Olhando nosso passado, remoto ou recente, nos veremos, muitas vezes, agindo contrariando as necessidades e os objetivos do momento vivido
Rudes, quando desejamos harmonia e reconciliação; tímidos, quando a vida pedia fortaleza e destemor; medrosos na hora da ousadia e racionais no sublime instante da ternura...
Crescemos e criamos um modelo, uma identidade monocromática, inflexível, rígida...
Crescemos e perdemos a deliciosa arte arteira do brincar...
Gritamos, esbravejamos, esbofeteamos... mas somos submissos e servos; submissos e servos do nosso ego tirânico, vaidoso e orgulhoso, e comumente, também, egoísta...
Questionados, implacáveis nos defendemos: é a vida, é a crueza do caminho, é a minha autenticidade...
Alguns apelam para as ciências psi, dizendo: é a minha personalidade...
Usamos pouco: não sei... terei que pensar... talvez...me perdoe... me enganei...
Somos indomáveis e imbatíveis; até que a depressão, o pânico, as enfermidades crónico-degenerativas nos denunciam como modos de andar a vida que acumulou dissabores e sobrecargas e não organizou eficientes escoadouras das tensões...
Trabalhos excessivamente; descansamos mal... Já não passeamos; e o sorriso anda raro, quase sempre um reflexo não-sentido diante da piado do bar.
Assim, vivemos... Assim, morremos...
Atrevidos, concluímos: é a fragilidade da vida.
A natureza é pródiga; a vida é potência...
Dizia o poeta: "Sou vasto… contenho multidões." Walt Whitman Somos guerreiros destemidos, ternos poetas, loucos boémios, ardorosos amantes, hábeis negociadores... Somos a palavra suave e doce e gesto bravioe corajoso... somos o medo e a timidez e somos a valentia e robustez....somos uma multidão...
Em nós habitam, a criança e o louco, o anjo e o guerreiro, o animal e a mulher, o nômade e o artista... e outros incontáveis eus.
Linhas da vida suprimida e reprimida pela nossa identidade tirânica.
Deste modo, vivemos mal..... Brigamos na hora do abraço; e nos encolhemos no instante de guerrear...
Não brincamos, não seduzimos, não enlouquecemos...
Temos medo de perder o juízo... E perdemos a saúde.
Estas formas não são forças destrutivas... são potências que se usadas na situação adequada vitaliza, energiza e dá qualidade às nossas vidas...
Trocamos tudo: palavras quando a vida pede uma carícia; silêncio quando se necessita expressar claramente nossa opinião...
Esquecemos nosso velho amigo Guimarães Rosa: " Viver é etecetera"...
Sejamos a multidão que abrigamos no nosso psiquismo...
Lidaremos melhor com a complexidade e diversidade de situações que compõem uma vida.
Olharemos, então para vida, e nos veremos em sintonia e realizando uma vida maximizada pela nossa riqueza interior.
Nos fotografaremos com uma rosa na mão no exato instante da reconquista e da reconciliação.
Nos pegaremos brincando quando o trágico nos chama para o abismo.
Nos descobriremos guerreiros audaciosas na conquista do nosso território de ser e existir.
Anjos e guerreiros numa só vida...
Alegres, pois, então, viveremos no hoje a poesia do porvir...
16 comentários:
Lendo o texto lembrei-me do Caetano:
O Quereres
Caetano Veloso
Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alta, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês
Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói
Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és
Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor
Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim
UM ABRAÇO
Querido Paullo Francisco, tenho uma confissão: viu que lhe contestei rápido; percebi que havia trabalhado na escrita e não postado... Coisa de domingo e dos meus passeios, inclusive vi sua linda postagem: quereres, uma canção que expressa esta visão da multiplicidade, para mim, de forma prática. Pois, em cursos vejo as vpessoas fugindo de sentirem que isso se pasam com elas: u'a potência ampliar nossas reações e ações.
Um carinhoso abraços, jorge bichuetti
Hoje o diário veio um pouco mais tarde... Estamos ficando muito mal acostumados a começar o dia no carinho, e conforto das palavras do AMIGO...
Paulo
Jorge Bichuetti
É desejável a descoberta da identidade.
Sem ela, acabamos por nos tornar indecisos e frágeis.
Ter medos e receios é das coisas boas que a Vida (instinto) nos dá, porque nos desperta para a ponderação e prudência. Desse modo, receberemos cada acto ou gesto, no seu lugar e não "Trocamos tudo: palavras quando a vida pede uma carícia; silêncio quando se necessita expressar claramente nossa opinião..."
Análise especial duma qualquer Vida Real. Muito Bom, Amigo.
SOL da Esteva
http://acordarsonhando.blogspot.com/
QUERIDO pAULO, LEVANTEI CEDO; PORÉM, DEPOIS DE ESCREVER, SAI E NÃO PERECEBI QUE NÃO HAVIA POSTADO. CADÊ MINHAS POESIAS? ESPERO... COM CARINHO, JORGE
cquerido sol de Estevo, há uma identiudade que é nossa alteridade, umc aminho ético, uma vida... e há uma rigidez que nos isola de novas possibilidades de ser... ai nos perdemos.
Abraços com ternura e carinho; jorge
www.jorgebichuetti.blogspot.com
Sempre um prazer passear da mão do teu pensamento, vamos vivendo nesta one way street, vamos coleccionando momentos que se convertem em nós, ou nós neles, abracemos todos, partilhemos, sonhemos e deixemos aqui toda a poesia que veu connosco... Abraços com carinho, Concha
Unha reflexiva entrada, leva toda a verdade impregnada nestas enriquecidas verbas.Penso que deberiámolo de levar a cabo.
Un pracer poder chegar ata túa casa.
Unha aperta fraterna, dende Galicia.
Jorge este é um escrito que movimenta! Faz brotar a vontade de sair e agir, de dançar, de cantar, de abraçar de dizer "Você me faz bem".
Obrigada querido. Bom final de tarde!
Olá Jorge! Passando rapidamente para aprender mais um pouco. Belo texto. O desconhecimento de si próprio impede o crescimento e dificulta nas decisões do indivíduo.
Abraços e bom domingo pra ti.
Furtado.
Concha, um dia sentimos a frafilidade da vida; depois, a vemos remoçada nos tomando de novo nos braços enos conduzindo para as paragens do amanhã. Abraços com carinho; jorge
Ave peregrina - a vida segue nos redemoinhos do tempo dando-nos alvoreceres de renovaçãoe paz. abraços com ternura; jorge
Thati: sua vontade de viver e de viver, devindo mora nos caminhos do sonho e da paixão, territórios da inovação... abraços com carinho; jorge
Rosemildo; um carinhoso abraço, com desejos de uma semana alegre e de paz. Carinhosamente, jorge
A vida é mesmo esta arte estranha e bela; mas sempre nos remete à possibilidade de sermos nós mesmos e felizes. Boa semana; abç!
Sérgio, e a poesia potencializa a capacidade de viver na intesidade dos sonhos, penso: abraços com carinho, uma linda semana. abraços. jorge
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