A Universidade Popular Juvenal Arduini ( Upop-JA) nos traz , para todos, hoje, uma entrevista... A entrevista é uma das companheiras que participam da construção da Upop-JA, nossa amiga Sumayra Oliveira. Especialista em desenvolvimento social, militante e poeta.
Procuremos ouvi-la e multiplicar as contribuições agregando comentários para possamos ir coletivizando o processo de diálogo do nosso próximo encontr, dia 14 de maio de 2011. A ela, nosso carinho e gratidão...
1.Querida Companheira e amiga, Sumayra, a contribuição do novo e de um novo futuro, exigem que entendamos a sociedade e seus movimentos. Como você vê o social?...
Sumayra Oliveira: Nas diversas matizes que atravessam uma vida digna dos indivíduos. Dignidade e solidariedade. E nas práticas de vida as relações sociais, como o viver coletivo, isto é, solidariamente. Marx ressalta com toda clareza que o homem vive desde sempre em uma sociedade e o que nos diferencia dos animais é o que produzimos, logo "O indivíduo é o ser social”. Essa natureza social constitui para o ponto de partida para toda reflexão para que entendamos a sociedade e seus movimentos: "Não é a consciência do homem que determina seu ser, mas é seu ser social que determina sua consciência."
2. ... na sua visão, quais são os problemas sociais graves e intoleráveis numa sociedade cidadã?
Sumayra Oliveira: As desigualdades em suas formas que assumem na modernidade. Tanto estruturalmente econômicas, mas também de tempo, espaço, acesso, cultural, de afetos e aceitação do coletivo que vão desencadear em uma negação do próprio individuo sobre o outros, no exercício contínuo do capital - o valor determinando as relações sociais e impondo o isolamento como condição de sobrevivência. Uma vez que caminhamos solidários, caminhamos para o fim dos agentes históricos transformadores.
3. Numa prática social libertária, qual são as orientações valiosas para um processo de inclusão social?
Sumayra Oliveira: Solidariedade. No dia em que o indivíduo conseguir olhar e enxergar as qualidades em outro indivíduo, antes de apontar defeitos, a solidariedade terá existido em sua essência e faremos parte de um todo inserido em um processo de negação da constituição do poder do capital.
4. Para você, qual a relação estado-luta de classes e práticas sociais?
Sumayra Oliveira: Essa é uma das questões mais polêmicas da atualidade. Quero me referir aqui, a uma reflexão colocada neste último 1ª de maio por alguns meio mediáticos: Classe Social existe?
O Brasil tem hoje uma estrutura de classes típica do modo de produção capitalista (Regulado pelo Estado opressor) na qual predomina largamente os trabalhadores assalariados que, para obterem seus meios de sobrevivência, precisam vender seu tempo e sua força de trabalho ao capital. Nesta situação, entra esta concepção de Estado e lutas de classe na modernidade.
O senhor José Carlos Ruy e Umberto Martins responderam ao site do Vermelho a questão que quero dividir aqui com você e seus leitores em uma versão resumida:
“A idéia de uma nova classe média virou lugar comum na mídia e no discurso de muitos políticos... A concepção corrente de “classe média” parece ter o mesmo objetivo: desvalorizar a luta de classes no capitalismo e os trabalhadores, encarados como “classe média”, uma espécie de amortecedor de conflitos, incapaz de um projeto próprio e independente e genuinamente reformista, vivendo imersa em fantasias consumistas...
É preciso examinar esta questão um pouco mais de perto. A classificação de uma população por critérios de renda e acesso ao consumo obedece principalmente a uma necessidade de mercado, mas tem também uma função política que não se resume apenas às previsões de desempenho eleitoral. Ela também busca identificar também, no conjunto da população, aquela parte que pode servir – para segurança das classes dominantes - de amortecedor na luta de classes. Segmento que é transformado assim em alvo preferencial do esforço cultural e propagandístico (ideológico, portanto) de construção do consenso em torno da sociedade tal como ela está organizada.
As regras usadas neste esforço segmentam a população pela capacidade de consumo. No Brasil elas foram definidas pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa que anualmente atualiza o chamado Critério Brasil (CCEB, Critério de Classificação Econômica Brasil), que é mais usado. E que a ABPE define como “um instrumento de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características domiciliares (presença e quantidade de alguns ítens domiciliares de conforto e grau escolaridade do chefe de família) para diferenciar a população. O critério atribui pontos em função de cada característica domiciliar e realiza a soma destes pontos. A fragilidade deste critério, entretanto, é visível quando, nos níveis mais altos (A e B) podem se encontrar patrões e empregados que por ventura alcancem a mesma pontuação medida pela posse de bens...
Os próprios trabalhadores percebem a inadequação de uma maneira de ver a estratificação social que permite distorções deste tipo. Afinal, a maneira mais tradicional – que o povo vê como oposição entre “ricos” e “pobres” – é aquela que se baseia no controle das máquinas, ferramentas e demais meios de produção. O senso comum aponta assim para uma verdade científica sistematizada pela primeira vez por Karl Marx e Friedrich Engels há mais de 150 anos e que se tornou uma ferramenta política na luta contra o capitalismo: qualquer avaliação válida para se compreender as classes sociais decorre da compreensão da maneira como ocorrem as relações sociais de produção e da posição das pessoas dentro delas.”
Neste sentido, o próprio Marx compreendeu que a evolução capitalista poderia romper com uma visão simplista que opõe de forma dicotômica a burguesia e o proletariado. O desenvolvimento da produção burguesa levará à diminuição do número de trabalhadores diretamente ligados à produção e ao crescimento da chamada “classe média”.
As regras usadas neste esforço segmentam a população pela capacidade de consumo. No Brasil elas foram definidas pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa que anualmente atualiza o chamado Critério Brasil (CCEB, Critério de Classificação Econômica Brasil), que é mais usado. E que a ABPE define como “um instrumento de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características domiciliares (presença e quantidade de alguns ítens domiciliares de conforto e grau escolaridade do chefe de família) para diferenciar a população. O critério atribui pontos em função de cada característica domiciliar e realiza a soma destes pontos. A fragilidade deste critério, entretanto, é visível quando, nos níveis mais altos (A e B) podem se encontrar patrões e empregados que por ventura alcancem a mesma pontuação medida pela posse de bens...
Os próprios trabalhadores percebem a inadequação de uma maneira de ver a estratificação social que permite distorções deste tipo. Afinal, a maneira mais tradicional – que o povo vê como oposição entre “ricos” e “pobres” – é aquela que se baseia no controle das máquinas, ferramentas e demais meios de produção. O senso comum aponta assim para uma verdade científica sistematizada pela primeira vez por Karl Marx e Friedrich Engels há mais de 150 anos e que se tornou uma ferramenta política na luta contra o capitalismo: qualquer avaliação válida para se compreender as classes sociais decorre da compreensão da maneira como ocorrem as relações sociais de produção e da posição das pessoas dentro delas.”
Neste sentido, o próprio Marx compreendeu que a evolução capitalista poderia romper com uma visão simplista que opõe de forma dicotômica a burguesia e o proletariado. O desenvolvimento da produção burguesa levará à diminuição do número de trabalhadores diretamente ligados à produção e ao crescimento da chamada “classe média”.
Não que Marx tenha deixado de lado a idéia fundamental de uma polarização entre proprietários e trabalhadores, mas ela ocorreria num padrão abstrato mais alto: a contradição fundamental entre o capital e o trabalho. E incluiu as chamadas “classes médias”.
Então a estrutura e relações de classes no Brasil onde o modo de produção capitalista é hegemônico e onde a contradição social fundamental se dá, como Marx havia assinalado há mais de cem anos, entre o capital e o trabalho, regulamentada pelo Estado e sem um fazer social libertador, apenas voluntário, a relação entre Estado, luta de classe e o social é de oprimidos e opressores.
5. A sociedade civil pode contribuir junto ao povo oprimido? ... como?
Sumayra Oliveira: A sociedade civil organizada ainda precisa fortalecer a sua atuação política. Isso porque a população perde cada vez mais espaço nesse âmbito, devido a um esvaziamento das responsabilidades de grande parte de sindicatos, tal como de partidos políticos, cujas preocupações e decisões são pouco pautadas no espírito público ou no que é interesse do país.
O campo social a sociedade civil pode contribuir para o empoderamento dos indivíduos, em especial por sua diversidade e capacidade de cooperação e trabalho em rede. Fórum Social Mundial é um exemplo de permanente contato e trocas que as mais diferentes organizações e ativista que compõe o movimento.
O campo social a sociedade civil pode contribuir para o empoderamento dos indivíduos, em especial por sua diversidade e capacidade de cooperação e trabalho em rede. Fórum Social Mundial é um exemplo de permanente contato e trocas que as mais diferentes organizações e ativista que compõe o movimento.
Para fortalecer a sociedade civil organizada brasileira para uma ampla atuação política junto ao povo oprimido, é preciso antes estimular a autonomia de forma a manter a independência das ações da sociedade civil, e é preciso que todos pensem juntos e estabeleçam relações sem deixar de lado histórias e referências da memória local de seu povo.
6. Amiga: e, agora, José? - um outro mundo é possível?
Sumayra Oliveira: Claro. E estamos caminhando neste sentido. Precisamos ousar mais e adotar um agir libertário marxista, onde o ser humano é essencialmente livre pelo fato de ser capaz de determinar-se por si mesmo e fazer deste “um outro mundo possível”.
Sumaya Oliveira é articulista do blog: sumayra.blogspot.com
DIA 14 DE MAIO DE 2011 - ATIVIDADES DA UNIVERSIDADE POPULAR JEVENAL ARDUINI - UM CAMINHO DE ARTE, VIDA , CONHECIMENTO E AÇÃO PELA LIBERTAÇÃO.
13 HS. RUA CAPITÃO DOMINGOS, 1079 - UBERABA, MG - BRASIL
2 comentários:
Sim, a sociedade civil tem que se organizar, temos que, como diria o meu amigo Evandro Vieira Ouriques, mestre e amigo, passar do desenvolvimento ao envolvimento, de todos e cada um. Por vezes custa-me acreditar de novo em que este envolvimento de todos e todas um dia chegará... eu já vivi nesse mundo, na cultura tradicional (hoje quase extinta na Europa) comunidades onde como bem diz Sumayra Oliveira a dignidade e solidariedade o viver coletivo... façam parte das nossas vidas... Agora somos conjuntos de pessoas a cada dia mais individuailizadas e mais sozinhas... Em efeito, o individuo é um ser social, sem essa dimensão ele vai ter dificulades em encontrar sentido a vida. Sempre grata pelas escolhas de saberes que partilhas. Abraço de carinho, Concha.
Concha, fico pensando que para este "envolvimento" urge incorporar dionísio das práticas sociais; elas necessitam ser vida-alegria, paixões alegres; assim, muitos haverão de estar...
Abraços com carinho; Jorge
Postar um comentário