DIÁRIO DE BORDO: ALVORADA PASSARINHEIRA...

                           Jorge Bichuettti

Céu nublado; orvalho acolhedor com a terra lançando no ar o cheiro da vida, alegria fértil na esperança da terra molhada... os passarinhos cantam e trinam melodias alegres e cheias de vitalidade, como se eles estivessem convocando todos para sentir e viver a alegria e beleza das folhas verdes e das flores coloridas com tonalidades que dão inveja a Di Cavalcanti...Tudo clama por alegria e festa, aconchego e esperança... A luinha ali queria ficar: respirando o ar puro e úmido... ouvindo as canções do tempo.

Fui notando o desaparecimento gradativo das minhas dores... Meu corpo, pouco a pouco, foi se contagiando com festa matinal dos passarinhos...

Nós, quase sempre amanhecemos com o coração já turvado de preocupações e tensões... Não cantamos, não celebramos o recomeçar de um novo dia...

Já, de imediato, iniciamos a lista dos deveres e necessidades do dia... Antecipamos as preocupações, os problemas... Mergulhamos no stress cotidiano, e mecanicamente passamos a correr agitados com medo de perder o tempo... O tempo útil, o tempo das nossa obrigações tediosas e angustiantes...

Assim, amanhecemos cansados... Com preguiça, rabugentos...

Eles, os passarinhos, amanhecem... cantando, festeiros, cheios de vida...

Celebram o momento presente... 

Nosso modo racional de viver nos torna amargos: estamos sempre ruminando tristezas passadas e preocupações futuras...

Não aprendemos a desfrutar do instante... da situação vivida no presente... Despejamos sobre o presente o lixo mental das nossa s dores e cicatrizes passadas... e dele, fugimos situando nossa mente nos deveres, obrigações aborrecimentos e problemas que antecipamos... 

Assim, vivemos... Assim, adoecemos... Assim, pesa-nos os ombros com cruz da amargura... E nem percebemos que estamos renegando as asas da suavidade, da leveza e da alegria...

Nossas alegrias? sempre as projetamos numa falta... numa carência... nunca a exploramos na abundância da vida verdejante e de cantoria que alvorece nos oferecendo energias de refazimento... de reinvenção do humor e da estado íntimo...

Asfixiados, tensos... carregamos o dia com dificuldade e grande desgaste...

Pura imbecilidade. A alvorada é passarinheira...

Os passarinhos cantam... voam... rodopiam no ar... de galho em galho, passeiam pelas árvores e se encantam na magia das flores... Serenos e leves... saúdam o novo dia....

Urge que aprendamos a recomeçar... vivendo o novo dia com a mente e o coração abertos à vida que se reinventa e se refaz... luminosa, azul... cheia de vigor e viço... pronta para ser moldada como caminho e sonho de alegria e paz...