quinta-feira, 19 de abril de 2012

DIÁRIO DE BORDO: DIGO, COMPANHEIROS...

                                   Jorge Bichuetti

Luto e quero algo escrever... Lá fora, o canto dos pássaros me contagiam e penso que nada que eu escreva irá traduzir a beleza da vida... Luinha dorme: sono de anjo. Minha pequena não me deixa de dar carinho e atenção, faz até de conta que não está louca para correr, saltar, vadiar... Do meu lado, seus olhinhos: meigos, cúmplices... A vida é uma longa caminhada... Palavras e silêncio; travessia e espera; lutas e sonhos... Ora, ela, a vida é um samba que ventila e nos dá asas... Ora, uma sinfonia de Tchaikovsky... meditação, recolhimento... tempo de germinação.
Como é belo mergulhar o coração nas dobras e desdobras do Bolero de Ravel... Ali, encontramos muito de nós que escapuliu, despercebido, pelo caminho...
As Cantatas de Bach são para mim OVNIs: traslado para algum recanto do infinito, miro e nos vejo pequenos... aí, não entendo por que não vivemos com a simplicidade dos pardais ou das pedrinhas miudinhas que são tesouros, lascas do infinito escondidas no singelo; tanto quando os anjos se travestem de bem-te-vi e borboletas...
Viver é um processo que pede coragem: teimosia, persistência, autosuperação... Assim, crescemos... Ou melhor, assim, desfrutamos da belezas do infinito que moram na nossa pequenez...
Somos, os humanos, um bicho muito complicado... Vivemos exigindo de si e dos outros perfeição...
Como é belo e grandiosa extrair potência da nossa própria humanidade!!!
Tento... nem sempre consigo, mas noto que uma bela fonte, uma sólida ponte... Entre nossa rotina cinzenta e o porvir, terra fértil dos nossos devires inovadores...
Idolatramos os super-heróis...
Mas, belo e grandioso mesmo é a vida... vida peregrina de experimentações e sonhos, esperanças e lutas... na arte trapezista de arriscar-se pelo novo, pelos encantos dos alvoreceres...
Com o peso do tempo, ando querendo menos: só queria amar com mais ternura e doação; conviver com amis generosidade e partilha... aprender no entre do diálogo, palavra e silêncio, um ver no não-ver e não-ver no ver... um estar vivendo, com a pele.
Contudo, nos limites do momento, pressinto que já devo parar... Então, serei honesto e entregarei meu diário a Mia Couto, para que ele, o grande escritor de Moçambique, possa nos dizer algo valioso e interessante:
- "quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho

e quando ficar sem mim

não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados

deixo

a paciência dos rios
a idade dos livros

mas não lego

mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça

por ora

basta-me o arco-íris

em que vos sonho

basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço

companheiros"

 

4 comentários:

Anônimo disse...

Nao parta, nem ficando!

paulo cecilio disse...

Você não vai partir, nem ficando!!!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Amigo, não ando com ideias de partid, ainda que me veja se caso partisse, ficando pouco... Há muito que viver, aprender, celebrar, desbravar... Filho da Lua guardo ainda muita sede de novas auroras... Meu carinho; jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Paulo Cecílio: ficarei... nas nuvenzinhas cercanas... da brisa; no bando de pardais que pios, sibilam a aurora... ficarei na luta, pó da estrada... pra ver sua poesia, pra ver sonhos no chão, florescentes... para ouvir histórias de amor e vida... compreensão e estalos estelares... Depois, partirei ja velhinho no vento sul... entre o piscar da estrela d'alva e os sinos: cheio de alegria de ter vivido, amado, caminhado... e principalmente, feitos amigos, Meu carinho eterno, jorge