Seu texto é pleno de sentido e, não sei lá porque resolvi citar Dom Casmurro , na figura de Bento.
Bento passa sua vida, no romance, como um morto vivo, dissimulando suas ações.
Bento e a morte, entrando pela porta do imaginário, se torna sua companheira de todas as horas.
Mas, Bento guarda uma certa vocação hamletiana. Pois Hamlet de fato hesita.
Bento ingressa, como espectador, na cena da tragédia de Shakespeare. Enquanto assiste à representação do Otelo, ocupa-se em remoer os seus ciúmes e repassar os indícios da possível culpa de Capitu. E como não podia deixar de ser, o drama em si mesmo descreve diante dos olhos de Bento um contra-argumento chamando à razão, através do seu desfecho, seu espírito transtornado. Como em outros lugares, aqui também, a voz da razão exibe sua impotência.
Bento e a morte, entrando pela porta do imaginário, se torna sua companheira de todas as horas.
Mas, Bento guarda uma certa vocação hamletiana. Pois Hamlet de fato hesita.
Bento ingressa, como espectador, na cena da tragédia de Shakespeare. Enquanto assiste à representação do Otelo, ocupa-se em remoer os seus ciúmes e repassar os indícios da possível culpa de Capitu. E como não podia deixar de ser, o drama em si mesmo descreve diante dos olhos de Bento um contra-argumento chamando à razão, através do seu desfecho, seu espírito transtornado. Como em outros lugares, aqui também, a voz da razão exibe sua impotência.
A fantasia de ação de Bento, motivada pelo ciúme, apresenta caráter hiperbólico — não apenas matar, mas matar com uma morte absoluta: “era preciso sangue e fogo, um fogo intenso e vasto, que a consumisse de todo, e a reduzisse a pó, e o pó seria lançado ao vento, como eterna extinção...”. Será casual que esta ação extrema, cujo escopo paira para além de todo definido, tenha como contrapartida uma igualmente absoluta impotência para realizar?
O fato é que nos dramas de Shakespeare vemos as querelas dos motivos contrários, as decisões e a consumação dos atos. De atos que resultam, com freqüência shakespeariana, em morte.
O fato é que nos dramas de Shakespeare vemos as querelas dos motivos contrários, as decisões e a consumação dos atos. De atos que resultam, com freqüência shakespeariana, em morte.
Ao contrário, no Casmurro, a frase vai sempre além, muito além, como diria Marx, do conteúdo. A cada momento, é sob o signo de uma ação que se frustra ou trai, que caminha o desenrolar do novelo. Os exemplos estão lá quase que a cada página. É a reconstrução da casa da Glória; o desejo de escrever sobre jurisprudência, filosofia, política; o ensaio de suicídio... Mas porque?
São os atos adiados, interrompidos, desviados, recalcados, falhos, etc. De outro lado, um pequeno mas decisivo grupo de ações, completas e bem-sucedidas, tem o caráter de intermediadas. Ou seja: que não são operadas por Bento (seu presumido autor), mas por alguém que se interpõe entre ele e seus objetivos. Eis uma grande diferença com Shakespeare.
São os atos adiados, interrompidos, desviados, recalcados, falhos, etc. De outro lado, um pequeno mas decisivo grupo de ações, completas e bem-sucedidas, tem o caráter de intermediadas. Ou seja: que não são operadas por Bento (seu presumido autor), mas por alguém que se interpõe entre ele e seus objetivos. Eis uma grande diferença com Shakespeare.
Ao contrário do Hamlet, Bento não pode consumar a ação, uma vez que seus intentos se inscrevem no âmbito daquilo que ele chama de “meus impulsos que nunca chegavam à execução
Um outro traço de sua ação, vamos encontrar na intermediação. Assim, ao livrar-se do seminário, o faz deixando em seu lugar um intermediário; quando cursa advocacia em São Paulo, faz de Escobar o terceiro entre ele e Capitu; ao retornar ao Rio, é novamente Escobar que como seu intermediário, o encaixa numa banca de advocacia respeitada. Ele mesmo, a partir da promessa feita pela mãe, deveria estar no mundo como um intermediário, ou seja, como um padre, intermediário entre os homens e deus.
É por tudo isso que, desde a morte de Escobar, Bento se torna totalmente incapaz de ação, porque já não tem quem lhe sirva de terceiro. Isso fica explícito em seus tentames de promover imaginariamente outros intermediadores, como quando fantasia Otelo administrando uma morte absoluta a Capitu. Sem um intermediador concreto, o único que resta a fazer é atuar pela dissimulação,ou seja naquilo que resulta sempre em nada.
É claro que não estou fazendo apologia à morte ... talvez sim , da apatia .
Entusiasmei-me pela sua fala "Utopia é esperança e caminho, não é ilusão... O acontecimento não tem autoria, mas não emerge do expontaneísmo; frutifica-se e fertiliza nos múltiplos agenciamentos que alisam a vida e o torna possível."
Entusiasmei-me pela sua fala "Utopia é esperança e caminho, não é ilusão... O acontecimento não tem autoria, mas não emerge do expontaneísmo; frutifica-se e fertiliza nos múltiplos agenciamentos que alisam a vida e o torna possível."
"Assim, é preciso agir em vez de reagir"
18 comentários:
Texto muito bem construído...claro...intenso...um paralelo perfeito!
Parabéns meu amigo Adilson!
Beijos...com carinho...
Interessante analise... devemos lembrar sempre essas últimas e sábias palavras 'agir e não reagir' pois aquele que reage apenas obedece o mundo fora dele, aquele que age escolhe livremente... Agindo podemos seguir nosso próprio caminho, reagindo só o caminho que nos marcam... sim , agindo podemos, talvez ,acercar-nos o máximo possível da utopia... e mesmo que não a consigamos totalmente (morrer indo a caminho duma estrela não está nada mal..) Bom, parabéns! e saudações desde a Galiza. Concha Rousia.
r
MILA , NOSSO QUERIDO DILSON, CONSEGUIU NUMA ANÁLISE CLARA E PERSPICAZ NOS EMOCIONAR; COM A FORÇA MÁGICA DE UM POÉTICO SOBRE A VIDA E OS CAMINHOS DO EXISTIR. VAMOS AGIR... aBRAÇOS TERNOS, JORGE
Querida Concha, nossa amigo conseguiu percutir-=nose iluminou a estrada: necessitamos de assumir uma atitude ativa na vida.Sonhemos, então, tecendo no estradear nosso próprio porvir.
Abraços com ternura, Jorge
Jorge, obrigada por compartilhar escritos tão belos!Sim...vamos agir...sempre!
Abraços...com carinho...
Mila, vamos agir , rogando ao infinito que ampare a inspiração para que possamos agir e caminhar com o poetar do nosso querido amigo, abraços , jorge
...Concordo totalmente contigo Jorge, uma atitude ativa na vida é fundamental, inerente a ser-humanos... que vivem em sociedades a cada vez mas afastadas da natureza e a cada vez entendendo menos sobre a própria natureza de se ser-humanos... Agradeço o teu retorno, abraço para ti desde a Galiza.
Concha, daqui lhe envio nossos muitos abraços na alaegria do diálogo, fogo da partilha; com carinho, Jorge
Jorge e Adilson
"Agir e não reagir"... Acho que o agir é o caminhar após a ruptura não planejada que seguidamente nos esborracha no chão! Mas diria também que o reagir é uma ação provocada por rupturas.
Fico pensando nos meus tombos e que a minha reação foi a de levantar (mesmo que uma ação difícil) e agir no sentido de tomar um rumo na vida. Nem sempre isso é consciente. Vemos mais adiante no fluir do rio ou será a cachoeira :-) qual foi a ação... ou não...
Quero vinho... rsrsrsrs
bjos aos dois
Anne
Escritos profundos e muito bem desenvolvidos.
Amigo, vim te desejar uma semana de paz!
Um abraço!
Anne, sempre querida, expressas com exatidão o agir ativo na fortaleça e criatividade que emerge nos dias tranquios e na turbulências das derrotas e quedas; ambos, momentos que podemos usar, ousando reinvertar-se.
Abraços com carinho, pão e vinho, beijos, jorge
Wilson, sua visita carinhosa ilumina a semana com pa z e alegria; lhe desejo igualmente toda alegria e ternura num vida cheia de luz.Abraços carinhosos, jorge
Jorge, o Adilson é um manancial; verte poesia que nos impulsiona ao agir. Foi muito bom tê-lo encontrado na caminhada da vida. Abraço
Cauí, poesia e coração: flor celestial, estrela do amanhecer, assim, é o nosso amigo, Adilson.
Abraços com carinho, Jorge
Perfeita análise. Bento precisava matar Capitu na sua vida interior (psicológica) apenas, pois suas incertezas o impediam de agir e também porque este seria um ato contrário à sua crença na Igreja Católica. Ele apresentava uma visão paranoica, persecutória e fantasiosa em relação a Capitu e à sua suposta traição. A mulher(adúltera ou não, pois Machado de Assis nunca concedeu a Capitu uma fala de autodefesa) representava a culpa projetada que o dominava por ter quebrado a promessa de sua mãe. Seu corpo estava totalmente docilizado, geograficamente limitado, incapacitado para agir, considerando-se o contexto da época. Bento projeta em Escobar os agenciamentos libidinais que não conseguiu estabelecer com Capitu por causa dessa culpa, por ter trocado a fé por uma opção sexual, profana, carnal.Beijos
Tânia, sua análise é uma ressonância maravilhosa do potência da filosofia na dissecação dos emaranhados que nos inibe o existir... Abre-nos para ir além; e nos mostra que devemosoobervar onde estão as verdadeiras traves que nos cegam. Espero que tenha recebido meu email. Bh será maravilhoso e faremos grandes e arteiras invenções de vida e de alegria; Abraços com carinho, Jorge
Maravilha Jorge ... que bom quando uma divagação na escrite provoca ...reflexões ... obrigado meu companheiro
Adilson, seus escritos nos leva a pensamentos novos e a caminhos desbravadores da novo; és ternura e amizade numa sublime poética da solidariedade; Jorge.
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