refazer o próprio mundo.


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