quinta-feira, 19 de maio de 2011

BONS ENCONTROS: ESTÉTICA, SINGULARIDADE OU OPRESSÃO?... UMA CONTRIBUIÇÃO DE TÂNIA MARQUES

                                       ESTÉTICA FASCISTA
                                                                   Tânia Marques

A cada dia que passa, aumenta nos noticiários o número de informações sobre mulheres que morrem vítimas de cirurgias plásticas mal sucedidas (lipoaspiração, implante de silicone nos seios, nas nádegas, etc.). Observa-se que há algumas ideias fixas no imaginário coletivo, que assombram as mulheres em nossa sociedade: ser obrigatoriamente bonita, manter-se indiscutivelmente jovem e estar absolutamente magra. Essa é a sociedade que se alimenta, pela necessidade de produzir desejos consumistas, da vaidade humana no seu lado mais exterior, mais vazio possível, ignorando que os melhores prazeres são gratuitos: abraçar os filhos, os amigos, passear com ambos ou individualmente, curtir a vida em família, visitar as praças e os parques da cidade, tomar um chimarrão com alguém ou simplesmente caminhar na rua, acompanhado lado a lado por um colega, para trocarem ideias, relaxarem e se desligarem dos problemas.
Os anúncios publicitários estão em toda parte, apresentando mil fórmulas “milagrosas” e diferentes para atender a várias situações: regimes alimentares, celulite, estrias, pele manchada do sol, acne, firmeza dos seios, flacidez muscular, bronzeamento artificial, entre outras. O paradigma estético veiculado pela mídia escrita ou televisiva, em relação ao corpo das mulheres, desconsidera totalmente a herança genética do seu biotipo, disseminando entre todas elas, ou entre quase todas, um modelo estético culturalmente fascista do corpo. Em virtude disso, mais comum ainda é a morte frequente de meninas, jovens adolescentes, que, em decorrência de regimes alimentares sem nenhum controle nutricional e sem acompanhamento psicológico, acabam sucumbindo vítimas de anorexia ou bulimia, ou das duas doenças combinadas. Não que as pessoas em geral não devam cuidar de seus corpos, isso é saudável, praticar esportes é essencial à saúde física e mental. No entanto, o que está sendo questionado aqui é, sim, o uso abusivo de medicamentos tarja preta e de outras substâncias, comercializadas, vendidas livremente no mercado, principalmente para adolescentes ou mulheres adultas, muitas vezes, receitadas por amigos, vizinhos e parentes, não sendo específicos para a situação daquela pessoa. Isso poderá engendrar problemas graves de saúde, resultanto na hospitalização ou mesmo incidindo até na morte do paciente, conforme já foi dito.
Dessa forma, eu me faço as seguintes perguntas: Por que isso acontece? O que existe por trás dessa máquina social que cultua a imagem em detrimento da essência humana? Para que(m) ficar “magra”? O que significa ser “bonita”? As respostas são múltiplas e relativas, pois há uma paranoia narcisista dentro da cabeça da maioria das mulheres brasileiras, supostamente por questões subjetivas, ligadas à distorção da sua autoestima e  da sua autoimagem, e também pelas “verdades” difundidas pela mídia como sendo paradigma social de beleza, manipulando as vontades e as ações dos menos esclarecidos. Igualar-se às top models é, na maioria das vezes, a grande ambição feminina.
Também fico a imaginar o que se passa na cabeça de determinadas mulheres que não se aceitam como são, ou por apresentarem problemas de ordem psicológica ou, ainda, por que fazem parte da parte da Sociedade do Espetáculo, que, a cada minuto, promove uma nova celebridade ou aproxima seus membros, ditos “comuns”, a elas, tanto faz se por motivos fúteis ou negativos, é claro, do ponto do senso comum. O que importa é estar em evidência, sair do esconderijo através de uma falsa imagem. É o simulacro da vida, que alude para iludir, que satisfaz desejos falsificados em nome de realidades mentirosas. É a mulher que entende que ficará mais sensual para o seu marido ou namorado, fazendo uma transformação externa, quando, na verdade, toda a mudança deve vir de dentro para fora do ser humano, e sensualidade não se mede por centímetros de gordura. Segundo Leite (1995), “não vivemos a ditadura do corpo, mas seu contrário: um massacre da indústria e do comércio. Querem que sintamos culpa quando nossa silhueta fica um pouco mais gorda, não porque querem que sejamos mais saudáveis - mas porque, se não ficarmos angustiados, não faremos mais regimes, não compraremos mais produtos dietéticos, nem produtos de beleza, nem roupas e mais roupas. Precisam da nossa impotência, da nossa insegurança, da nossa angústia”. 
Então, a partir do que foi expresso anteriormente, o que fazer? Valorizar-se, essa é a palavra-chave, aceitando-se como ser humano integral, com valores singulares. Desobedeça a esse imperativo capitalista mortíforo, pois ele recheia de grana o bolso de muita gente que se nutre das ilusões alheias.

DO BLOG: wwwmarquiano.blogspot.com


2 comentários:

Tânia Marques disse...

Obrigada por divulgar minha ideias em teu blog. Pena não ter tido nenhum comentário até agora, será que os teus visitantes leram esse meu artigo? Beijos doces e muito abraços apertadíssimos.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, seus escritos me animam a pensar libertariamente... Quanto aos comentários, lhe conto algo: 31 de março fiz toda uma preparação, postagens fortes e sensíveis sobre a a ditadura, nenhum comentário... Fiquei sem entender, depois, me espantei a postagem havia passado outras e era uma das mais vistas nas estatísticas. É assim... temas mais porfundos, vão sendo lido no correr dos dias e aí vai se concretizando uma ideia legal: as pessoas querem questionar, pensar, embora, expressem menos do lêem... E o diálogo é muito interessante... Abraços com carinho, Jorge