Para que o FSM se integre na construção do outro mundo possível
Emir Sader
Onze anos depois da sua primeira versão, o Forum Social Mundial volta a seu berço, Porto Alegre. Volta como Forum Social Temático, mas com todas as possibilidades de que daqui a um ano possa voltar a abrigar o Forum Social Mundial.
O mundo mudou desde então – e como? A avaliação do FSM não deve ser feita a partir de si mesma, mas da capacidade de responder aos desafios que as transformações do mundo impõem desde seu início.
O FSM foi organizado como reflexo das lutas de resistência ao neoliberalismo, que teve na década de 90 seu auge. Constituiu-se inicialmente no grande espaço que reunia a todos os que se opunham ao neoliberalismo, sob o lema da construção do “Outro mundo possível”. Porém, não soube transformar-se para se adequar aos novos tempos – tempos de construção de alternativas ao neoliberalismo e tempos de guerras imperiais.
A aparição do FSM já se deu entre a eleição do primeiro governo antineoliberal na America Latina – o de Hugo Chavez, em 1998 – e os atentados nos EUA – no mesmo ano de 2001. Esses dois acontecimentos, que poderiam ampliar a ação do FSM, acabaram definindo seus limites e revelando como o engessamento inicial imposto pelas ONGs que até hoje tem hegemonia no FSM, tenham sido fatais para os destinos do Forum.
A definição inicial de exclusão dos partidos significava também a exclusão da política, dos Estados, do imperialismo, entre outros temas da esfera da política. A eleição de Hugo Chavez apenas dava inicio à serie de presidentes latino-americanos na mesma onda posneoliberal – o fenômeno mais importante da América Latina na década passada, assim como para a construção do “Outro mundo possível”, dado que no continente estão todos os governos que pretendem superar o modelo neoliberal.
Desconhecer essa virada foi fatal para o FSM, que se isolou diante dos mais importantes acontecimentos da década. Foi convocador fundamental das gigantescas manifestações contra a intervenção militar no Iraque, mas não fez balanço delas e menos ainda deu continuidade a elas, até porque temas como imperialismo guerra, etc.. estão inevitavelmente na órbita de Estados, da politica, em que o FSM se autolimitou para intervir.
Teve a presença de presidentes como Chavez, Lula, Evo, Lugo, Rafael Correa – mas os manteve em atividades paralelas, marginais. O FSM, sempre sob controle de ONGs, se automarginalizou assim dos processos reais para os quais tinha nascido.
De que forma é possível regulamentar a circulação do capital financeiro, sem Estado e governo? Como é possível garantir direitos que o neoliberalismo tinha expropriado, senão através de Estados e de governos? Como é possível superar o Estado mínimo do neoliberalismo, sem Estados e governos? Em suma, o formato a que o FSM se condenou no começo, o levou ao engessamento e à incapacidade de acompanhar a evolução da luta pela superação do neoliberalismo. Para as ONGs pode ser bom que que o FSM seja apenas um lugar de troca de experiências, mas isso fez com que já exista uma nova geração de jovens – os indignados na Europa, os Ocupas nos EUA, na Inglaterra, os pinguins no Chile, os rebelados no mundo árabe – que nem sabe da existência do FSM.
O FSM hoje deveria ser um espaço para que os governos progressistas latino-americanos discutissem com os movimentos sociais dos diferentes países os problemas que tem enfrentado com óticas distintas, seja na Bolívia, no Equador, no Brasil, na Venezuela, no Uruguai, no Paraguai, para dar alguns exemplos. Mas para isso o FSM teria que mudar seu formato, incorporar todas as forças que estão construindo alternativas ao neoliberalismo e mudar a composição das suas direções, deixando para as ONGs um papel secundário e entregando para os movimentos sociais o protagonismo essencial.
Isto pode fazer com que o FSM ganhe, a partir do próximo ano, em Porto Alegre, o lugar que perdeu ao longo do tempo e possa ser o espaço contemporâneo de construção do outro mundo possível.
O mundo mudou desde então – e como? A avaliação do FSM não deve ser feita a partir de si mesma, mas da capacidade de responder aos desafios que as transformações do mundo impõem desde seu início.
O FSM foi organizado como reflexo das lutas de resistência ao neoliberalismo, que teve na década de 90 seu auge. Constituiu-se inicialmente no grande espaço que reunia a todos os que se opunham ao neoliberalismo, sob o lema da construção do “Outro mundo possível”. Porém, não soube transformar-se para se adequar aos novos tempos – tempos de construção de alternativas ao neoliberalismo e tempos de guerras imperiais.
A aparição do FSM já se deu entre a eleição do primeiro governo antineoliberal na America Latina – o de Hugo Chavez, em 1998 – e os atentados nos EUA – no mesmo ano de 2001. Esses dois acontecimentos, que poderiam ampliar a ação do FSM, acabaram definindo seus limites e revelando como o engessamento inicial imposto pelas ONGs que até hoje tem hegemonia no FSM, tenham sido fatais para os destinos do Forum.
A definição inicial de exclusão dos partidos significava também a exclusão da política, dos Estados, do imperialismo, entre outros temas da esfera da política. A eleição de Hugo Chavez apenas dava inicio à serie de presidentes latino-americanos na mesma onda posneoliberal – o fenômeno mais importante da América Latina na década passada, assim como para a construção do “Outro mundo possível”, dado que no continente estão todos os governos que pretendem superar o modelo neoliberal.
Desconhecer essa virada foi fatal para o FSM, que se isolou diante dos mais importantes acontecimentos da década. Foi convocador fundamental das gigantescas manifestações contra a intervenção militar no Iraque, mas não fez balanço delas e menos ainda deu continuidade a elas, até porque temas como imperialismo guerra, etc.. estão inevitavelmente na órbita de Estados, da politica, em que o FSM se autolimitou para intervir.
Teve a presença de presidentes como Chavez, Lula, Evo, Lugo, Rafael Correa – mas os manteve em atividades paralelas, marginais. O FSM, sempre sob controle de ONGs, se automarginalizou assim dos processos reais para os quais tinha nascido.
De que forma é possível regulamentar a circulação do capital financeiro, sem Estado e governo? Como é possível garantir direitos que o neoliberalismo tinha expropriado, senão através de Estados e de governos? Como é possível superar o Estado mínimo do neoliberalismo, sem Estados e governos? Em suma, o formato a que o FSM se condenou no começo, o levou ao engessamento e à incapacidade de acompanhar a evolução da luta pela superação do neoliberalismo. Para as ONGs pode ser bom que que o FSM seja apenas um lugar de troca de experiências, mas isso fez com que já exista uma nova geração de jovens – os indignados na Europa, os Ocupas nos EUA, na Inglaterra, os pinguins no Chile, os rebelados no mundo árabe – que nem sabe da existência do FSM.
O FSM hoje deveria ser um espaço para que os governos progressistas latino-americanos discutissem com os movimentos sociais dos diferentes países os problemas que tem enfrentado com óticas distintas, seja na Bolívia, no Equador, no Brasil, na Venezuela, no Uruguai, no Paraguai, para dar alguns exemplos. Mas para isso o FSM teria que mudar seu formato, incorporar todas as forças que estão construindo alternativas ao neoliberalismo e mudar a composição das suas direções, deixando para as ONGs um papel secundário e entregando para os movimentos sociais o protagonismo essencial.
Isto pode fazer com que o FSM ganhe, a partir do próximo ano, em Porto Alegre, o lugar que perdeu ao longo do tempo e possa ser o espaço contemporâneo de construção do outro mundo possível.
FONTE: CARTA MAIOR; o blog de Emir Sader
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