quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: A ROSA DO ROSA

                                            Jorge Bichuetti

O canto dos passarinhos alvoreceram com encanto e magia: alegria nova... O quintal, pequeno e singelo, me pareceu ser um canto mágico do infinito...  Minha dores e minha respiração passaram a funcionar sem atropelos. Havia paz na aurora... As rosas multiplicaram-se e sentindo o seu perfume, lembrei-me das Rosas do Rosa... Mineiridade: doçura no prosear e nas quitandas... Na roda e na beleza dos que fazem das Geraes, com suas vidas, um diálogo vivo entre o barraco e o surrealismo, entre o as trilhas do devir de Deleuze -Guattari e os voos inovadores do existencialismo de Sartre, do marxismo revolucionário e dos intempestivos anarquistas...
Todos, num criativo existir que acabam transformando a Santa Ceia num grande festejo com violas, acordeões, tambores e muita poesia...
Luinha ama as rosas... porém, teme os espinhos. Eu a pego no colo e a deixo contemplar um pouco a beleza do roseiral florido...
Somos um roseiral florido... Guimarães Rosa semeou... Agora, o jardim anda repleto de flores, ervas e encantamentos...
De Dona Beja à Sinhã Olímpia, somos todos a alegria convocada...
Ousaria dizer que para a minha grande valorosa Mestre Patrícia Ayer: as Geraes é a luta permanente de u'a terra para voar e alcançar Espinoza, estrela nas montanhas das Geraes... vivendo seu encantamento nos riachos e cachoeiras... e o esforço dionísico e apolíneo de Espinoza para assombrar, com alegria e liberdade, um povo... Um encontro alegre no meio do caminho...
De Milton Nascimento à Marcelo Taynara, junto com As Cordas do Cerrado, vive-se a musicalidade terna e suave dos que guerreiam... Com o eco do Candombe da Serra do Cipó... Serestas, rodas de viola... Catira e cirandas impregnam as Geraes com sonhos que dão melodia e suavidade ao caminho...
Como me ajuda viver, lendo e ecoando na pele Guimarães Rosa: para mim, é uma luta diária...
Que lições são estas que geram e germinam tanta vida?...
Escuto como se Ele estivesse no canto dos passarinhos: " O diabo não existe. Se existe, existe homem humano. Travessia."
Ser travessia é ser andarilho, mutante, metamorfoseante... Passagem, ponte... Um ser que se desfaz, se faz, se refaz no caminho... Um inacabamento que nos permite ir aprendendo a ser outro... um além...  um projeto de permanente mudanças...
E a vida se dá no próprio caminhar:
- "O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem"
- "O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando."
As Rosas que florescem no e com o Rosa redimensionam a nossa existência...
Produz um enternecimento no olhar e no agir... Ternura viva florescendo no caminho das nossas lutas cotidianas...
Nos liberta de viver mergulhados nos absolutos que reforçam um olhar e um agir marcado pela culpa e pelo ressentimento... Estimula um existir onde a vida pulsa e brilha na sua possibilidade de mudar, parir-se novidade... Desbravar horizontes, catar estrelas no chão e no céu...
Ele anula os pontos finais e nos chama para vivenciar as diversas linhas do existir: " viver é etecétera"...
Podemos nos reinventar e reinventar o mundo...
Então, a vida torna-se vida passarinheira... Com voos e ninhos; cantos e magias... Uma encruzilhada, nela, o redemoinho... Mas, nela, igualmente a poesia criativa da doçura e ternura, afabilidade meiguice que nos dá a coragem de ser valentes na alegria e no amor... Rocha que resiste; folha que baila no vento... entre a generosidade e a solidariedade que nos tece tribo... onde a serventia supera o brilho falso do poder....

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