Andei pelo quintal... eu e Luinha.... Ela , hoje, madrugou... Creio que esperava o sol... Mas, só encontramos a friagem do orvalho matinal, o cheiro da terra molhada, o vento lento e suave... Os álamos numa quietude zen budista... A roseira cheirosa... porém, desejando permanecer nos sonhos que as faziam estrelas do infinito, num tempo de suavidade quando já não existe distância, nem adeuses...
As badaladas dos sinos... cantavam alegres o hino do amanhecer... os passarinhos com seus pios e gorjeios trinavam a sinfonia da vida que nunca para, vida-andarilha...Ciganeando pelas trilhas do destino no ventre da imensidão...
Havia uma quietude no ar... Nuvens escuras e densas anunciavam proféticas a chuva.... chuva mansa, chuva que se dá... fertilizando a vida.
Quase nunca, recordamos que podemos fertilizar o caminho, o outro, o mundo...
Lamuriamos... Esperamos passivos que o outro e o mundo nos ofereçam o que necessitamos...
Nos esquecemos que podemos fecundar, agenciar, afetar a vida e o mundo, fazendo-os girar no bailado da ternura e do amor... da alegria e da paz....
E a nossa passividade nos aprisiona nos redemoinhos da submissão e da apatia...
Somos tecelões: podemos tecer caminhos e sonhos, fecundando o coração da vida com os germes da vida nova, da mudança radical, da reinvenção do destino...
O que pode um corpo?...
Podemos muito... Se exercemos nossa vontade de potência, damos caminhos e horizontes para os desejos que dormitam nos recantos dos nossos corações.
Refletindo, me percebo entre a preguiça inoperante e as tarefas que redesenham na vida o horizonte da humanidade...
Sempre sabemos o que queremos receber e ganhar; quase nunca perguntamos sobre o que podemos doar, partilhar... fecundar...
Podemos fecundar paisagens de esperança entoando o nosso canto de alegria...
Podemos fecundar as florescências da paz, poetizando nossas sementeiras de ternura e solidariedade...
Podemos...
O outro segue carregando o que lhe legamos, como seguimos afetados pelo que recolhemos do caminho...
Viver é recomeçar... Mas, sempre é um con-viver... tanto das repetições da crueldade e da exclusão quando na inovação do amor includente e guerreiro...
Todos os dias, sem que percebamos, somos sementes e sementeiras... terra fértil ou deserto...
E se o mundo agoniza... agoniza na tirania do individualismo, do desamor e da violência... agoniza na destruição das matas verdejantes e dos povos desvalidos... Agoniza na cruz, no martírio... do poder opressivo... da solidão desesperadora... da indigência existencial...
Façamos algo... Lutemos, amemos... fecundemos a vida e o tempo com nossa alegria e ternura, solidariedade e amor... e, assim, o cinzento cederá à beleza do arco-íris e das auroras encantadas...
Na escuridão, acendamos uma vela...
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