Brilha o tema cura e libertação... e brilha por existirem, hoje, dores e lágrimas conjugadas com uma falência do modelo hegemónico de cuidado, o paradigma biológico-individual e a parafernália tecnocrática do hospital.
Sofremos e não nos sentimos acolhidos... A própria ideia de doença paralisa, gera impotência... Não nos subjetiva guerreiros, nos reduz a uma silenciosa passividade.
Já Canguilhen dizia da fertilidade de se ver na saúde e na doença modos de andar da vida...
Rotelli, pensando a saúde mental e a violência do hospício, sugere: a troca da noção de doença pela de sofrimento mental em conexão com o social e a de cura por emancipação...
Cura, emancipação, autonomia, libertação...
Liberdade é um atributo; mas libertação é processo, conquista, luta: movimento...
Então, perguntamos o que ativa no corpo-vida o movimento que liberta das dores, mazelas e limitações?...
Comecemos uma viagem e percorramos diversas paisagens, buscando estes agenciamentos de libertação, produção de vida remoçada, de devires , de cura...
Hoje, abordaremos dois agenciadores da libertação: Cristo e Nietzsche...
As curas do Cristo se vistas numa leitura para além do reducionismo religioso mostra-nos caminhos de agenciamentos de criativos movimentos de libertação. Estão na suas curas: a palavra e o diálogo; o encontro...
o toque, carinho e carícia, acolhimento físico e afetivo... a fé em sim mesmo, a busca das próprias potências... a mudança das repetições, bifurcações, devires... e está o agir e interagir, o trabalho, a caminhada...
Em Nietzsche, vemos o riso, a dança e a música... Para ele, eram os caminhos que nos libertavam dos nossos "demônios"...
Em Cristo e Nietzsche, emerge uma nova clínica...
Que clínica é esta?
Poderíamos ousar e dizer que uma clínica espinoziana: de bons encontros e paixões alegres...
Ou ainda, ousar mais e afirmar que é uma clínica-dispositivo: produção de subjetivações, livres e libertárias - um modo de existir e viver e uma ética, um cuidar de si com as janelas abertas para o horizonte do devir.
Caminhando um pouco mais, encontramos Guattari e sua leitura sobre Kafka, e não haveria porque não defini-la como uma clínica menor: desterritorialização da clínica maior - hegemônica, com invenção criativa de novos modos de cuidar, onde este alisamento geraria espaço para linhas de fuga; coletivizando a vida e o caminho e o tornando uma militância ativa pela afirmação da vida-libertação.
O Cristo terminaria dizendo que conjugou a festa das bodas, nela a alegria, as bem-aventuranças, nela a esperança-utopia e com um permanente amor, chamamento para a vida plenificada... Nietzsche diria que desvelou o que ativava no ser humano uma posição de desejo e uma vontade de potência, frutificando uma vida ativa, de busca destemida pelo "grande livramento"... Caminhos da libertação...
Ambos, revolucionam a ideia do cuidado e da cura... E transversalizam a relação entre os que cuidam e os que são cuidados...
Para eles, a libertação-cura mora na vida que se procria, se recria; o ser humano se desfaz e se refaz... Apolo na festa de de Dionísio; Dionísio alegrando a labuta das batalhas de Apolo... vida pela vida...
dia 14 de maio - sábado. encontro da universidade popular. horário: 13 horas . local: rua capitão domingos, 1079 ... participe...divulgue... construamos juntos uma educação em movimento nos caminhos da libertação.
4 comentários:
Interessante, também acredito que Cristo e Nietzche não deveriam ser conflitivos: compaixão e dança, uma síntese perfeita.
Grande abraço, meu amigo, parabéns pelo blog, pelos ideais, e muito obrigado pela visita e pelo comentário tecido à minha poesia.
Fernando, que alegria. Sua poesia é uma obra-prima. Sim, eles dialongando se intensificam... Pois, a ternura de um na radicalidade do amor com a intensidade da luta do outro nos dá dança-compaixão numa epopéica libert-ação.
Abraços com muita ternura. Jorge
Querido Jorge, mandei um e-mail pra vc ontem. Desculpa-me se eu fui chata. Beijão!
Tânia, acaba de chegar, agora, não sei o que passa... Alguns desviam, outros chegam atrasados... O técnico veio e disse que estava normal.Abraços com carinho; Jorge
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