Lua Cheia, céu claro... Noite de sombras , nascidas dos corpos que se acoplam nos desvãos da cidade. Vida de efervescência... Meus álamos, samambaias, roseiras e outras espécies tão nacionais, acordaram italianas: culpa de Fellini, suas cores e luminosidade. num profano universo prosaico, gentil e terno, na cotidianeidade retrata na câmera que flui sem dois mecanismos fascistas: fixação e exclusão... Acordamos Italianos... Amarcord... A Lua politizada pelos amigos da Upop-Ja dorme: ela sempre pode dormir o quanto quisesse; me dói o manifesto - Basta de Pai, sou autonomista!... Espaço para a ressaca!... Meus amigos, vejam o que sinto : ela é minha menina...
Fui agora respirar os perfumes do quintal, persistem cerrado, não se venderam para uma multinacional...
Acordo, feliz... Atrasado, mas feliz... Peço-lhes desculpas pelo atraso e pela lentidão das postagens: vingança da máquina, hoje ficarei nela todo dia... ela e meus discos, ela e minhas comidas, que um dia começa a dar-lhes as alquímicas receitas... Mas eu também dando como eles andaram na seta e no sábado: um apagão; só que apagão feliz e cheio de coisas pra contar, partilhar e coisas que gostaria de ouvir...
E a universidade Popular esteve tão madura na jovialidade criativa de se repensar e traçar novos rumos que para ela posto no meu diário, um kaikai de Galiza:, da poetiza, terapeuta e intelectual Concha Rousia:
A margarida
retém a cor do sol
a noite passa
retém a cor do sol
a noite passa
( Concha Rousia )
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Concha abre a manhã com este manifesto ( este sim, revolucionário)... Um haikai, um kaikai como se fora uma violeta do universo primaveril das poesias ou um pardal nos voos transcendentes dos versos...
A noite passa e as margaridas guardam o calor, o brilho, a luminosidade do sol... Atravessemos as noites carregando margaridas nos cabelos e nos jardins, com elas o sol... A noite só um tempo sem sol para os que não cultivam a ternura que guarda o brilho nos singelos passos que imprimem no caminho... elas seguem com a gente.
E nossa Concha veio para diário para ilustrar, com força vital, terra orvalhado no cio da criação, o que se concluiu vendo Fellini, numa coletividade de trinta pessoas numa sala aconchegante, mas pequena: havia tanta ternura - no filme, nos olhares, nos risos, nas pessoas , na vida...
.Assim, começo o dia, perguntando-me: o que pode a ternura/... Um devir margaridas com raios de sol conservados , latentes e pulsantes, num vigor que se renova, diariamente...
A ternura acolhe, suaviza, nos faz sentir contidos, amorosamente contidos - de continência e não de contenção - num espaço de carinho e amor.. Vitaliza, ressuscita, energiza... Dá e empresta forças... E a noite passa...
Queria lançar uma tese controversa para os diálogos: a paixão sem ternura, sem margaridas, tende a implosão; falta-lhe o docilidade do acolhimento, é química de diluição, ebulição, evaporação... A ternura retém os raios do sol...
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Ontem, era Lua Cheia, último sábado de lua cheia: dia do ritual do fogo no vilarejo bucólico de Santa Maria, com suas cachoeiras, floras e faunas do cerrado e o fogo que queima ou não queima os desejos nele jogados... Magia, alquimia, mundo surreal... Aqui, ficamos, certos que estávamos perdendo um acontecimento; mas também acontecia a potência da amizade na Upop-Ja que teimava, carinhosamente, em não gastar energias com a palavra adeus... Seguimos a Lua Cheia girando no céu, junto das roseiras e do álamos, como se elas , junto com a Lua, lecionassem sobre o valor da paixão na sustentabilidade de um projeto que nasce e caminha movido pelos ventos dos sonhos..
Há que haver ternura na paixão; e que bom se na ternura nos permitisse os inebriantes voos da paixão...
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Antes do Encontro, recebemos de Gregorio Kasi, que dizia que não existia nos projetos instituintes: menor e maior, acima e abaixo, que éramos irmãos da-na caminhada... Ena lembrança das Madres, lutadoras indomáveis dos direitos humanos, gostaria de aqui deixar anotado, nesta semanas de lutas e percalços, com um sábado glorioso, de um novo momento iluminada da nossa pequena Upop-JA: uma homenagem para a fonte inspiradora, As Mães da Praça de Maio:, passando a palavra à educadora Tânia Marques, uma deusa das utopias, uma guerreira das mudanças no cotidiano e na vida:
"Vivas a luta dessas mães, que perderam seus filhos ficando com seus corações dilacerados, ficando órfãs por causa do sonho de liberdade de seus filhos. Moléculas unidas com potencial guerreiro." Tânia Marques
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Hoje, o diário correu por linha, encontros... Upop, para dizer, tão somente> a vida é a beleza da poesia dos sonhos que nos levam para os voos da aurora na construção ativa do porvir...
6 comentários:
Obrigada pela referência. Adorei tudo o que escreveste, gostei demais do Haikai da Concha. Poetiza encantada, diz muito com poucas palavras. Poesia não precisa de explicação, por isso, nós, poetas e poetizas, não precisamos de explicação. Poesia é prazer que tece a pele, aquece os corpos, tritura infernos para liberar o caldo da paixão! Bjs. Tânia
Tãnia, a poesia tem me dado muita alegria. Sinto-me com pontes para a vida... Abraços com imenso carinho,Jorge
ERRATA: Poetisa e não poetiza!
Tânia é a língua com seus fonemas e melodia. Eu gosto do do z, de zoon, de zumbido, de zumbi... Abraços com imensa ternura, Jorge
...e eu gosto da rebeldia do Jorge... e por cima eu adoro 'Z' na galiZa levamos muitos anos para conquista esse 'z' de Galiza... rs, sempre um praZer andar por aqui entre teus rios de palavras, oxalá eu fosse ave, fosse mais rápida e pudesse voar com meus olhos por tudo que escreves... adoro te ler, abraços desde um cantinho com margaridas... Concha
Concha, vamos nos rebelando e nos expandindo com sonhos , alegrias e vida.
Abraços com ternura, Jorge
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