segunda-feira, 23 de abril de 2012

DIÁRIO DE BORDO: MEUS PASSARINHOS. O CANTO DA VIDA...

                               Jorge Bichuetti

Acordei com os passarinhos... Cedo, antes do sol... O café quente me temperou, dando-me um pouco de realidade; pois, nos álamos e na roseira, no limoeiro e nos pássaros, tudo orvalhava vida, vida de sonhos permanentes... Como se o infinito não fora nada mais do que um azulado livro de poesias...
A vida canta... Há uma poesia em cada canto da vida... Há en-cantos...
A tristeza e o desalento são invenções humanas que teimam na sustentação da miséria e da tirania.
A revolução permanente é o canto da vida.
Tudo muda; move-se... voa e brilha...
O riso e a lágrima são pulsações do infinito que percutem nossa pele, germinando a dança da coragem e da ousadia... Já a depressão é o império da paralisia. Arame que nos cerca e cerceia... nos inibe nos mortifica... nos mergulha no pântano da desilusão... Então, sofremos... perdemos o canto da vida que é passos no caminho; luta... teimosia da aurora na sua louca mania de dourar as manhãs com sonhos azuis e cheiro de mato...
Se queremos saúde, precisamos de garantir no nosso mundo íntimo a sustentabilidade psíquica do sonhar e ser sonhável... Assim, ensina-nos Mia Couto, mestre africano...
O porvir só é um tempo depois do hoje, porque deixamos o mundo mergulhar o nosso agora no nevoeiro de cinzas da vida podada, ave de asas feridas nos redemoinhos da mesmice que para o vento... adormece o tempo... e invisibiliza os sonhos...
Se deixamos de sonhar, vegetamos... Já não voamos, engaiolados pelo medo...
Que fazer?... Construamos uma muralha de alegria, esperança e audácia... Livres, então, da paralisia, sigamos...
Andarilhos que pisam no horizonte dos sonhos busquemos hoje, agora, o amanhã... Aprendemos a amanhecer, sonhando... Aprendamos a sonhar, amanhecendo...
Para viver feliz, surfando nos ventos do amor, urge que saibamos exorcizar o tempo... Desgarrar-se do passado, reinventar o destino... Renascer a cada minuto, explorando nossa vida de multiplicidades... Singularizando-nos com a fortaleza de quem desapega-se do rebanho para ser um entre na ternura e na compaixão da caminhada... vida de humanidade...
Lá fora, a dor da opressão, da exploração e da mistificação perverte o mundo... e o torna mundo injusto, violento e banal...
Crua realidade que faz a vida tremer ante os espasmos de rebeldia e indignação do infinito que é a um só tempo: vida parideira e vida passarinheira, vida de amor...
Somente, a humanidade rebelada resgata nossa humanidade, nosso dignidade de filhos da imensidão...
Com o peso do corpo ferido, penso... e, me vejo sentindo na pele, e não mais só na razão lúcida: eu quero voar, brilhar, sonhar, amar... viver verdejante no broto novo das matas; azulíneo nos sonhos azuis do horizonte, vermelho nas paixões do luar, menino no brincar do vento, verso de poesia no céu estrelado que reflete no chão iluminando as gotas de lama... e abrindo clareiras e clarões nos caminhos da humanidade que se permite humanidade generosa e de partilha... uma andarilha no navegar das ondas do mar...
Aposentemos as chibatas... despertemos o desejo e a vontade de ir pelo caminho, amando e borboleteando... na aventura de parir-se novo... fazendo juntos um novo mundo, o mundo liberto, o mundo da magia e da poesia... o mundo da cidadania plena e da irrestrita solidariedade...


Um comentário:

paulo cecilio disse...

LENDO ESTE DIÁRIO DE BORDO, RECONHEÇO O TALENTO E A CORAGEM DE SEU CAPITÃO.