Jorge Bichuetti
O vento da madrugada acordou meus sonhos; e, assim, despertei-me... Encantado, via o bailado dos álamos como se ali houvesse um palco iluminado e os verdes bailarinos se movessem aos sons dos aplausos do infinito.
... Uma única roseira perfuma todo o meu quintal; sim, ele não é grande, mas ali há incontáveis universos, vidas e prosas.
A minha Lua anda serena e amorosa, sente a fragilidade dos dias... Dias de luta, resistência e criatividade à revelia do corpo que lentificado pelos anos pede descanso. Seguimos, ela me anima e me conduz.
Nada lhe passa desapercebido, perspicaz, tudo vê, Observa e anota, depois, se revela lembrança viva: vigia os ruídos da noite, escuta canções e dá carinho quando um sustenido sai distraído do meu peito...
O esquecimento é uma sombra que ronda os caminhos do nosso tempo.
Andamos no imediadismo, mergulhados no agora...
Contudo, "O passado não só não morreu como ainda não passou."
Construímos nosso dia-a-dia sobre os escombros vivos do passado que persiste, insiste, sobrevive...
A vida se desnuda nos mapas que a cartografam e neles a vemos linhas e fluxos diversos, rizomatizados, o intempestivo e o acontecimento, a prosa e o verso, o reverso, o avesso, as coisas, coisas que me agenciam e me atravessam, as coisas do mundo, dos diversos universos que se interpenetram e se acoplam nas travessias do destino. A geografia desnuda a vida; porém, o movimento da vida só se revela quando escutamos nas vozes silenciosas do tempoa histórias das coisas, coisas diversas que se misturam e se rejeitam, se compõem e se decompõem... Movem-se...Amor e ódio; alegria e tristeza; quietude e movimento; tirania e insurgência; nos paradoxos , a contradição.Nos paradoxos, a divergência dos contrários lutam e da sua tensão emerge alisamentos que permitem a irrupção dos acontecimentos. E o movimento permanente é a própria vida.
O movimento é caminho do novo e da mudança. Queríamos a paralisia num eteno agora, pois, medrosos nos assustamos com a novidade, com o novo e com a mudança. Eternizamos, muitas vezes, uma vida já moribunda, nauseante...
Não se adquire inteireza, evitando o passado que persiste e o futuro ( porvir e devir) que se aproxima e seduz, desejando presentiificar-se...
Nossa dificuldade de seguir a vida no seu movimento de permante impermanência nos leva âs cristalizações da individualidade de dos coletivos que aparecem no sofrimento mental e nas anomias sociais.
Nem um nem outro são funcionalidade; são funções estagnantes, forças destrutivas da acomodação, apatia e repetição.
Lá fora, o maio... Cada dia é singular. Cada vida é única... Não podemos eternizar nosso medo dos desejos e sonhos.
Nem conseguiremos paz e alegria, suprimindo o passado e futuro...
Viemos e vamos... Somos travessia. Nem começo nem fim, a vida eclode no meio...
segunda-feira, 2 de maio de 2011
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