Noite estrelada... Cheiro de Jasmim... Lua no céu entre miríades de estrelas cintilantes... Eu, aqui... entre o sereno e os álamos... Minha Luinha teima e me acompanha... Ela vê a vida e não se intimida: quer viver - cada momento, cada segundo...
Aspiro o ar da madrugada e penso: a vida é um silencioso movimento, um bailado de versos que moram no coração das coisas... O vento assobia uma cantiga de ninar; mas, o sono se foi... Ficaram os sonhos...
O silêncio da madrugada é casa de cheia de lembranças...
Recordo, pouco a pouco, as serestas do ontem; as poesias perdidas nos livros guardados no baú do tempo...
A vida nos ensina através das cantigas do silêncio...
A palavra fotografa a vida... roubando-lhe a beleza e a altivez do seu movimento...
A vida baila: na quietude, valsa... Nos atropelos da velocidade, samba...
Trapezista, valsa e samba nas trilhas das lutas cotidianas... como valsa e samba nos voos transversais dos sonhos...
Amiga da alegria, ela eca, acolhedora, tristezas e lágrimas...
Irmã da esperança, ela alvorece... Amanhece vida nova...
Há sempre na vida um clamor por mudanças: movimento criativo de novos caminhos, novos horizontes...
É a dança do vento no coração do tempo...
Não desanima... Resiste, insurge, rebela-se... tem ânsia do novo nas asas que nos permitem voar sobre abismos...
Os abismos aterrorizam... Os tememos...
Neles, moram os monstros da destrutividade...
No voo, a invenção criativa do novo: o devir, nossos eus não-paridos...
A fuligem da mesmice asfixia a vida... Nos entorpece; nos paralisa...
Mas, o mundo odeia o novo... ele se quer permanência, estabilidade, status quo...
O novo amplifica nossa capacidade de viver e existir..
Na escuridão, acende velas na imensidão e o céu estrelado fala do que pode o azul do horizonte...
Na aridez dos dias duros, é a poesia da água que nos esperam nos arbustos do sertão...
Viver é reinventar-se na coragem de desbravar no caminho o que pode a vida nos trinados da ternura e nos batuques da compaixão...
A melodia da vida é o salto... O salto vitalizante, o salto inovador...
A maior da vida é a nossa acomodação, covardia... servidão e indiferença... um stacato...
A vida se plenifica nas trincheiras da luta...
Luta pela vida, da vida, na vida... Um mergulho no infinito criando fontes e pontes; cais e ninhos... Um não à morte civil; um sim à vida de ousadia que experimenta o amor, a partilha... o riso e dança... a poesia e o sonho...
De braços cruzados, na ladeira da autodestrutividade... vegetamos hipnotizados pelos abismos.
Voando com as asas dos sonhos, potencializamos na esperança nossa capacidade de na vida parir o novo...
Um ir além, um ser mais...
"Felicidade se acha é em horinhas de descuido" - dizia Guimarães Rosa...
Deixemos, então, as margens do caminho... as bordas do abismo... Voemos e busquemos nas horinhas de descuido encontrar a felicidade, entre flores que brotam teimosas entre pedras... Afirmando que sempre podemos ir além, ser mais... parindo o novo no ventre germinativo do caminho...
2 comentários:
Oi Dr Jorge!
Tenho sido muito feliz nas minhas " horinhas de descuido "
Elas compoem o caminho do crescimento.
Te tenho sempre em pensamento, palavras e oração.
Obrigada para sempre.
Saudades!
Márcia, a caminhada nos leva a viver e sonhar com a audácia de desbravar na escuridão novos alvoreceres... Sigamos firmes com esperança e paz; abraços ternos. Jorge
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