Acordo, logo, após, um café que esquenta a alma e dá cheiro de vida nos sonhos... caminho e entro no quintal, como se ele fosse o corpo amado entre a volúpia do desejo e o êxtase da fé... A roseira se mostra... necessita de um boa poda.... gosta de florir... é moça na faceirice terna dos encantos amorosas... escuto dos álamos que a chuva lhes encantam... embora, tenham no vento o amigo de diálogo diário... Colho limões e romãs.... Aos poucos, o tempo nublado me deixa nostálgico e um pouco melancólico... O quintal que era até então, somente, o receptáculo, ventre, espaço... grita e me conta da beleza e grandeza que há na vida em movimento...
Diz: a vida baila, brilha e sonha... Possui melodias e poesias... Joga nas lutas do alvorecer...
Por alguns instantes, temo a loucura... Depois, sentindo na pele a vida na serenidade e alegria do meu pequeno quintal... reflito, penso: por que vivemos alienados da natureza e mergulhado nas ilusões passageiras do mercado?...
A servidão... o ser acomodado e submisso... com conflitos de baixa estima e autoflagelação... nasce da mundaneidade que nos coisifica e transforma tudo, inclusive a mãe natureza, em mercadorias... Tira-nos o horizonte... Nos encaixota nos labirintos asfixiantes do fatalismo e da apatia...
Perdemos a capacidade de escutar o canto da vida...
Ouvimos as teorias e o as ideologias que justificam e formatam as relações de opressão, exploração e mistificação...
Não sendo tocados, nossa pele se endurece e se conforma num meio de inibir as trocas afetivas e vitais...
Assim, hoje, somos empobrecidos na nossa capacidade de resistir, trocar, amar e viver...
Somos o individualismo coisificado e coisificante... somos a solidão de um passarinho lançado num pântano sem suas asas...
Não bailamos...
Não brilhamos...
Não sonhamos...
Cremos que nossa força é a brutalidade, o aniquilamento do outro e a aquisição das ilusões que o mercado vende como fonte de poder e felicidade...
Urge que resgatemos nossa humanidade: vida que baila, brilha e sonha...
Vida que revigora, se reinventa e desbrava horizontes como vidas que se afetam e afetam, parindo grupos, coletivos... a ternura e a suavidade da amizade...
Vida em movimento...Interno e externo; nas dobras... nos entres...
Vida que sente, pensa e posiciona-se diante do mundo... e, assim, vida que sabe-se potência de transformação... Na intimidade e no terreno público... Nas inter-subjetividades e na política que é o poder capilarizado nos microfascismos que não nos impulsiona para a cidadania e para a justiça social, para a paz e o amor... nos impulsiona para o medo, para a insegurança e para a competição bélica...
Nos subjetiva passivos e moribundos... ainda que vestidos com a roupagem das marionetes que assumem o lugar da vitória, no palco da tristeza e da angústia coletivas...
Romper com os processos de de coisificação e supressão da nossa humanidade, é ganhar asas para saltar sobre os abismos e vislumbrar no horizonte um novo mundo: novas alegrias, novas cantorias... a vida que baila, brilha e sonha pulsando na nossa pele...
Isto é uma resgate visceral dos surrealistas que diziam que necessitamos tomar o céu de assalto...
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