A MULTIDÃO
Jorge Bichuetti
Ando só na multidão...
Anônimo e invisível,
passo pelos que passam
nas ruas e nos becos, eu, ali,
esperando o brilho do olhar,
o calor terno de u'a mão,
a palavra suave e aconchegante...
Mas, não... a multidão segue
atropelando meus sonhos;
lépida e voraz, ela ponteia
na face escura do tempo,
um tempo de espessa solidão...
Ah! como dói... recordar a rua deserta;
porém, ávida e prenha de loucuras e paixão...
Antes o mundo era a alegria
de u'a festa de São João...
O prosear sossegado no sol poente;
e, em cada encontro, um aperto de mãos...
Ando só na multidão...
Ou será a multidão u'a miragem,
um simulacro da humanidade no espetáculo
da vida, longe da vida,
da vida de zumbis e sonâmbulos, robôs
que se vestem de silêncio e de cinzas,
para ocultar a pele marcada pelas chagas,
pelas purulentas feridas da desilusão?...
Como era belo a vida
que sorria e chorava,
sonhava e se perdia
nas travessuras indomáveis
da vida que nascia dos tresloucados ditames
dados pela insensatez terna e suave das flores
brotadas nos corações enluarados e loucos,
todavia, vida que era poesia,
alheia à matemática dos viezes opressivos
da universal e gloriosa razão...
Ah! como falta gente no rebanho
automatizado na vida das multidões!!!...
A VIDA NA CONTRAMÃO
Jorge Bichuetti
Não quero mais... o mundo
de fantoches encarnados, eu
buscarei a poesia, loucura de menino,
que vê Deus e todo o céu... a glória e a alegria,
correndo, buscando pegar
o vagalume que reluz,
enfeitando de magia o terror da escuridão...
Eu quero... mais estrelas
no meu singelo roseiral...
A vida é argila e nuvens:
vemos e construímos
tudo ou nada... nela, se matamos a fantasia,
sepultamos a magia, o sonho e a alegria
de fazê-la com as mãos,
moldando um arco-íris
no teto sombrio e cru
que sobre as nossas cabeças
chuvisca, o belo e o impensável,
se ousamos sonhar... brincar...
sem medo de invadir as terras onde mora
a solidão dos deuses...
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